O banco de investimentos Lehman Brothers, o quarto maior dos Estados Unidos, anunciou nesta segunda-feira que vai declarar concordata, um dia depois de falharem as negociações de compra da instituição de investimento.
O Lehman informou em comunicado que apresentará a documentação necessária para se declarar em quebra perante o tribunal de Quebras do Distrito Sul de Nova York.
Entenda a crise financeira que atinge a economia dos EUA
A concordata, que já era esperada, ficou iminente depois que o banco britânico Barclays decidiu abandonar as negociações, no fim de semana.
O banco britânico considerou que adquirir o centenário Lehman seria impossível sem uma ajuda dos poderes públicos comparável à que foi decidida em março para o JPMorgan Chase, na compra do Bear Stearns --outro banco também em dificuldades nos EUA por conta da crise de crédito que atinge a maior economia do planeta.
O Lehman Brothers mantém negócios com os principais bancos do mundo e sua provável liquidação deverá causar prejuízos a todas essas instituições. O banco perdeu mais de 77% de seu valor de mercado apenas na semana passada. Apenas entre o início de março e o final de agosto deste ano, a instituição financeira perdeu US$ 6,7 bilhões.
Há 158 anos em funcionamento, o Lehman é o terceiro banco de investimento que quebra ou é comprado em seis meses nos EUA. Em março o Bear Stearns obrigou a intervenção do Departamento do Tesouro. Ontem à noite o Bank of America comprou o Merrill Lynch.
Merrill Lynch
Sem ajuda financeira do governo dos EUA e do Fed (o banco Central dos EUA), os bancos teriam desistido do Lehman e partido para salvar o Merrill, outro banco tradicional de Wall Street, apontado como o próximo arriscado de insolvência na crise iniciada com as hipotecas "subprime" (segunda linha) nos EUA.
O Bank of America também chegou a anunciar seu interesse no Lehman, mas voltou atrás diante da resistência do governo em fornecer financiamento e anunciou a compra do Merrill Lynch por cerca de US$ 50 bilhões.
Com a aquisição, o Bank of America --o maior grupo bancário dos EUA-- consolida ainda mais sua posição de gigante reforçada já por uma série de compras anteriores que incluem o banco hipotecário Countrywide Financial.
A compra do Merrill Lynch serve para enfrentar as conseqüências que pode acarretar a previsível quebra do Lehman Brothers, e permite ao Bank Of America controlar a maior força de intermediários das bolsas de valores do país e cria uma entidade que terá braços em todo o sistema financeiro dos EUA, diz o jornal "The Wall Street Journal".
Plano de ajuda
Ainda em uma manobra para tentar amenizar os efeitos da previsível quebra do Lehman, o Fed anunciou ontem uma ampliação de seus mecanismos de crédito e uma flexibilização das garantias que está disposta a aceitar como aval para esses créditos em uma tentativa de lançar um sinal de tranqüilidade aos investidores.
O BC dos EUA reuniu durante todo o final de semana, em Nova York, os maiores bancos americanos e europeus para viabilizar o resgate do Lehman.
Um consórcio de 10 bancos anunciou um programa de empréstimos de emergência --cujo montante soma US$ 70 bilhões-- para enfrentar a crise de crédito que ameaça a estabilidade do sistema financeiro mundial.
Bank of America, Barclays, Citibank, Credit Suisse, Deutsche Bank, Goldman Sachs, JP Morgan, Merrill Lynch, Morgan Stanley e UBS concordaram cada um em ceder US$ 7 bilhões cada para "ajudar a elevar a liquidez e diminuir a volatilidade e outros desafios que afetam a economia global".
Crise
Neste domingo (14), quem também apareceu para comentar sobre a crise financeira americana foi o ex-presidente do Fed Alan Greenspan. Segundo ele, essa é a pior crise dos últimos 50 anos, e provavelmente do último século, e ainda está longe de terminar.
"Devemos reconhecer que isso (a crise) é um evento que acontece uma vez a cada meio século", explicou Greenspan no programa "This Week", da rede de televisão ABC.
"Não há nenhuma dúvida de que isso está perto de superar tudo o que já vimos, e ainda está longe de se resolver, ainda deve durar algum tempo", alertou Greenspan, que durante 19 anos (até 2006) trabalhou à frente do banco central americano.
Greenspan estimou ainda que o governo federal "não pode estender uma rede de segurança debaixo de todas as instituições financeiras que quebrarem", destacando que os atuais esforços das autoridades para salvar o Lehman Brothers devem se limitar na busca por uma solução sem recorrer ao Tesouro.
Com Folha de S.Paulo, Efe e Reuters