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    Guerra acadêmica sobre a evolução da ética

    REINALDO JOSÉ LOPES
    EDITOR DE "CIÊNCIA E SAÚDE"

    24/06/2012 08h00

    Edward Osborne Wilson, 82, nunca foi um sujeito modesto, embora quase todos os que o conhecem façam questão de louvar a gentileza um tanto antiquada do biólogo, um dos derradeiros exemplares de "cavalheiro do Sul" dos EUA (ele nasceu no Alabama).

    Em livro que acaba de ser lançado, o pesquisador da Universidade Harvard --uma das maiores autoridades mundiais em formigas e "bicampeão" do Prêmio Pulitzer-- decidiu revisar sua própria (e grandiosa) explicação sobre as raízes da natureza humana.

    Em obras como "Sociobiology: The New Synthesis", de 1975, Wilson já explorava o foco da discórdia atual: por que, afinal, somos (ao menos de vez em quando) altruístas? Para ele, a explicação mais correta está na "seleção de grupo", ideia com fedor de heresia para uma parcela importante dos teóricos da evolução.

    Seus adversários enxergam a evolução como um jogo cujos protagonistas são indivíduos ou genes --jamais grupos. Essa também era a opinião dele em "Sociobiology". Agora, no entanto, Wilson discorda.

    "Indivíduos egoístas se saem melhor do que indivíduos altruístas. Mas grupos de altruístas vencem grupos de egoístas. Todo o resto é comentário", resume ele no recém-lançado "The Social Conquest of Earth" ["A Conquista Social da Terra", ed. Liveright, 297 págs.].

    De leitura agradável e clara, o livro foi escrito para divulgar as novas ideias do cientista para o grande público. A edição brasileira está prevista para o segundo semestre, pela Companhia das Letras, que ainda lançará, no ano que vem, "O Superorganismo - A Beleza, a Elegância e a Esquisitice das Sociedades dos Insetos".

    PARENTESCO

    Wilson ainda faz questão de cutucar outro vespeiro caro aos biólogos evolutivos: o conceito de seleção de parentesco.

    Grosso modo, ele pode ser descrito como a versão evolutiva do nepotismo. Ajuda a expressar como sacrifícios feitos em favor de parentes podem ser uma estratégia vencedora no jogo da evolução, mesmo quando o indivíduo que arrisca a sua vida nem chega a deixar descendentes diretos.

    Bobagem, diz Wilson: tanto comportamentos observados na natureza quanto modelos matemáticos --que supostamente mostrariam a importância da seleção de parentesco-- podem ser explicados de outras maneiras. Por exemplo, pelo conceito de seleção de grupo.

    A seleção de parentesco, escreve ele, é "uma construção matemática fantasma, impossível de ser expressa de maneira que faça algum sentido biológico realista."

    Para alguns, a briga põe mais coisas em jogo do que a ortodoxia da teoria evolutiva. Decidir a disputa também ajudaria a determinar se, afinal, o altruísmo puro, desinteressado, faz parte da nossa herança genética, ou não passa de um belo manto para o mais rasteiro favorecimento de parentes.

    "Isso é ciência com altas implicações existenciais", escreveu o neurocientista e divulgador científico Jonah Lehrer na revista americana "New Yorker".

    Dois anos atrás, ao apresentar uma prévia de suas teses em artigo publicado na revista científica "Nature", Wilson despertou tamanha ira que 130 dos mais renomados biólogos do mundo mandaram uma carta tentando refutá-lo. O debate continuou, com réplica e tréplica na "Nature" e na internet, e ainda não amainou de todo.

    "O Ed sempre teve um viés favorável à seleção de grupo, embora trate o tema de forma extremamente confusa. Nada mudou [na pesquisa sobre evolução] para justificar a ênfase que ele vem dando à ideia agora", diz Robert Trivers, pesquisador da Universidade Rutgers (EUA), um dos críticos mais ferrenhos da guinada.

    Outros, porém, saem em defesa de Wilson. "O que a gente está vendo é pura resistência paradigmática. Thomas Kuhn ia adorar presenciar isso", diz Charbel Niño El-Hani, do Laboratório de Ensino, Filosofia e História da Biologia da Universidade Federal da Bahia.

    Historiador da ciência americano, morto em 1996, Kuhn postulou que as grandes mudanças na ciência só acontecem aos trancos e barrancos, quando uma antiga visão de mundo (o tal paradigma) é suplantada por outro paradigma, inconciliável com o anterior.

    Para El-Hani, muitos dos que se opõem a reconhecer um possível papel relevante da seleção de grupo o fazem por mero conservadorismo: "Muita gente veio com a conversa de que o Wilson endoidou ou está gagá. São os filhos se sentindo traídos pelo Grande Pai".

    HAMILTON

    Expressão matemática bastante simples, a regra de Hamilton é considerada a base do pensamento quantitativo sobre seleção de parentesco. A álgebra é do britânico William Donald Hamilton (1936-2000), antigo aliado de Wilson e um dos biólogos evolutivos mais admirados do século 20.

    A expressão, C < r x B, diz que um comportamento altruísta valerá a pena desde que seu custo (C) seja menor que o benefício (B) multiplicado pelo grau de parentesco (r, do inglês "relatedness") entre os indivíduos envolvidos no ato altruísta.

    Se a conta parece um pouco abstrusa, podemos compreendê-la a partir de uma anedota, anterior ao trabalho de Hamilton e que acabou por inspirá-lo. Certa vez perguntaram ao também britânico John Burdon Sanderson (conhecido como "JBS") Haldane (1892-1964), outro gigante da biologia evolutiva, se ele seria capaz de dar a vida para salvar um irmão. Ele fez uma conta rápida e respondeu que seria capaz de se sacrificar alegremente não por um, mas por dois irmãos. Ou por oito primos, tanto fazia.

    Por trás da piada está o fato de que criaturas que se reproduzem por meio do sexo, como nós e a vasta maioria dos reinos animal e vegetal, possuem "fatias" genéticas de si mesmas espalhadas pelo genoma de seus parentes.

    Lembre-se de que seres humanos normais, por exemplo, possuem 23 pares (a palavra-chave aqui é "pares") de cromossomos, as estruturas enoveladas que abrigam o DNA. Um dos membros de cada par é legado pelo pai; o outro vem do genoma materno.

    Isso significa que, a cada geração, quando óvulos e espermatozoides são produzidos, ocorre uma nova divisão, meio a meio, do material genético que será passado para os filhos. Grosso modo, uma menina carrega 50% do genoma de sua mãe (a conta é a mesma para irmãos, desde que sejam filhos do mesmo pai e da mesma mãe), enquanto uma neta tem 25% do DNA de sua avó. Primos em primeiro grau compartilham entre si 12,5% de seu material genético, e por aí vai.

    Portanto --e adicionando uma dose de dramalhão mexicano à brincadeira de JBS--, só fará sentido usar o seu corpo como escudo para proteger o seu irmão dos disparos de um bandido caso você saiba de antemão que seu irmão terá, no futuro, quatro filhos ou mais. Isso porque "quatro sobrinhos" (25%+25%+25%+25%) = 100% "você".

    O DNA que caracteriza o seu organismo, em outras palavras, será mantido no grande caldeirão genético da nossa espécie graças ao seu ato heroico, ainda que você pereça sem deixar descendentes.

    Claro que esse é o cenário extremo, hollywoodiano, em que a seleção de parentesco poderia favorecer comportamentos altruístas. Nesses casos, o B (de "benefício") da regra de Hamilton é simples: garantir a sobrevivência de membros da família.

    Mas mesmo ações bem mais modestas, como tomar conta de um neto ou sobrinho quando a filha ou a irmã precisam ir para o trabalho, podem trazer uma contribuição pequena, mas não desprezível, para a aptidão geral da família """aptidão" entendida como a capacidade de sobreviver e deixar descendentes viáveis, a medida primordial do sucesso evolutivo.

    A formulação da regra de Hamilton, originalmente publicada em artigos no periódico científico "Journal of Theoretical Biology", em 1964, a princípio quase caiu no vazio. Wilson foi um dos poucos partidários de primeira hora.

    Em seu último livro, ele conta ter defendido Hamilton "diante de uma plateia em grande parte hostil", num encontro da Real Sociedade Entomológica de Londres, em 1965. A seleção de parentesco é uma das estrelas de um dos livros do biólogo a receber o Pulitzer, "On Human Nature" ("Sobre a Natureza Humana"), de 1979.

    Defender esse tipo de ideia nos anos 1970 não era exatamente um passeio no parque. Acusado de achar que os genes controlavam o comportamento humano como se as pessoas fossem robôs e de até de apoiar o racismo e a extrema direita, Wilson chegou a ser atacado durante uma conferência científica - ativistas derramaram um jarro de água gelada na cabeça dele.

    O biólogo Nelio Bizzo, hoje professor de ensino de ciências na USP, estudante de pós-graduação no começo dos anos 1980, lembra como as implicações políticas da obra de Wilson geravam polêmica.

    "Cursei a disciplina de sociobiologia durante o mestrado e, no trabalho final, levantei a conjectura de que, se as ideias de Wilson estivessem corretas, o editor do livro deveria ser parente dele. Quase fui reprovado", conta.

    "Acho que a carga ideológica da seleção de parentesco era evidentemente muito grande, pois era uma justificativa muito forte para uma série de práticas sociais moralmente inaceitáveis, como o racismo e a xenofobia", diz Bizzo. "Talvez o Wilson seja descendente de uma família que possui um gene que faz as pessoas pensarem que tudo é genético", ironiza.

    Apesar do debate político, para muitos a regra de Hamilton parecia unir e explicar, num único conjunto conceitual e com economia, uma série de fenômenos biológicos aparentemente disparatados.

    EUSSOCIALIDADE

    O caso mais importante tinha a ver com o estilo de vida bizarro de certos insetos, como formigas, abelhas e vespas, todos membros da ordem dos himenópteros. Muitos desses animais adotaram a eussocialidade (do grego "eu", "verdadeiro", ou "sociedades verdadeiras", cuja complexidade pouco deve à da sociedade humana).

    A praxe nos grupos de insetos eussociais é que a reprodução seja monopólio de uma única rainha, enquanto as demais fêmeas do grupo, divididas em castas de operárias, soldadas etc., nunca deixam descendentes diretos --e são em certa medida descartáveis.

    Para Hamilton e companhia, uma pista crucial para entender a estrutura social desses insetos está no sistema que usam para determinar o sexo dos indivíduos, conhecido como haplodiploide.

    Começando pelo fim: "diploides" são os organismos com dois conjuntos de cromossomos, como os humanos, as abelhas rainhas e as abelhas operárias. Criaturas haploides têm um só conjunto de cromossomos ""é o caso dos zangões.

    Rainhas e operárias nascem da união entre fêmeas e machos, tal como nós. Já os zangões são fruto da partenogênese (literalmente, "nascimento virgem"), vindo ao mundo a partir de óvulos não fertilizados, botados pelas rainhas.

    Essa "esquisitice" teria uma consequência intrigante para a regra de Hamilton. Por terem só uma cópia de cada cromossomo, os zangões legam sempre os mesmos genes para suas filhas, a não ser que ocorram mutações (se o genoma deles fosse como o nosso, duas filhas poderiam herdar, cada uma, um cromossomo diferente).

    Por isso, duas abelhas filhas do mesmo pai e da mesma mãe estão geneticamente muito mais próximas uma da outra do que irmãos mamíferos: compartilham 75% de seus genes. No entanto, o grau de compartilhamento entre essas fêmeas e suas mães ou filhas ainda é o tradicional: 50%. Quanto aos zangões, justamente pela presença de um único conjunto de cromossomos no genoma deles, o compartilhamento cai para 25%.

    Esses fatos simples, vistos pelo prisma da seleção de parentesco, pareciam explicar o porquê da rainha solitária, destinada a trazer ao mundo uma multidão de operárias depois de um único voo nupcial com zangões. A monarca não passaria de uma máquina de fazer súditas, as quais teriam muito mais "interesse" em produzir irmãs geneticamente muito parecidas com elas mesmas do que em criar suas próprias filhas e filhos.

    BRECHAS

    O poder explicativo da seleção de parentesco teria ajudado, portanto, a resolver o enigma da origem de alguns dos animais mais bem-sucedidos da história da Terra. Afinal, embora formigas, abelhas e vespas eussociais correspondam a apenas dezenas de milhares entre cerca de 1 milhão de espécies de insetos conhecidas, esses bichos não têm rival em número de indivíduos. Apenas as formigas correspondem a um quarto do total da biomassa (o "peso" somado dos seres vivos) de animais.

    No entanto, uma praga devoradora de celulose sempre rondou essa ortodoxia: o cupim. Mais aparentados às baratas, esses animais são diploides, tal e qual mamíferos como nós, e mesmo assim são adeptos refinados da eussocialidade. Em seu novo livro, Wilson mapeia o avanço da pesquisa nas últimas décadas, revelando, em várias espécies, clara adoção da vida eussocial sem o arranjo genético peculiar de abelhas e formigas.

    São seres como besouros, camarões e até roedores que habitam o subsolo africano, entre eles o rato-toupeira-pelado (Heterocephalus glaber). Mesmo no caso de abelhas e formigas, o mais comum é que a rainha se acasale com múltiplos machos, anulando o efeito de proximidade genética entre irmãs que poderia ser gerado pela haplodiploidia "de um marido só".

    O resultado desse novo conjunto de dados, argumenta Wilson, é que a associação entre haplodiploidia e vida eussocial "deixou de ter significância estatística".

    SELEÇÃO DE GRUPO

    Para Wilson, é muito mais simples pensar em termos de seleção de grupo. Examinando o que há de comum entre os vários tipos de espécies eussociais, ele afirma que esse estilo de vida depende de vários pré-requisitos para emergir.

    Um deles é a existência de um ninho "fortificado", facilmente defensável --um protótipo de colmeia ou formigueiro, digamos.

    Outro passo crucial é quando modificações comportamentais, provavelmente ligadas a mutações, levam os filhotes, ao se tornarem adultos, a deixar de se dispersar e criar seus próprios ninhos, permanecendo com a família e cuidando dos irmãos que vão nascendo. Dados experimentais mostram que, nesses casos, estabelece-se uma divisão de trabalho natural dentro da colônia, com o aparecimento de formas rudimentares de rainhas e operárias.

    Nesse contexto, afirma o biólogo, ganha a corrida evolutiva o ninho que funcionar como a unidade reprodutiva mais azeitada --e a divisão de trabalho e coesão proporcionadas pela vida eussocial representariam enorme vantagem para os grupos altruístas, diz ele.

    O argumento já seria suficientemente ambicioso se a proposta fosse explicar apenas os insetos sociais, que são a especialidade de Wilson. Mas ele também classifica os seres humanos como mamíferos eussociais, ainda que de natureza bem distinta da dos ratos-toupeira-pelados.

    Apoiando-se em dados arqueológicos e paleoantropológicos, ele vê os hominídeos (ancestrais do homem) passando pelo processo de criação de "ninhos" defensáveis ao adotarem o hábito de montar acampamentos de caçadores-coletores. Assim como nas espécies eussociais, os acampamentos abrigavam múltiplas gerações de indivíduos ap arentados e lançavam mão da divisão de trabalho para obter alimentos, defender-se de grupos vizinhos e atacá-los.

    "Invenções" tipicamente humanas, como a linguagem complexa, a arte e a religião, seriam meios refinados para maximizar a coesão interna dos grupos e prepará-los para o confronto com os demais.

    "A questão é que os seres humanos não apresentam a divisão reprodutiva de trabalho que vemos nos insetos", ressalva Klaus Hartfelder, biólogo da USP de Ribeirão Preto que estuda o genoma das abelhas.

    Para Wilson, as tendências altruístas humanas no interior dos grupos são contrabalançadas pela seleção natural agindo nos indivíduos, com cada um tentando maximizar seu próprio potencial reprodutivo à custa dos demais.

    O resultado é uma visão decididamente dualista da natureza humana: a seleção de grupo é a mãe do que chamamos de virtudes, diz Wilson; a seleção natural "individual", a fonte de todos os vícios. Ser humano significa estar dilacerado por essas tendências opostas a cada momento da vida.

    RENASCIMENTO

    Uma coisa é certa: os últimos anos viram um renascimento dos estudos sobre seleção de grupo, embora a maioria dos biólogos ainda relute em aceitá-la.

    "Vinte anos atrás, a crítica à seleção de grupo era feroz. Era considerado 'naïf' [ingênuo] ter ideias desse campo", conta Diogo Meyer, biólogo evolutivo da USP. "O campo amadureceu, deixou de ser anátema. Mas demonstrações teóricas e empíricas fortes a favor da seleção de grupo ainda são modestas".

    Uma objeção tradicionalmente levantada pelos que duvidam da seleção de grupo tem a ver com a relativa vulnerabilidade das sociedades de altruístas ao chamado "mutante egoísta". Num grupo em que predominam altruístas, um sujeito desse tipo teria uma grande vantagem reprodutiva em relação aos demais, e aquela população logo seria "invadida" e dominada por descendentes dele.

    Desde o fim dos anos 1990, no entanto, trabalhos de pessoas como David Sloan Wilson (não é parente do outro Wilson) usaram modelos matemáticos para mostrar que, em determinadas condições, a seleção de grupo pode ocorrer. "Pode ser um evento raro", diz Gustavo Caponi, professor de filosofia e história da ciência da Universidade Federal de Santa Catarina. "Mas a evolução tem tempo de sobra para eventos raros acontecerem."

    Tais condições envolveriam, por exemplo, grupos relativamente bem separados e homogêneos, de modo que a diversidade de comportamento fosse menor no interior dos grupos do que entre um grupo e outro.

    Para Charbel El-Hani, esse tipo de contexto pode favorecer a aplicação que Wilson faz da seleção de grupo à evolução humana. "As culturas humanas conseguem criar esse cenário", diz ele, ressaltando, no entanto, que outros fatores igualmente importantes devem ter influenciado a trajetória evolutiva de nossa espécie.

    El-Hani lembra que até a avicultura fornece indícios em favor da seleção de grupo: "Descobriu-se que, depois de um certo limiar, era muito difícil aumentar a produção de ovos de galinha. É que, quando os criadores selecionavam individualmente as galinhas mais produtivas, essas acabam sendo também as 'nasty chickens' [galinhas malvadas], que destruíam os ovos das outras." Quando a seleção passou a ser feita pelos grupos que mais botavam ovos, a produtividade voltou a subir.

    Apesar da crescente adesão à ideia de seleção de grupo, Wilson parece pisar em terreno mais pantanoso quando diz que a seleção de parentesco inexiste ou é desimportante.

    Mesmo entre os supostamente harmoniosos himenópteros, conflitos de interesse genético ocorrem com frequência, lembra Klaus Hartfelder, referindo-se ao seu campo de especialidade, as abelhas domésticas. As operárias, célebres por sua esterilidade, ainda assim são capazes de produzir ovos por partenogênese, e uma rainha pode se acasalar com 20 machos diferentes antes de "constituir família". "O que acontece é que as operárias tendem a destruir os ovos botados por outras operárias cujo pai não é o mesmo que o delas", conta Hartfelder. Coisas parecidas também se dão com formigas.

    A acidez do debate está longe de amainar, mas o biólogo da USP vê com tranquilidade a briga. "Essas posições fortes são importantes, é assim que a ciência avança." E, se Wilson estiver certo, talvez esse seja mais um resultado dos profundos instintos tribais que a evolução inscreveu certa vez nos corações de um punhado de primatas bípedes.

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