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    Diários inéditos de explorador ajudam a desvendar mistério

    SYLVIA COLOMBO
    DE BUENOS AIRES

    26/06/2017 02h00

    Divulgação
    O militar e explorador Percy Fawcett no Peru, em 1911
    O militar e explorador Percy Fawcett no Peru, em 1911

    No começo de "Z - A Cidade Perdida", o jornalista norte-americano David Grann avisa: "Não sou um explorador, nem um aventureiro. Não escalo montanhas nem sei caçar. Tenho pouco mais de um metro e setenta e quase quarenta anos de idade, com a linha da cintura em franco crescimento e cabelos pretos já rareando".

    Como se pode notar, não se trata da descrição de um super-herói, ao contrário do personagem que retrata em seu livro, que sai agora no Brasil pela Companhia das Letras. O explorador e cartógrafo britânico Percy Fawcett, nascido em Devon, em 1867, era alto, forte e tinha fama de destemido. Tinha ajudado a Royal Geographical Society a nada menos que mapear o mundo.

    Em 1925, partiu numa missão na qual estava determinado a descobrir a localização de uma cidade que teria sido a capital de uma grande civilização na Amazônia. Acompanhado de um de seus filhos e de um amigo deste, porém, Fawcett desapareceu na mata. O caso repercutiu mundialmente, e o mistério sobre como foram seus últimos dias moveu outros aventureiros a se embrenhar no mato atrás de seus rastros.

    Em "Z", Grann faz seu aporte ao caso. Apesar da desvantagem física, decide ir do Brooklyn, em Nova York, para o coração da floresta. Em entrevista à Folha, por telefone, de Nova York, Grann disse ver paralelos entre seu trabalho –como repórter da "New Yorker"– e o de Fawcett.

    "Tanto o jornalista quanto o explorador buscam o conhecimento, e podem chegar a níveis elevados de obsessão. Trabalhar numa reportagem envolve um desafio pessoal e intelectual. Certamente a busca pela história de Fawcett teve esse efeito em mim", conta.

    Antes de ir ao Brasil, Grann fez uma escala na Inglaterra, onde realizou uma leitura meticulosa das cartas e mapas de Fawcett. Trabalhou, também, com uma documentação pouco conhecida.

    "Fui visitar a neta de Fawcett, no País de Gales. Ela me perguntou se eu queria mesmo saber o que acontecera com o avô. Então me levou a um quarto, nos fundos de sua casa. Ali, de dentro de uma escrivaninha de madeira, tirou uns volumes empoeirados, eram diários de Fawcett referentes àquela viagem."

    Grann diz que encontrou várias dicas sobre sua vida, e também sobre sua morte, no sentido em que forneceram detalhes que depois cotejou com o relato oral de indígenas que encontrou na Amazônia.

    O jornalista conta que a leitura da correspondência de Fawcett com a mulher, e o posterior registro das buscas dela e do outro filho do casal para encontrá-lo o emocionou muito. "O desaparecimento de Fawcett os assombrou pelo resto da vida". Grann também disse ter se apoiado nos escritos do brasileiro Antonio Callado (1917-1997) sobre o Xingu.

    Mas foi numa conversa com os indígenas calapalo que crê ter chegado mais perto da verdade.

    "Eles compartilharam comigo uma história oral sobre o caso, que detalhava um encontro que seus antepassados tiveram com Fawcett. Acredito que seu relato tenha autenticidade porque contém detalhes, como o fato de mencionar que Fawcett carregava um gravador de som, algo que não era público, mas que eu sabia porque Fawcett havia mencionado isso numa carta à sua mulher", lembra.

    "De acordo com seu relato, Fawcett não teria dado bola para os avisos dos calapalos e insistiu em seguir por uma trilha onde eles lhe diziam que havia indígenas agressivos. A conclusão dos calapalos é de que Fawcett caiu numa emboscada e ali foi morto. Suspeito que foi isso que de fato ocorreu."

    Z: A Cidade Perdida
    David Grann
    l
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    Z, A CIDADE PERDIDA

    AUTOR David Grann

    TRADUÇÃO Claudio Carina

    EDITORA Companhia das Letras

    QUANTO R$ 62,90 (424 págs.)

    Edição impressa

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