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    CRÍTICA

    Larry David aprovaria o final desta crítica de 'Curb Your Enthusiasm'

    ZECA CAMARGO
    COLUNISTA DA FOLHA

    02/10/2017 12h00

    Charles Sykes/Invision/AP
    Larry David durante o evento de estreia da nona temporada de 'Curb Your Enthusiasm
    Larry David durante o evento de estreia da nona temporada de 'Curb Your Enthusiasm'

    CURB YOUR ENTHUSIASM (muito bom)
    QUANDO HBO Brasil, em 6/10, às 22h

    *

    A gente espera tudo de Larry David -menos que uma estreia de uma nova temporada do seu genial "Curb Your Enthusiasm" tivesse cara de episódio final!

    Sabe quando você reúne todos os personagens de uma série numa só história? Pois é, estava todo mundo lá: Jeff, Cheryl, Ted, Richard, Leon - até "Seinfeld" (a série, não Jerry) fez uma ponta.

    Essa reunião de elenco deu um ar de requentado a esse retorno -o que pode ter sido só um descuido ou simplesmente Larry sendo Larry: a fim de te irritar.

    Foi assim nas últimas oito temporadas, quando aprendemos, a duras penas, a amar esse chato. Parte do fascínio de Larry David -ator, criador e... personagem- é ver sua autodestruição espontânea a cada episódio, sua ausência total de superego na interação com outras pessoas, criando situações embaraçosas em cascata.

    Cada encontro com um personagem conhecido, como aprendemos a esperar, é um convite ao desastre. Larry não consegue dizer nada melhor do que "nome horrível" para Cheryl na cerimônia de lançamento de uma campanha sua contra a mutilação genital feminina.

    Também é incapaz de mandar uma mensagem carinhosa ao amigo que perdeu seu pássaro de estimação -o periquito que supostamente falava "Seinfeld" toda vez que Larry entrava na casa de Richard.

    Quando nosso casmurro do século 21 visita seu agente, nos regozijamos ao ver que a lésbica para quem Larry se recusou a segurar a porta na hora de entrar no prédio era justamente a mulher que veio cortar o cabelo de Jeff -uma situação típica de "Curb" que você já sabe que vai ter desdobramentos desastrosos adiante, inclusive a sugestão (de Larry) de que a barbeira, prestes a casar com outra mulher com um visual menos andrógino, não entre de véu e grinalda na cerimônia... O que, por sua vez, faz com que Larry vá até a casa dela e se meta na briga do casal sobre quem vai usar o que no casamento -uma cena desesperadora, onde o simples fato de nosso protagonista ficar repetindo a palavra "entreaberta" ("ajar", em inglês) até a exaustão dá outro momento precioso da reestreia.

    Todas essas sequências, porém, são meras distrações de um argumento maior: um projeto que Larry finalmente terminou -uma "explicação" para os seis anos que "Curb" ficou fora do ar. É o roteiro de "Fatwa!", uma comédia musical sobre, sim, uma sentença de morte decretada por um aiatolá!

    Esse sim é o constrangimento maior do episódio -e as consequências disso, o melhor motivo para assistir à volta de "Curb" (liberada ontem nos Estados Unidos, e na HBO Brasil no próximo domingo). E se eu fosse o Larry David encerrava esse texto com um spoiler agora mesmo sobre a "fatwa" que o próprio aiatolá decreta contra Larry depois de ele esculachar o religioso ao vivo no "Jimmy Kimmel Live".

    Pronto - contei o final. Você pode não ter gostado, mas meu ídolo vai ficar orgulhoso: essa é a lei de Larry.

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