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    crítica

    'Os Iniciados' opõe tensão amorosa e costume tribal na África do Sul

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    18/01/2018 20h31

    OS INICIADOS (regular)
    (the wound)
    DIREÇÃO John Trengove
    ELENCO Nakhane Touré, Bongile Mantsai, Niza Jay Ncoyini
    PRODUÇÃO África Do Sul, Alemanha, França, Holanda, 2017, 16 anos
    Veja salas e horários de exibição

    *

    Não é fácil aproximar-se de "Os Iniciados".

    Estamos na África do Sul, numa localidade onde se preserva antigo costume tribal de circuncidar jovens adolescentes como sinal de entrada na maturidade. Um grupo deles vai para a região de montanhas, acompanhados pelos chamados cuidadores, que se ocuparão seja da cicatrização da ferida deixada pela operação (feita meio a seca, na mata mesmo), seja da evolução pessoal dos rapazes.

    Entre esses garotos, um se mostra revoltado com o ritual e suas decorrências. Afinal, seu pai foi para Johanesburgo, ele cresceu na cidade grande, é hostilizado pelos demais iniciados que o veem como o riquinho da cidade etc.

    Entramos, então, no segundo capítulo. O jovem descobre que seu curador, Xolani, tem um relacionamento homossexual com Vija, outro curador. Vija, por sinal, leva vida dupla –é casado, inclusive– e vive a relação com Xolani de maneira angustiada e, não raro, contraditória.

    Estamos na melhor parte do filme, em que se desenvolvem as tensões entre os três personagens centrais; tensões não raro cruzadas.

    Veja o trailer de 'Os Iniciados'

    Veja o trailer de 'Os Iniciados'

    Mas é também ali que se desenvolve uma relação amorosa gay bem sensível: consegue não só filmar bem as relações sexuais (o que é raro), como trabalhar as tensões entre os dois homens: Xilani dependente de Vija, que por sua vez pretende manter sua opção oculta.

    Vamos então ao mais problemático: se já não é fácil penetrar nesse universo tribal tão particular, nessa permanência tradicional num país moderno (falo do costume de iniciação), esse esforço, digamos, etnológico, ainda é dificultado pela opção do diretor John Trengove de usar com frequência até abusiva uma câmera na mão trepidante até o ponto em que isso tende a se tornar irritante (ou um risco para a retina?).

    Entende-se que o terreno era instável, que as condições de produção não deviam ser as melhores, mas, caramba, a câmera fixa também é um recurso usável.

    É por aí que se notam os limites de "Os Iniciados", cuja virtude central está no tratamento adulto e sem afetações (a favor ou contra) da condição gay: é o que torna essa estreia do diretor sul-africano um evento promissor.

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