RESUMO Em setembro será publicada no Brasil, em cinco volumes, a mais ampla tradução já feita da "Enciclopédia" iluminista de Diderot e D'Alembert, que pretendia reunir o saber acumulado até o século 18. Gravuras que compunham a obra e trechos de alguns dos verbetes selecionados na publicação estão aqui reproduzidos.
"Esta obra produzirá certamente, com o tempo, uma revolução nos espíritos, e eu espero que os tiranos, os opressores, os fanáticos e os intolerantes não ganhem nada com isto. Nós teremos servido à humanidade."
A obra à qual se refere Denis Diderot, em carta de 26 de setembro de 1762 à amiga Sophie Volland, é a "Enciclopédia ou Dicionário Razoado das Ciências, das Artes e dos Ofícios". A empreitada, dirigida por ele e Jean le Rond d'Alembert, começara em julho de 1751 e, até 1772, reuniria, em 17 volumes de texto e 11 de gravuras, 140 colaboradores identificados, responsáveis pela escrita de 72 mil verbetes.
No mês que vem, sai no Brasil a mais ampla tradução já feita dessa que foi descrita pelo pesquisador Jacques Proust, no livro "Diderot et l'Encyclopédie" (Diderot e a enciclopédia), de 1962, como uma tarefa editorial "equivalente às maiores empreitadas do capitalismo francês do fim do século 18".
O projeto teve coordenação dos professores de filosofia da USP Maria das Graças de Souza e Pedro Paulo Pimenta, que selecionaram 298 verbetes, de 37 autores, distribuídos em cinco volumes [trad. Maria das Graças de Souza, Pedro Paulo Pimenta, Fábio Yasoshima, Luís Fernandes do Nascimento, Thomaz Kawauche e Fúlvia Moretto; Editora Unesp, 352 págs. (1), 448 págs. (2), 392 págs. (3), 408 págs. (4) e 432 págs. (5), R$ 78 (cada um)].
Os organizadores elegeram a importância do autor e a qualidade literária e de argumentação do texto como critérios para a escolha das entradas. Além de Diderot e D'Alembert (entre os mais prolíficos colaboradores, com 5.183 e 1.633 verbetes respectivamente) foram privilegiados os filósofos Rousseau e Voltaire e nomes como o naturalista e médico Daubenton e o economista Turgot.
Atacada pelos jesuítas e pelos jansenistas, censurada pela Sorbonne, ridicularizada pela crítica literária, condenada pelo papa, proibida de ser editada, a "Enciclopédia" pretendia, segundo Diderot, traçar "um quadro geral dos esforços do espírito humano de todos os tipos e em todos os séculos".
UNIVERSAL
A série foi originalmente pensada como tradução da "Cyclopaedia or an Universal Dictionary of Arts and Sciences" (Ciclopedia ou um dicionário universal de artes e ciências), de Ephraim Chambers, publicada em 1728 na Inglaterra. Foi para tal objetivo que o editor parisiense André Le Breton obteve, de início, licença real para impressão e publicação.
Entregue a Diderot e D'Alembert em 1747, o projeto teve um resultado que ultrapassou amplamente os dois volumes da antecessora inglesa. Seus verbetes, organizados em ordem alfabética, podem ser textos de algumas linhas ou de uma centena de páginas, os quais remetem a outras entradas correlatas.
O historiador francês Roger Chartier lembra da outra proposta inicial do projeto francês, a de "propor uma árvore dos conhecimentos que subvertia as hierarquias tradicionais". A "Enciclopédia" se organiza não em torno do primado da teologia, como exigia a época, mas em torno das três faculdades do entendimento: memória (história), razão (filosofia) e imaginação (poesia).
"Ela situa 'religião' como uma categoria da 'teologia natural' e da 'teologia revelada', colocadas em paralelo, sendo elas rubricas de 'ciência de Deus', que é uma classe de 'filosofia'. E mais, 'religião' é acompanhada da frase: 'da qual, por excesso, superstição'. Não muito ortodoxa, portanto, essa classificação dos saberes", explica o professor do Collège de France em entrevista à Folha por e-mail.
A palavra enciclopédia vem do grego e significa círculo das ciências. O termo teria sido usado pela primeira vez em francês em 1532 no livro "Pantagruel", de Rabelais. Ali, ele designa o plano de estudos que o personagem recebe de seu pai e que inclui línguas (grego, latim, hebraico e árabe), geometria, aritmética, música, filosofia, filosofia da natureza, medicina, direito e astronomia.
Embora a ideia de reunir todo o saber humano já estivesse no Renascimento, e até mesmo na Antiguidade, como nas histórias naturais de Aristóteles e Plínio, o projeto de compilar todo o conhecimento em todos os domínios é moderno. O sistema de classificação das ciências que organiza a "Enciclopédia" foi emprestado de Bacon. Em seu "Novum Organum", de 1620, ele defende que o critério para a organização do conhecimento não deveria ser o objeto a ser conhecido, mas a faculdade que lhe dá origem. Por exemplo, a memória dá origem à história que, quanto a seus fatos, pode ser de Deus (História Sagrada), do homem (História Civil) ou da natureza (História Natural).
"Diderot diz que é a língua que dá acesso ao conhecimento", afirma Pimenta, o que explica a disposição dos verbetes segundo o alfabeto. Porém, além do caminho alfabético, que facilita a busca por um determinado tópico, era possível para o leitor construir seus próprios trajetos de leitura graças ao sistema de referências cruzadas das remissões.
A tradução que chega agora ao leitor não segue a ordem original. "No original, a disposição alfabética é universal, ela visa dar conta de tudo que existe no mundo e, como fizemos uma seleção, ficaria entrecortado", diz Pimenta. A solução então foi dividir tematicamente os verbetes escolhidos ao longo dos volumes.
O primeiro tomo traz uma apresentação e o "Discurso Preliminar dos Editores". Depois, no segundo, o tema é o sistema dos conhecimentos. "A ideia é falar sobre como os enciclopedistas concebem a organização do conhecimento" –verbetes como "alfabeto", "abstração", "certeza", "erudição" e "homem" estão nesse livro.
O terceiro volume é dedicado às ciências, "para dar uma ideia ao leitor de seu estado no período" –"geometria", "mamute", "método", "sonho" e "vida" estão ali–, e o quarto é uma expansão de um livro já existente no Brasil, "Verbetes Políticos da Enciclopédia" (Unesp, 2006), com as entradas que versam sobre política –"agricultura", "aristocracia", "imposto", "voto" e as liberdades ("civil", "natural" e "política").
Por fim, do quinto tomo, chamado "Sociedade e Artes", constam verbetes como "adultério", "ateísmo", "desenho", "ficção", "harmonia", "mulher" e "tragédia". Segundo Pimenta, esse último volume reúne "o que chamaríamos hoje de ética e estética, mas tal título tem mais a ver com o que eles pensavam na época". As remissões foram mantidas como no original, mas agregou-se a elas uma indicação quando o verbete aludido está presente na tradução (e em qual volume).
Além disso, distribuídas entre os cinco tomos aparecem 173 reproduções de gravuras originais, que se relacionam em sua maioria a temas das ciências e da história natural, com imagens de máquinas e instrumentos da manufatura da época –como as partes que compõem uma carroça, diferentes desenhos de lapidação de pedras preciosas ou o processo pelo qual se obtém o vidro.
Pimenta ressalta a clareza dos textos da "Enciclopédia", que se destinavam à compreensão imediata do leitor. "Eles exigem uma sensibilidade instintiva, se dirigem muito diretamente aos sentidos do leitor", diz ele. "Há muitas imagens, metáforas e recursos retóricos", explica Souza. "São textos mais voltados à sensibilidade do que ao raciocínio, é preciso pensar para lê-los, mas não tem que raciocinar muito", completa Pimenta.
REVOLUÇÃO
A "Enciclopédia" e seus colaboradores inscrevem-se no movimento maior do Iluminismo, que marcou o século 18 e que, durante muito tempo, foi considerado por historiadores e pesquisadores como decisivo para a eclosão da Revolução Francesa (1789-99).
"Uma vez em curso a Revolução, a leitura que se fez era a de que ela era produto do Iluminismo", explica o professor de história moderna da USP Modesto Florenzano.
Porém, desde pelo menos o fim do século 19, essa perspectiva vem sendo revista, com a valorização do papel das classes populares no processo e a explicitação de um caráter mais reformista do que revolucionário dos intelectuais iluministas.
Hobsbawn nos lembra de que os filósofos não eram, eles mesmos, revolucionários", diz Florenzano, "e o historiador Franco Venturi [1914-94, autor de "Utopia e Reforma no Iluminismo" (Edusc)] nos mostra como os verbetes de política oscilam entre reforma e utopia".
Ainda assim, as ideias contidas na obra dos enciclopedistas deixam claro o espírito de uma época, intimamente ligado ao que se tornaria o espírito revolucionário.
"A 'Enciclopédia' tem um papel fundamental para a autonomia da ciência em relação à tradição, à teologia e aos poderes", diz Souza. "Há uma crítica severa de todo poder arbitrário mas também tem uma crítica de costumes, da censura, da arbitrariedade dos tribunais e das penas, portanto há uma tomada de posição em relação a costumes políticos e da cultura europeia da época."
Questionado pela reportagem sobre a influência das ideias iluministas na Revolução Francesa, Chartier, autor de títulos como "Origens Culturais da Revolução Francesa" (Unesp) e "A Ordem dos Livros" (UnB), respondeu com uma pergunta que transpassa algumas de suas obras: "Os livros fazem revoluções?".
Para ele, ligar diretamente o Iluminismo à Revolução Francesa dá às ideias "um papel talvez excessivo nas mutações de sensibilidades e na transformação de representações que levaram os franceses de 1789 a ignorar ou recusar as autoridades tradicionais, a monarquia absolutista, os dogmas católicos, a nobreza e o clero".
Ele lembra também que o projeto da "Enciclopédia" foi desenvolvido por letrados que eram "intelectuais do Antigo Regime" –faziam parte do sistema de pensões e gratificações monárquicas, ocupavam cargos e recebiam benefícios; participavam de academias, e 16 deles eram censores reais.
"Entendemos melhor, assim, o ódio de Robespierre contra o que chamava de 'seita enciclopedista'", explica Chartier.
Para Paulo Piva, professor de filosofia da Universidade Federal do ABC, a importância e a utilidade da "Enciclopédia" para o Iluminismo foi a de "difundir de modo amplo e eficaz a sua ideologia, que consistia na crença de que o espalhamento das luzes do conhecimento para um grande público emanciparia o povo francês da ignorância, do obscurantismo e da opressão de séculos".
SUCESSO
"Na época ela foi um best-seller", diz Souza, "considerando o número de pessoas que compraram, que assinaram a 'Enciclopédia', foi um sucesso".
Para Chartier, não se pode subestimar sua circulação, já que no século 18 as elites e os letrados de toda a Europa liam em francês.
Segundo ele, entre 1751 e 1782 seis edições do texto original foram publicadas em Paris, Luca e Livorno, na Itália, em Genebra, Neuchâtel, Lausanne e Berna, na Suíça, podendo ter chegado a 24 mil de cada um dos 17 volumes os exemplares que circulavam na Europa.
Alex Cerveny | ||
"A 'Enciclopédia' não foi no século 18 uma leitura 'popular', mas ela pôde fortalecer em muitos de seus leitores uma relação crítica frente as convenções, dogmas e autoridades", diz Chartier.
"Pensando nos séculos posteriores, seu sucesso foi menor do que almejavam, porque seu uso ficou restrito a letrados, literatos e historiadores da ciência –até hoje é assim. Mas eles queriam que o mundo lesse, que qualquer homem alfabetizado pudesse lê-la", diz Souza.
Nesse sentido, a professora da Faculdade de Educação da USP Carlota Boto fala da "Enciclopédia" como detentora de uma "narrativa que se pretende universal e que acreditava formar uma opinião pública esclarecida".
A "Enciclopédia", reunindo e expondo o conjunto das mais diversas ciências em sua época, é também um documento do estado do conhecimento no século 18 na Europa. Assim, ela demonstra o tipo de síntese que se obteve na época, colocando o conhecimento numa perspectiva histórica, e não como algo definitivo e imutável, o que lhe dá caráter inovador. "Ela faz uma história do conhecimento, isso não tem antes", diz Souza.
ESCOLAS
Tanto assim que aquela coleção de tópicos influenciará fortemente o ensino público pós-revolucionário. As concepções da "Enciclopédia" de gramática e geometria, por exemplo, são as que serão utilizadas nas escolas.
"Se pensarmos nos pais da biologia, que são Lamarck e Cuvier, o saber que constroem é a partir da síntese que está posta na 'Enciclopédia'", exemplifica Souza.
"A 'Enciclopédia' faz uma severa crítica ao modelo dos colégios religiosos da época, cuja organização interna não correspondia às necessidades novas de uma sociedade voltada para o conhecimento, as artes e os ofícios", diz Boto, para quem a influência na educação ultrapassou os conteúdos.
"Além disso, ela é tributária de uma nova concepção de infância, que havia sido sistematizada naqueles anos pela obra de Rousseau. Então começam a surgir demandas sociais para uma nova escola voltada para formar uma nova criança", complementa a pedagoga e historiadora.
O legado da obra e do esforço monumental dos enciclopedistas do século 18 também se fez sentir na literatura, principalmente na França, e na filosofia alemã. A preocupação de evocar nos verbetes a imagem do objeto, a crítica que se faz à abstração em detrimento da concretude e as descrições de anatomia e fisiologia fizeram fortuna na literatura francesa.
"Balzac, Stendhal, todos esses grandes autores leram muito a 'Enciclopédia' e usam muito o que leram ali, indiretamente e às vezes diretamente. Por exemplo, em Balzac a fisiologia das personagens é um gênero de literatura", diz Pimenta.
Para Paulo Piva, a publicação da tradução no Brasil pode ter impacto na compreensão do período. "É uma grande oportunidade para desfazer alguns clichês sobre o Iluminismo –por exemplo, o que faz de Kant uma espécie de 'inventor da roda' e iluminista superior e de enciclopedistas como Diderot e Holbach e pensadores franceses como Voltaire e Rousseau iluministas de segunda categoria."
TOTALIDADE
O nome "enciclopédia" e a ideia que temos de saber enciclopédico nos remetem à noção de algo que abarque a totalidade do saber e a publicações que enchiam prateleiras e que hoje têm na Wikipédia sua descendente contemporânea e virtual. Mas como elas se ligam à "Enciclopédia"?
Para os organizadores da versão brasileira, a semelhança é quase zero. "Esta aqui é uma enciclopédia de reflexão, filosófica e crítica", dizem os professores. "A 'Barsa' e a 'Britannica', típicas do século 19 e do começo do 20, são positivistas; no caso da ciência, por exemplo, elas não incluem polêmicas e indecisões das questões do momento, mas só os resultados não controversos", diz Pimenta. "A Wikipédia, por sua vez, é utilitarista, ela fala o que você precisa saber sobre um assunto e não necessariamente o esgota", completa.
Para Jonas Augusto, um dos editores brasileiros da Wikipédia, há, sim, semelhanças entre as enciclopédias, as quais passam pelo objetivo, comum a todas elas, de criar "um tipo de compêndio daquilo que qualquer pessoa pode estudar por conta própria", diz.
Para Pimenta e Souza, a Wikipédia guardou de sua prima distante do século 18 a colaboração coletiva. "Se o conhecimento é algo tão importante para todos, por que não deixar que todos possam ajudar na construção desse conhecimento?", pergunta Augusto.
"Mas os colaboradores de Diderot foram escolhidos, e na Wikipédia todo mundo pode entrar e completar um artigo", assinala Souza.
"Com a enciclopédia digital, um controle como o que tinha Diderot se desfaz", afirma Chartier, "mesmo que os responsáveis pela Wikipédia tenham instaurado dispositivos destinados a evitar a publicação de falsidades e difamações".
Piva frisa as diferenças entre os contextos históricos nos quais cada uma dessas enciclopédias se insere. "A 'Enciclopédia de Diderot' foi concebida e levada adiante sob muita pressão, enfrentando uma censura e intolerância implacáveis por parte da Igreja e de um monarca absoluto. Já a Wikipédia, por exemplo, é fruto dos melhores e mais recentes benefícios da democracia", diz o professor.
Pimenta diz que a Wikipédia é mais parecida com a "Barsa" e a "Britannica" do que com a "Enciclopédia". "Ela é mais tradicional do que parece. Há um tom neutro, que é muito cuidadoso nos aspectos polêmicos, diferentemente da 'Enciclopédia'", diz.
"Diderot e D'Alembert tomaram posições claras quanto a polêmicas", completa Souza, mencionando o caso do verbete "música", para o qual chamaram Rousseau, e não seu opositor no período, Rameau. Nos anos 1750, eles lideravam os lados do debate que ficou conhecido como Querela dos Bufões, que opunha a defesa da música francesa, feita por Rameau, à abertura da ópera para a música italiana, pregada por Rousseau.
Para Augusto, a Wikipédia tem um papel político, mas que deve ser entendido como uma forma de cidadania e boa vida em sociedade, ligado ao acesso ao conhecimento.
"Nos ataques à religião, muitas vezes os enciclopedistas tiveram que ser irônicos, não podiam dizer diretamente, mas o ataque está lá. Já a Wikipédia é uma espécie de túmulo da ironia, como a 'Barsa' e a 'Britannica'", diz Pimenta.
Segundo Chartier, ter em português uma extensa tradução da "Enciclopédia" é importante para dar acesso aos ganhos que, com os séculos, construíram um patrimônio comum da humanidade. Para ele, poder conhecer a intenção e a extensão de sua realização por meio de uma tradução da "Enciclopédia" permite ao leitor atual saber como era a sociedade das Luzes, "suas ambições e contradições" e, ao mesmo tempo, "se convencer de que hoje, mais do que nunca, os ideais dos letrados do século 18 devem ser ainda os nossos", diz.
Na opinião do historiador francês, as propostas que moveram os enciclopedistas –"difundir o conhecimento sem fronteiras, defender a tolerância, propor uma relação mais crítica com a autoridade"– não perderam vivacidade no mundo de hoje.
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TORTURA (PROCEDIMENTO CRIMINAL)
Aquele de quem a tortura arranca a confissão de crime fica numa condição bem lamentável. Mas a condição de um juiz que, acreditando ser autorizado pela lei, tortura um homem inocente, deve ser atroz, na minha opinião. Haverá algum meio de compensar esses sofrimentos? Em todos os tempos, houve homens inocentes aos quais a tortura obrigou a confessar crimes dos quais não eram culpados. (Jaucourt)
GOZO
Quantos momentos felizes não tem o dia, antes do instante em que a alma inteira mergulha e se perde na alma do objeto amado! Gozaram-se os momentos em que se esperava por esse instante. Mas a entrega, o tempo, a natureza e a liberdade das carícias conduziram ao esquecimento de si mesmo. Jurou-se, depois de se ter provado a última gota de embriaguez, que não haveria outra que pudesse se lhe comparar. (Diderot)
ABSTRAÇÃO
Assim como dizemos 'tirar um homem da prisão', 'tirar uma moeda do bolso', dizemos por imitação que 'Deus tirou o mundo do nada'. Nossa prática cotidiana de dar nomes aos objetos das ideias que representam seres reais nos leva a dá-los, também por imitação, aos objetos metafísicos das ideias abstratas de que temos conhecimento; e, assim, falamos tal como forjamos objetos reais. (Dumarsais)
IGUALDADE NATURAL
Igualdade natural é aquela que existe entre os homens tão somente pela constituição de sua natureza. Essa igualdade é o princípio e o fundamento da liberdade. A igualdade natural ou moral é, pois, fundada sobre a constituição da natureza humana, comum a todos os homens, que nascem, crescem, subsistem e morrem da mesma maneira. (Jaucourt)
ÚRSULA PASSOS, 27, é redatora da "Ilustríssima" e mestra em filosofia pela USP.
ALEX CERVENY, 51, é artista plástico e expõe na Casa Triângulo até 19/9.