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    Cristóvão Colombo ficou a ver navios

    SYLVIA COLOMBO
    DE BUENOS AIRES

    21/07/2013 03h41

    Depois de quase um mês de novela, o governo da presidente Cristina Kirchner venceu. Numa manhã do fim de junho, as TVs transmitiram ao vivo o capítulo derradeiro: a remoção da estátua do navegante genovês Cristóvão Colombo (1451-1506) do alto do monumento doado a Buenos Aires pela colônia italiana, em 1910.

    Cristina começou a travar uma guerra contra o navegante italiano quando propôs que sua imagem, segundo ela a de um conquistador vil, fosse substituída pela de Juana Azurduy (1780-1862), heroína boliviana da Independência argentina -um presente de Evo Morales.

    O país acompanhou a disputa pelos ícones como se fosse um folhetim. De um lado, a presidente e seu discurso anti-imperialista. De outro, o prefeito de Buenos Aires e a comunidade italiana, inconformados, defendendo a monumental estátua de pedra. Por ora, ganhou Cristina, e o marinheiro permanecerá alijado do pedestal, à espera de restauração e traslado para um porto mais discreto.

    EL POETITO

    Em seu notável esforço por divulgar a literatura brasileira, a editora Adriana Hidalgo lança "Antología Sustancial de Poemas y Canciones", uma completa edição em espanhol e em português de toda a obra, literária e musical, do poeta e compositor brasileiro Vinicius de Moraes (1913-1980).

    "Não dá para separar as canções da poesia. E o argentino, que já tem simpatia por Vinicius pelo personagem, agora pode conhecê-lo por completo", diz à Folha o editor Fabián Lebenglik.
    A tradução ficou a cargo de Cristian De Nápoli, e o volume é ilustrado com fotos feitas pelo filho do poeta, Pedro. A Livraria Cultura encomendou uma fornada para suas lojas brasileiras.

    Com proposta distinta da que guiou a edição da Companhia das Letras, a obra é cronológica, didática e prática.

    A VEZ DOS CONTEMPORÂNEOS

    O Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires vem direcionando seu foco para a produção literária contemporânea brasileira. Nos últimos meses, passaram por ali o paulistano Ferréz, que lançou a versão argentina de "Manual Prático do Ódio" (ed. Corregidor), e o amazonense Milton Hatoum, publicado pela Beatriz Viterbo.

    Na última semana, foi a vez de Marcelino Freire. Seu "Contos Negreiros" sai pela Santiago Arcos. Em debate com a tradutora Lucia Tennina e com o escritor Washington Cucurto, autor do prólogo, Freire falou da mãe, da tradição nordestina e da influência de São Paulo em sua literatura.

    Os selos pequenos e independentes argentinos têm encontrado nos escritores brasileiros contemporâneos um nicho que movimenta o mercado local.

    As grandes editoras costumam se voltar preferencialmente para o cânone e publicam nomes manjados, como Clarice Lispector, Rubem Fonseca e Jorge Amado.

    UM MUSEU PARA SABATO

    Ficou para uma data indefinida a abertura do museu dedicado a Ernesto Sabato (1911-2011), em sua casa, em Santos Lugares, na província de Buenos Aires. A razão é a alta do dólar paralelo, que já chega a valer o dobro que o oficial, e a inflação, que faz com que os preços disparem.

    Em 2011, o governo da província destinou uma verba à família para as obras. Como o valor não foi usado em tempo, justifica o filho, Mario, sofreu desvalorização. Agora, a família busca apoio privado para terminar o projeto de restauração da biblioteca no subsolo, do escritório onde o autor de "Sobre Heróis e Tumbas" trabalhou, de seu ateliê de pintura e dos aposentos onde viveu de 1945 a 2011.

    Além dos livros, desorganizados, hoje é possível ver no lugar a Olivetti com a qual ele trabalhava, mas falta catalogar seus volumes e manuscritos. A esperança de Mario era abrir o museu no último dia 24, quando o pai completaria 102 anos, mas o projeto foi adiado.

    Além de um dos nomes centrais da literatura argentina do século 20, Sabato chefiou a comissão que, nos anos 1980, realizou um completo levantamento dos desaparecidos políticos durante a última ditadura militar (1976-1983).

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