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O escritor Ken Follett no castelo de Loch Leven, na Escócia |
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Ilustrada
Monday, 21-Apr-2025 20:38:08 -03Ken Follett lança livro sobre guerras religiosas e espionagem no século 16
MAURÍCIO MEIRELES
ENVIADO ESPECIAL A EDIMBURGO13/09/2017 02h00
Ken Follet, uma vez, descobriu que o mundo não fora feito em sete dias. Quem primeiro o ajudou a desacreditar nos dogmas religiosos foi o mais improvável dos profetas: James Bond.
Um dos grandes best-sellers mundiais, com mais de 160 milhões de exemplares vendido em 80 países, o autor britânico cresceu em uma família de "fanáticos religiosos" –membros de uma seita que não permitia ao autor ver TV ou ir ao cinema. Mas podia ler, por isso agarrou a imaginação com os dedos.
A liberdade veio aos 12 anos, nos livros do espião britânico, experiência que Follett vê hoje como um "arrebatamento". Descobriu ali uma filosofia de vida –embora, o autor registra, ele esteja casado há 33 anos, diferentemente do espião, que tem uma namorada em cada porto.
"Aqueles romances me mostraram uma alternativa à vida [que eu tinha com minha família]. A consciência das possibilidades da existência foi muito importante", diz Follett, hoje ateu, à Folha.
A vida juntou esses elementos improváveis –fanatismo e histórias de espionagem–, e Follett resolveu reuni-los em "Coluna de Fogo", seu novo romance, que teve seu lançamento mundial nesta terça-feira (12).
Com arco narrativo ambicioso e muitos personagens, uma das marcas do autor, o livro vai ao Reino Unido do século 16 –período sangrento em que muitos iam para a fogueira por causa da rivalidade entre católicos e protestantes.
O romance mostra a morte da rainha Maria Tudor, católica que tentou eliminar os protestantes, e a ascensão de Elizabeth 1ª, monarca protestante que pregava a convivência harmoniosa entre as religiões no reino.
A coroação gera a volta de Maria Stuart, rainha da Escócia, à Grã Bretanha, disposta a tomar o trono de Elizabeth –projeto que fracassa e faz Maria ser presa em um castelo e, depois, morta.
Como a nova dona do trono sofre a oposição de potências católicas pela Europa, o primeiro serviço secreto britânico é criado, com uma rede de espiões organizada para protegê-la –essa organização daria origem ao MI6, serviço de inteligência do Reino Unido.
O personagem principal Ned Willard, vai se tornar um desses espiões, depois de ter uma relação amorosa impedida pelos pais de sua pretendida, que suspeitam que a família dele seja protestante. O casal se vê em lados opostos do conflito fratricida.
Com o livro, Follett une não só dois temas de sua infância mas também os dois assuntos mais importantes de sua carreira literária: os romances históricos e as histórias de espionagem.
Follett tem contado, em suas obras, grandes episódios da história humana –mas pelos olhos da ficção. O que, porém, poderia um romancista oferecer de diferente do que faria um historiador?
"Num livro de história normal, você pode ler que o protestantismo crescia na França. Mas por que alguém rompe com o catolicismo e adotar uma religião ilegal? O que havia em seu coração?", indaga o autor.
"Mesmo as forças econômicas que movem fatos históricos têm sua dimensão na vida íntima. Num livro de história, você sabe que o preço do pão ficou alto. No romance, você vê o desespero do homem para alimentar sua família."
IMAGINAÇÃO
O livro, assim, torna-se um libelo a favor da tolerância religiosa. Não só esse livro, que trata do assunto, diga-se –mas qualquer um. Para Follett, o desenvolvimento da imaginação seria um antídoto contra o extremismo.
"Um romance mostra o mundo do ponto de vista de um personagem, alguém diferente de você. Uma vez que você faz isso na ficção, é possível fazê-lo também na vida real", afirma.
"Escrevi um livro para falar do século 16, mas estou consciente de que há ressonâncias nos dias de hoje, com o dogmatismo que leva à violência e à guerra."
Follett cita o livro "Os Anjos Bons da Nossa Natureza", do psicólogo e linguista americano Steven Pinker. A obra é uma tentativa de provar que a violência declinou ao longo da história da humanidade –e que, apesar do que parece, nós nunca fomos tão pacíficos quanto agora.
"Ele diz que os homens ficaram menos cruéis e situa o ponto de virada em algum momento no século 18. Um dos fatores que ele aponta é justamente a difusão dos romances. As pessoas passaram a ver a vida sob outros pontos de vista."
O escritor fez uma ampla pesquisa histórica sobre o período que retrata –não só em livros mas viajando aos locais onde a ação se desenrola. Passou por França, Espanha e Bélgica, além do Reino Unido.
A Folha o acompanhou em uma visita a Loch Leven, onde Maria Stuart foi mantida presa. "A pesquisa estimula a minha imaginação."
ENTRETENIMENTO
Como em outros livros de Follett, o estilo busca a invisibilidade –o autor quer que o leitor preste atenção à história, não à sua prosa. Ele diz que, jovem, admirava artistas que quebravam as regras. Mas, ao tentar escrever, viu não ser esse seu destino.
Coluna de Fogo Ken Follett Comprar "Percebi que já seria difícil o suficiente escrever algo que os outros quisessem ler. Perdi a ambição de ser vanguardista, sou um autor mainstream. Recebi o dom da imaginação, e não e o de mudar as regras. Escrevo um tipo de história que muitos escreveram antes de mim."
A televisão e o cinema não ameaçam a existência dos autores que, como ele, só querem contar histórias?
"A diferença entre ler um livro e ver sua versão cinematográfica, por exemplo, é a mesma de jogar futebol ou ver o futebol na TV. Além disso, a imaginação não tem limites de orçamento."
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COLUNA DE FOGO
AUTOR Ken Follett
TRADUÇÃO Fernanda Abreu
EDITORA Arqueiro
QUANTO R$ 59,90 (816 págs.)Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br
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