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    Galeria Raquel Arnaud abre temporada com exposições de Tomasello e Molder

    DE SÃO PAULO

    14/02/2012 17h14

    A galeria Raquel Arnaud (r. Fidalga, 125; tel. 0/xx/11/3083-6322; grátis) abre a temporada 2012 com duas exposições até 10 de março.

    O argentino Luis Tomasello, 97, mostra um mural e sete obras bidimensionais que inspiraram dois poemas de Julio Cortázar: "Um Elogio ao Três" e "Negro, o Dez".

    Já o português Jorge Molder manipula fotogramas de filmes como "O Ano Passado em Marienbad", de Alain Resnais, para fazer um "chamado à introspecção, à conversa muda", nas palavras de Fernando Paixão. O poeta escreveu um texto para a exposição. Leia abaixo.

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    Perguntas aos rostos

    por Fernando Paixão

    As fotografias por si mesmas nada narram, tão somente preservam aparências instantâneas. Ainda assim, transmitem elo com determinada situação, oferecem o click de uma aura recortada. Imagem entendida como fenda, intervalo diante do qual nos perguntamos sobre o antes e o depois.E a resposta em suspenso...

    Divulgação
    Trabalho sem título do português Jorge Molder em fotograma
    Trabalho sem título do português Jorge Molder em fotograma

    Jorge Molder é um fotógrafo que pensa a sua arte como forma de pergunta. Artista perguntador. Nesse sentido, pouco lhe interessa a realidade da qual partem os flagrantes, pois a exigência é de que se transformem em "imagos", recortes provocadores de interesse e dúvida. Atraído o observador para o que não se mostra, fica mantido o suspense.

    Chama atenção a atmosfera homogênea que permeia esta série, emoldurada propositadamente em "noir". Do espaço escuro emergem as pessoas e as formas, com ares de autonomia, mas tramadas num enredo que deixa marcas e sentimentos. Quase sempre percebidos em quietude, em estado de solidão, mesmo quando os personagens se encontram em movimento.

    Talvez por isso seja tão recorrente nestas fotografias a visitação ao rosto. Para além de ser uma fixação manifesta do artista, é um tradicional sinônimo de janela para o que se sente. Cabe ao fotógrafo ficar à espreita. Sobressai ainda o contraponto das mãos (por vezes manchadas de óleo) ao conjunto das faces, como se as primeiras cumprissem um papel perguntador frente às segundas. Contraste inquietante.

    Paira nesta exposição uma forte crença no silêncio interior como forma de conhecimento das gentes e das coisas. Torna-se mesmo condição essencial para desfrutar desse chamado à introspecção, à conversa muda. Que, inclusive, pede a renúncia ao mundo das palavras para entender o que se vê. Qualquer que seja a narrativa atada às imagens, Molder avisa desde o título: "Não Tem que Me Contar / Seja o que For".

    Eis um artista das perguntas, sem esperar pelas respostas.

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