Bruna Valência/Divulgação | ||
Grupo Magiluth de teatro em cena da peça "Dinamarca", inspirada em 'Hamlet' |
-
-
Ilustrada
Friday, 29-Mar-2024 03:35:26 -03CRÍTICA
Peça inspirada em 'Hamlet' faz crítica escancarada às elites
MARIANA DELFINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA06/10/2017 01h00
DINAMARCA (muito bom)
QUANDO sex. e sáb., às 21h30, e dom., às 18h30, até 15/10
ONDE Sesc Belenzinho, rua Padre Adelino, 1000, tel. (11) 2076-9700
QUANTO R$ 6 a R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 18 anos*
Não é incomum no teatro brasileiro contemporâneo que o público receba dos atores um copinho de cachaça, uma xicrinha de café ou uns goles de vinho. É parte da "experiência"; em alguns casos, faz bastante sentido.
Em "Dinamarca", a tacinha de espumante distribuída pelo grupo Magiluth é um convite ardiloso. Ao aceitar a bebida, assume-se a cumplicidade em uma festa perversa.
A celebração está acontecendo no país que é o cenário de "Hamlet", inspiração para a peça, que é também um enclave alegórico que reúne a elite geopolítica –os países desenvolvidos "" e a social– a turma que está promovendo a balada.
Esses anfitriões são retratados em cenas eufóricas e descosidas, de grande vigor físico e ironia escancarada, combinação acertada da direção de Pedro Wagner. Estão lá a disposição permanente para a festa alienada, o elogio a um estilo de vida quase obsceno, a juventude mimada e seus pais compreensivos. O público ri, irmanado com os atores.
Estão lá também os abusos do pessoal "topzêra", em cenas que fazem a tacinha pesar na mão. Na nossa festa, uma menina pode acabar sendo violentada, uns moleques podem exagerar na brincadeira. Os convidados só observamos.
A dramaturgia de Giordano Castro, que é também o destaque do elenco neste nono trabalho do grupo pernambucano, propõe algumas cenas simbólicas de grande força, como uma dança tribal masculina cheia de músculos e suor, uma síntese da agressividade da elite patriarcal.
Também revê cenas do texto de Shakespeare, como a que inverte o sinal no confronto entre Hamlet e Gertrudes. Saem as acusações do príncipe melancólico, entra um esculacho da rainha no jovem mimado. O constrangimento reverbera na plateia, que devolve as taças em silêncio.
Mas já é tarde. Nós que conhecemos Shakespeare e por isso entendemos referências ao clássico; nós que falamos outros idiomas e por isso acompanhamos a sinopse da peça, apresentada em inglês, somos convidados vip, comprometidos com a festa dinamarquesa.
Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br
Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.brPublicidade -