O que é que Joana Vasconcelos tem? Transpira Portugal. Depois de o ano passado se ter tornado a primeira mulher e a mais jovem artista a expor no Palácio de Versalhes, numa exposição que foi visitada por 1,7 milhão de pessoas, Joana Vasconcelos --que em 2008 expôs na Pinacoteca do Estado de São Paulo-- é a representante de Portugal na 55.ª Exposição Internacional de Arte da Bienal de Veneza.
E já que neste ano Portugal não teria possibilidade de ter um pavilhão, a artista teve a ideia de levar o cacilheiro Trafaria Praia, barco que faz o transporte de passageiros entre as margens do rio Tejo, que servirá de pavilhão português.
O Trafaria Praia tem estado no estaleiro da Navaltagus, no Seixal, a ser transformado para que a parte de cima do barco possa ser forrada a cortiça para ser utilizada como um palco, onde possam acontecer concertos, conferências, mesas-redondas. O exterior vai ser forrado de azulejos azuis e brancos, pintados à mão pelo artista Jorge Nesbitt e feitos pela tradicional fábrica da Viúva Lamego.
O desenho mostrará a Lisboa de hoje, mas a inspiração veio do famoso painel "Grande Panorama de Lisboa" (c. 1700), atribuído a Gabriel del Barco. A artista e o comissário Miguel Amado querem que o cacilheiro funcione em Veneza como "uma montra de Portugal" e por isso terão uma loja a bordo com produtos "made in Portugal".
Por tudo isto o secretário de Estado da Cultura português, João Barreto Xavier, na apresentação do projecto à imprensa disse que "ao apresentar-se em Veneza, [a artista] não é só a Joana, é a Joana de Lisboa, a Joana de Portugal".
LUSTRE DE TAMPÕES
"A Noiva" é uma das obras mais emblemáticas de Joana Vasconcelos. É um gigantesco lustre feito com 20 mil tampões higiénicos femininos que foi exposto pela primeira vez na Bienal de Veneza de 2005, mas a peça foi excluída da mostra em Versalhes porque a organização considerou que não se adequava àquele espaço e a censurou.
O que não viram os franceses pode ser admirado na sala d. João 4º, do Palácio da Ajuda, em Lisboa, onde até 25 de agosto está a exposição com 38 das obras criadas pela artista na última década. Outras das suas obras mais conhecidas, como o "Coração Independente Vermelho" está na sala d. João 6º e os gigantes sapatos "Marilyn", feitos de panelas, estão na sala do trono.
O desafio que a artista lançou foi colocar o património histórico e o contemporâneo em diálogo.
ACORDO ORTOGRÁFICO
Dizem que sem Vieira não teríamos a língua que temos. A "Obra Completa" do padre António Vieira (1608-97), que inclui cartas, sermões, profecias, política, poesia e teatro, está a ser publicada pela Círculo de Leitores com direcção do historiador José Eduardo Franco e do filósofo Pedro Calafate.
São 30 volumes organizados em quatro tomos --Epistolografia, Paranética, Profética, Varia--, mais de 12 mil páginas que incluem documentos inéditos e a publicação dos escritos em latim (agora traduzidos).
O projecto, que deverá estar concluído até 2014, tem uma equipa com mais de 30 especialistas, portugueses e brasileiros, a trabalhar nele. Mas quando saíram os primeiros volumes, iniciou-se a polémica.
O escritor Vasco Graça Moura considera esta "uma das mais importantes iniciativas editoriais que, nos últimos tempos, terá tido lugar no mundo da língua portuguesa". Porém, vê "um grave problema": "A edição pretende pautar-se pela norma ortográfica em vigor e afinal aplica uma norma que não está em vigor nem nunca esteve, e que é a do Acordo Ortográfico." E pergunta: "Viverão num mundo nefelibata? Ignoram a polémica e os problemas? Não sabem que há hoje três grafias divergentes a serem aplicadas no mundo da língua portuguesa?"
José Eduardo Franco respondeu-lhe: "Este era um projecto luso-brasileiro e uma das formas de nos entendermos foi cumprir o contrato e usar a norma em vigor. Há leis de que gostamos mais e outras menos. Não há acordos perfeitos."
Veja o blog da "Obra Completa" de Vieira.
SARAMAGO EXPLICA-SE
Em 1997, na Universidade de Turim, José Saramago fez uma palestra de improviso. "A Estátua e a Pedra" foi gravada, transcrita e posteriormente revista e acrescentada por ele. Tem agora uma edição bilíngue, em português e espanhol, da Fundação José Saramago com apoio da Alfaguara.
Foi lançada no dia 19 na Feira do Livro de Bogotá, onde Portugal é o país convidado, e já está nas livrarias portuguesas. É uma reflexão sobre os seus livros e o medo de que se lhe esgotasse a capacidade criadora e não tivesse outro remédio senão deixar de escrever.