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    CRÍTICA

    Filme sobre a Operação Lava Jato tropeça em clichês e exageros

    BERNARDO MELLO FRANCO
    COLUNISTA DA FOLHA

    29/08/2017 19h59

    Divulgação
    Marcelo Serrado (ao centro) interpreta juiz inspirado em Sérgio Moro em 'Polícia Federal - A Lei É para Todos
    Marcelo Serrado (ao centro) interpreta juiz inspirado em Sérgio Moro em 'A Lei É para Todos'

    POLÍCIA FEDERAL - A LEI É PARA TODOS (ruim)
    DIREÇÃO Marcelo Antunez
    PRODUÇÃO Brasil, 2017, 12 anos
    ELENCO Antonio Calloni, Flávia Alessandra, João Baldasserini, Marcelo Serrado, Ary Fontoura
    Veja salas e horários de exibição.

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    Ninguém esperava uma versão nacional de "Todos os Homens do Presidente". Mesmo assim, "Polícia Federal - A Lei é Para Todos" fica devendo, e muito, para uma produção que se propõe a recriar a maior operação anticorrupção do país.

    Com orçamento milionário e elenco de globais e ex-globais, o filme exagera no tom de exaltação da Operação Lava Jato.

    O resultado é uma trama maniqueísta, sem nuances, que, em vários momentos, se assemelha a uma peça de propaganda.

    Depois dos créditos iniciais, uma citação de Ruy Barbosa dá uma ideia do que vem a seguir: "De tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto".

    O roteiro não tem vergonha de nada: retrata investigadores como heróis quase infalíveis e recorre à caricatura para barrar qualquer empatia com os investigados.

    A produção assume um partido desde o título: o partido da polícia. A ação é comandada por um trio de delegados determinados a prender políticos corruptos e passar o país a limpo.

    O protagonismo dos homens de preto é tanto que os procuradores da força-tarefa e o juiz Sergio Moro, representado pelo galã Marcelo Serrado, ficam relegados a papéis secundários.

    O filme adota tratamento desigual até na apresentação dos personagens.

    Políticos e empreiteiros aparecem com nomes reais, como Lula e Marcelo Odebrecht. Os investigadores são protegidos por pseudônimos, embora alguns pareçam clones dos originais.

    Os diálogos patinam em clichês como "a corrupção chegou aqui com as primeiras caravelas" e "o sistema é feito para não funcionar".

    Os trechos que se salvam são os que contam como uma apuração corriqueira, com foco na ação de um doleiro, abriu caminho para a descoberta de um gigantesco esquema de corrupção na Petrobras.

    No entanto até nisso a produção tropeça na inverossimilhança. Numa passagem, policiais remexem papéis queimados numa churrasqueira e descobrem contas secretas na Suíça.

    Em outra, um delegado acorda no momento em que a presidente Dilma Rousseff anuncia, na TV, a nomeação de Lula para a Casa Civil.

    Como o fato ocorreu às 16h de uma quarta-feira, fica a suspeita de que alguém dormiu demais: o personagem ou o roteirista.

    O empenho em defender a Lava Jato de qualquer crítica deve empolgar os foliões do Morobloco, mas pode afastar um público mais moderado das salas de exibição.

    Num momento em que a Lava Jato cerca o governo Temer e atinge políticos de todos os grandes partidos, a ênfase nas acusações ao PT passa a impressão de que o filme resolveu contar apenas uma parte da história.

    Os produtores prometem ampliar o leque de vilões numa continuação. O problema será convencer os espectadores do primeiro episódio a retornarem ao cinema.

    O jornalista BERNARDO MELLO FRANCO viajou a convite da produção do filme.

    Assista ao trailer

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