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    O que os EUA podem ensinar ao Brasil sobre a implantação da base curricular

    FÁBIO TAKAHASHI

    07/05/2017 02h00

    Steven Senne/AP
    In this Wednesday, March 8, 2017 photo high school teacher Natalie O'Brien, center, calls on students during a civics class called "We the People," at North Smithfield High School in North Smithfield, R.I. More states are requiring graduating high school students to know at least as much about the U.S. founding documents as immigrants passing a citizenship test. (AP Photo/Steven Senne) ORG XMIT: RISR201
    Alunos da escola North Smithfield, em Rhode Island

    RESUMO Reportagem mostra os desafios para a implantação de um padrão curricular único. No Brasil, a normatização de conteúdos por fase escolar pode vigorar a partir de 2019. Nos EUA, onde a iniciativa data de 2010, falta de treino de professores, inadequação do material didático e disputas políticas são os principais obstáculos.

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    O atual cenário da educação brasileira lembra muito o dos Estados Unidos de 2010. Naquele ano, o então presidente Barack Obama, o bilionário Bill Gates, governadores e sindicatos docentes apostavam que um padrão curricular nacional rigoroso e inédito colocaria os estudantes do país entre os melhores do mundo nas avaliações internacionais de aprendizagem.

    Obama investiria cerca de US$ 1 bilhão na ideia, num dos maiores programas federais de ensino da história americana. O fundador da Microsoft distribuiria US$ 200 milhões. Estados governados por democratas e republicanos incorporariam voluntariamente a política.

    Sete anos após o lançamento, o sucesso imaginado ainda não se tornou realidade –e há dúvidas se isso acontecerá um dia. A situação serve de alerta para o Brasil, que se prepara para adotar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

    Em nações com população menor, como Austrália, Cingapura e Portugal, bases curriculares têm sido exitosas. Para muitos pesquisadores, contudo, é mais adequado comparar o Brasil com os EUA. Ambos são países continentais e federados (Estados com autonomia) que convivem com desigualdades educacionais e regionais.

    O documento americano, chamado Common Core (núcleo comum), estabelece o conjunto de habilidades que os alunos devem ter a cada série, da pré-escola ao ensino médio. Ao menos na teoria, uniformizar a educação permite maior colaboração entre os Estados e facilita comparações entre eles.

    São objetivos parecidos com os do Brasil. No mês passado, o governo Michel Temer (PMDB) lançou sua base curricular, com amplo apoio de Estados, municípios e fundações privadas. Na cerimônia estavam presentes gestores da administração Dilma Rousseff (PT), numa demonstração de apoio suprapartidário à iniciativa.

    Discutida desde 2014, ainda no governo petista, a proposta brasileira valerá do ensino infantil ao ensino médio. Abrangerá colégios públicos e particulares, num universo de 40 milhões de estudantes (nos EUA, são 55 milhões).

    Ao definir o que o estudante brasileiro deve saber a cada série, o documento será referência obrigatória para os novos materiais didáticos e para a formação de professores. Estados e municípios elaborarão seus próprios planos (os currículos em si) para ensinar o que a Base Nacional determina.

    Essa ampla reorganização também era o que os EUA esperavam com o Common Core a partir de 2010. Hoje, porém, o otimismo transformou-se em ceticismo.

    Dos 45 Estados que adotaram o Common Core, 9 desistiram. A aprovação popular à medida, que chegou a 90% em 2012, agora é de 50%. Entre professores, o apoio caiu de 80% para cerca de 40% no mesmo período.

    OBSTÁCULOS

    O que aconteceu entre 2010 e 2017?

    Erros na implementação e disputas políticas foram as respostas mais ouvidas nos últimos sete meses pela reportagem, que visitou escolas e consultou estudos acadêmicos, pesquisadores, autoridades, diretores e professores em diferentes Estados americanos, como Nova York, Kentucky, Washington, Califórnia e Nova Jersey.

    "O Common Core foi bem desenhado. É compatível com as melhores bases curriculares do mundo, mas isso não basta. Ele deve ser visto pelos brasileiros como um forte sinal de alerta", afirmou à Folha o alemão Andreas Schleicher, diretor do Pisa, principal avaliação internacional de estudantes.

    Na coordenação dessa prova desde seu início, há 20 anos, Schleicher é um dos maiores conhecedores de sistemas educacionais do mundo. "Sem uma boa implementação, uma boa base curricular pode virar só palavras num papel." Implementação é a etapa que o Brasil está prestes a enfrentar.

    Os EUA não melhoraram na última prova do Pisa, aplicada em 2015. Alguns Estados usavam o Common Core havia dois ou três anos, mas os alunos americanos continuaram abaixo da média dos países desenvolvidos em matemática.

    Moradora de Long Island, região de classe média de Nova York, Jeanette Deutermann, 43, lembra-se das fases iniciais do Common Core. Em 2012, seu filho começou a sentir dores de estômago. Chorava para ir à escola, que é pública. Um médico disse que poderia ser estresse. "Como assim? Estresse em um menino de oito anos?", recorda-se a mãe.

    Ainda sem pistas do que estava acontecendo, a dona de casa conversou com educadores. Descobriu que o currículo havia mudado por causa do núcleo comum. O jeito de ensinar era diferente. O garoto não entendia as aulas, e a mãe não conseguia mais ajudá-lo, pois ela não conhecia o novo método.

    Além disso, os alunos eram submetidos a um novo teste, cujos resultados pesavam na avaliação dos professores. "A escola se voltou para o que cairia nessas provas", disse Jeannette. Havia até aulas específicas de preparação.

    Avaliar professores e escolas tinha um propósito específico: tentar garantir que o novo currículo fosse de fato adotado nas salas de aula.

    A preocupação fazia sentido. Em 1979, Larry Cuban, hoje professor emérito da Escola de Educação da Universidade Stanford, já comparava reformas de currículos à passagem de um furação no oceano: há enorme agitação na superfície, mas as águas profundas permanecem quase inalteradas.

    Para Cuban, políticos, especialistas e autoridades ficam na superfície, enquanto as salas de aula estão submersas. Implantar o Common Core de forma enérgica e depressa, aproveitando a empolgação inicial, poderia sacudir o fundo do mar.

    John King, comissário de Educação em Nova York durante a implementação do Common Core, sustentava que os testes também eram importantes para revelar avanços e dificuldades da rede.

    BOICOTE

    Jeannette, mãe do menino que sofria de estresse, discordava da autoridade. Ainda em 2012, começou a compartilhar críticas ao Common Core e a defender o boicote aos exames. O movimento cresceu. Em sua região, 65% dos alunos deixaram de fazer os testes em 2016. No Estado de Nova York como um todo, foram cerca de 20%.

    O governador democrata Andrew Cuomo, sentindo que a pressão aumentava, montou um grupo para analisar o processo. Em 2015, a comissão concluiu: "Ainda que com motivação nobre, o novo currículo foi implementado de forma apressada e inapropriada". O relatório afirmou que os professores demoraram a receber instruções adequadas.

    Os testes eram a face mais visível das reclamações, mas o conteúdo em si do Common Core também causava controvérsias. O núcleo comum não só transferiu conteúdos de uma série para a outra, de modo a uniformizar a progressão escolar entre os Estados, mas também mudou a própria maneira de ensinar.

    Na matemática, os professores esperavam mais que respostas corretas. Queriam que os alunos explicassem como chegaram ao resultado e incentivavam a busca de soluções diferentes para o problema.

    O objetivo era desenvolver o raciocínio, e não a decoreba. O método, em tese, proporciona maior capacidade de lidar com questões complexas ao longo da vida.

    A novidade pedagógica, contudo, demandava mais tempo de aula para os problemas, o que diminuía a carga de conteúdos novos. O intuito era trocar quantidade por qualidade, numa reação à imagem dos currículos americanos em meios acadêmicos: um lago de um quilômetro de extensão e um centímetro de profundidade.

    Se a mudança era grande, a resistência não fez por menos. Pais diziam que os alunos perdiam tempo com discussões inúteis e que a escola dificultava operações simples.

    Em maio de 2014, em entrevista a David Letterman, apresentador de um dos programas mais prestigiosos da TV americana, o comediante Louis C.K. ironizou a lição de casa de suas filhas. "É algo assim: Bill tinha três peixes. Comprou mais dois. Quantos cachorros existem em Londres?"

    TUDO NOVO

    Em inglês, a base americana aumentou a carga de textos de não ficção (reportagens, discursos) e reduziu a de ficção (poesia, romances). Os professores elaboravam questões complexas, que demandavam pesquisa e reflexão. Seria um jeito de preparar os estudantes para lidar com o grande volume de informação na internet.

    Kentucky foi o primeiro Estado a adotar os novos padrões curriculares, ainda em 2009, antes do lançamento oficial da medida nos EUA.

    "Quando o Common Core começou, a sensação era: o que é isso? Está tudo diferente", afirmou a professora Jessica Doughty, 36, que dá aulas para alunos da terceira série (faixa etária de oito anos) na rede pública em Daviess, região no oeste de Kentucky. O condado (divisão administrativa que abrange mais de uma cidade) possui desempenho próximo à média estadual, que por sua vez ocupa posição intermediária no país.

    Naquele momento inicial, os materiais didáticos não ajudavam os professores. Apesar de virem com o carimbo "alinhado com o Common Core", repetiam em grande parte o conteúdo antigo.

    Só em 2016 a professora Jessica recebeu livros adequados. Antes disso, ela participou de treinamentos sobre os novos padrões, mas a maior parte de seu aprendizado veio de estudos por conta própria.

    A reportagem acompanhou sua aula numa manhã do último inverno americano, em uma sala com controle de temperatura, mobiliário novo, projetor e sistema de vídeo. Os 29 alunos foram divididos em sete grupos naquele dia. Alguns ocuparam mesas e cadeiras, outros ficaram sentados ou deitados no carpete, outros se acomodaram em grandes bolas de borracha.

    Os grupos precisavam responder à mesma pergunta: "Por que os homens exploram o mar?". Cada uma das equipes pegou uma obra, que poderia ser prosa (como a história do explorador Jacques Cousteau) ou poesia.

    As crianças tinham de preencher um questionário com três campos: um para a resposta, um para evidências que sustentassem a resposta e outro para frases que confirmassem a argumentação escolhida. Tudo segundo a obra lida. Nada de "qual a sua opinião?".

    A correção seria feita depois, porque chegava a hora da matemática. Em uma das tarefas, os estudantes completavam duas colunas. Uma ia do 2 ao 20, de 2 em 2 (2, 4, 6, 8), e outra do 4 ao 40, de 4 em 4. Tinham de fazer isso em três minutos. Um cronômetro ficava projetado na lousa. Controlar o tempo é importante para a programação, a professora explicou mais tarde.

    Ao lado de cada número, os alunos deveriam indicar multiplicações que tivessem aquele resultado. Ao lado de um 4, por exemplo, escreviam 2 x 2. Então tinham de ligar números iguais nas duas colunas. Assim, aprendiam que 2 x 2 é igual a 4 e que 4 x 1 também é igual a 4. Assim, 2 x 2 = 4 x 1.

    Finalizado o exercício, instantes para relaxar. A professora colocou uma música com batida empolgante para os estudantes, que dançavam e cantavam. Nada de perder o foco, porém: "Six Times Table Song" (música da tabuada do seis) tem como refrão "Oh, acho que achei uma forma de contar de seis em seis / 12, 18, 24, 30 e 36...".

    Ouvia-se música na sala ao lado. Quase que em sincronia, as duas classes tinham a mesma aula. "Antes do Common Core, provavelmente as aulas teriam conteúdos diferentes nas duas salas. Hoje, troco ideias com colegas, montamos as aulas juntas", afirmou a professora.

    DIVERGÊNCIAS

    Ainda é incerto se a metodologia está funcionando no Estado. Logo após a adoção do padrão curricular, os resultados na avaliação estadual pioraram. O percentual de alunos considerados proficientes em leitura caiu de 70% para 47%, em 2012.

    Em um ano, havia mudado não só o currículo mas também o próprio teste. Antes de serem divulgados os dados de 2012, a Secretaria de Educação já fazia campanha preparando a sociedade para a queda nos indicadores. Os resultados até melhoraram depois e chegaram a 55% em 2015, mas ainda abaixo do nível anterior ao Common Core.

    Diversos pesquisadores procuram descobrir se os novos currículos têm dado certo nos Estados Unidos. Em janeiro, Morgan Polikoff, da Universidade do Sul da Califórnia, disse ser essa uma "pergunta de US$ 1 milhão". Após rever os trabalhos acadêmicos disponíveis, não chegou a uma conclusão. Outras pesquisas são necessárias, escreveu.

    Se considerados apenas os resultados de testes padronizados, o panorama é negativo.

    Tom Loveless, ex-professor da Universidade Harvard e agora no Instituto Brookings, comparou Estados que logo implementaram o Common Core com os que demoraram a fazê-lo e com os que não o adotaram. Nenhum grupo se destacou. Na média, houve queda em matemática em todos. Em leitura, todos tiveram leve aumento.

    Os idealizadores do padrão curricular afirmam ser esperada a dificuldade inicial, pois não é fácil se adaptar às muitas mudanças. Entretanto, não arriscam previsão para o início dos resultados positivos.

    Na ausência de estudos definitivos, as opiniões divergem mesmo dentro dos Estados. Em Kentucky, onde professores elogiaram a nova base, o governador republicano Matt Bevin se elegeu em 2015 dizendo que abandonaria o programa –promessa ainda não cumprida.

    Por outro lado, em Nova York, um dos Estados com comunidade escolar mais resistente ao padrão curricular, a reportagem visitou colégios cujas equipes defendem o Common Core. Um deles foi a Cornerstone Academy, escola pública no Bronx. Em uma das regiões mais pobres da cidade, ela é uma das que mais têm apresentado evolução positiva na rede.

    Ali, o Common Core é visto como ferramenta importante. O professor de matemática Tareq Zohny, 40, diz que a sequência de conteúdos ficou bem definida, o que facilita a troca de informações entre os professores.

    Neste ano, ele aumentou a carga de frações e proporções na sexta série porque a professora da sétima disse que os alunos têm chegado com dificuldades nesses conteúdos. Para compensar, os dois educadores reduziram a carga de estatística na sexta série e passaram a recuperá-la na fase seguinte.

    Ex-contador e professor há nove anos, Tareq afirma que deve conseguir cumprir apenas 35 dos 42 conteúdos previstos para o ano. "Muitos alunos chegam [à sexta série] com conhecimento de terceira série, preciso recuperar isso. O bom é que, com a nova organização, sei exatamente onde começou o problema. Fica mais fácil corrigir."

    Dentro do governo Donald Trump também não há consenso. O presidente afirma que vai "se livrar" do Common Core. Diz que a escolha sobre o que ensinar precisa ser feita regionalmente.

    O núcleo comum nasceu por iniciativa dos Estados, mas se atrelou à gestão Obama depois que ele usou recursos federais para impulsioná-lo. Quando a personalização ficou evidente e as críticas cresceram, parte dos republicanos retirou apoio à medida.

    Esse é o caso de Indiana, do então governador e hoje vice-presidente dos EUA, Mike Pence. Trata-se do primeiro Estado a desistir do novo currículo, em 2014. Uma parcela dos sindicatos docentes também abandonou o barco, reclamando da implementação.

    Na administração Trump, porém, também está Rex Tillerson, secretário de Estado. Em 2013, então como executivo da gigante petroleira ExxonMobil, ele ameaçou tirar seus negócios de Estados que não adotassem o Common Core.

    Como Bill Gates, Tillerson considera o padrão curricular uma ferramenta importante para melhorar a qualidade da mão de obra e dos calouros universitários. Os dois empresários ressaltam a necessidade de haver uma forma clara de medir avanços entre os Estados e evidenciar seus problemas.

    Trump não pode, sozinho, acabar com o Common Core. Mas pode incentivar que as redes estaduais desenvolvam suas próprias expectativas de aprendizagem. Até o momento, não foi divulgado o plano presidencial para o tema.

    "Essa instabilidade faz com que muitos professores deixem a nova base de lado", afirmou Jana Slibeck Francis, superintendente assistente de Educação de Daviess (Kentucky). "Com esses ruídos, muitos acham que é mais uma reforma que não vai dar em nada."

    BRASIL

    O americano David Plank, docente da Escola de Educação da Universidade Stanford, viveu na Bahia, onde foi professor visitante na universidade federal nos anos 1990. Fala português e conhece o sistema educacional brasileiro. Em fevereiro de 2016, apresentou estudo chamado "Implementação da Base Nacional Curricular: Lições do Common Core". Uma de suas sugestões é implementar a BNCC de forma paulatina. Nada da correria de Nova York.

    A inspiração para o Brasil, diz Plank, pode ser a Califórnia, que suspendeu por três anos os sistemas de avaliação para dar tempo de o novo currículo ser implantado. O Estado alocou US$ 4 bilhões para desenvolver materiais e treinar professores, entre outras medidas.

    O professor afirma que o Brasil, em ao menos um aspecto, enfrentará mais dificuldades que os EUA. "Não há o dinheiro que o Common Core teve. As autoridades educacionais brasileiras parecem saber o que é necessário fazer, mas, sem tantos recursos, fica difícil."

    Nos EUA, as verbas foram empregadas para desenvolver testes alinhados ao novo currículo, comprar materiais, preparar professores ou realizar experiências.

    Mesmo com a ajuda dos cofres federais e privados, apenas 39% dos docentes se disseram totalmente prontos para ensinar os novos conteúdos seis anos após o lançamento do Common Core. Além disso, 80% disseram não ter recebido treinamento de qualidade, e fatia equivalente declarou não contar com materiais satisfatórios.

    Outras características do Brasil, no entanto, podem ajudar. Uma lei federal determina a adoção da base, ainda que não exista punição explícita para a quem desobedecer à norma. Nos EUA, o processo é optativo. Os governadores decidem tanto se adotam ou não a padronização quanto a forma como os conteúdos devem ser ensinados.

    A mudança ousada que o Common Core impõe às práticas pedagógicas americanas não se repete no caso brasileiro. Nesse aspecto, a BNCC pode ser considerada menos ambiciosa e mais realista.

    Shannon Glynn, diretora da entidade que lidera a organização do Common Core nos EUA, dá uma dica: "Pela nossa experiência, sugiro que os professores brasileiros sejam envolvidos o máximo possível no processo". Para educadores e sindicatos americanos, os docentes não participaram o suficiente, o que suscitou parte da resistência.

    No Brasil, os professores puderam participar da consulta pública, que teve 12 milhões de contribuições, feita antes da definição final do documento do Ministério da Educação. Não está claro, porém, o papel que terão de agora em diante.

    OTIMISMO

    Ex-secretária de Educação do Rio, ex-diretora de educação do Banco Mundial e atual diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais na FGV-RJ, Claudia Costin, colunista da Folha, mostra-se otimista. A animosidade política que o Common Core enfrentou não deve se reproduzir no Brasil, diz.

    "Há um consenso razoável sobre a necessidade da base, pessoas de diferentes posições ideológicas concordam, é uma exigência da lei. Mesmo assim, certamente haverá dificuldades para alinhar materiais didáticos, mudar a formação de professores. São desafios que temos há anos", disse.

    O Ministério da Educação começa a planejar a implementação. Anunciou um grupo para estudar alterações na formação de professores e afirmou que oferecerá apoio técnico para Estados e municípios.

    A expectativa é que a base curricular esteja implementada em até dois anos após a aprovação final do documento pelo ministro da Educação, Mendonça Filho. Antes disso, o Conselho Nacional de Educação chamará audiências públicas e deverá apresentar sugestões até dezembro. Esse cronograma vale para os ensinos infantil e fundamental. O médio demorará mais.

    Mesmo que tudo dê certo e a base para as duas etapas esteja implementada em 2019, os resultados positivos devem demorar a aparecer. Na cerimônia de apresentação do documento, a secretária-executiva do ministério, Maria Helena Guimarães, disse: "Educação precisa de tempo. Resultados vêm no médio e longo prazo".

    Nos Estados Unidos, sete anos ainda não foram suficientes.

    FÁBIO TAKAHASHI, 37, editor-adjunto de Treinamento da Folha, participa do Spencer Fellowship in Education Reporting, na Universidade Columbia (EUA)

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