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    Greves destacaram sindicato do ABC e resultaram na criação do PT

    KAREN CAMACHO
    Editora-assistente de Dinheiro da Folha Online

    12/05/2009 09h01

    As greves dos metalúrgicos do ABC de 1978, 1979 e 1980 resultaram no chamado novo sindicalismo, que por sua vez inspirou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros sindicalistas a criarem o PT (Partido dos Trabalhadores). Os protestos, manifestações e discussões levantaram bandeiras que foram encampadas, defendidas, viraram grito de guerra.

    Trinta anos depois, algumas dessas pautas foram acatadas. Outras, no entanto, ficaram nas faixas. Mas a contribuição daqueles movimentos é certa entre políticos e estudiosos: as greves e manifestações dos metalúrgicos do ABC ajudaram no processo de redemocratização do país, que seria concluído em 1984.

    Paulo Cerciari/12.dez.86/Folha Imagem
    Jair Meneguelli, então presidente da CUT, com Lula, presidentedo PT, em frente à sede do Sindicato dos Metalúrgicos; veja mais fotos
    Jair Meneguelli, então presidente da CUT, com Lula, presidente do PT, em frente à sede do Sindicato dos Metalúrgicos; veja mais fotos

    Antes disso, no entanto, alguns trabalhadores já haviam passado pela experiência de cruzar os braços e enfrentar a ditadura.

    Em 1968, funcionários de empresas de Contagem (MG) e de Osasco (na Grande SP) realizaram greves e manifestações por aumento salarial e contra a ditadura militar. O clima era afervorado pelos protestos estudantis da época.

    No 1º de Maio daquele ano, durante as comemorações do Dia do Trabalho, trabalhadores praticamente expulsaram o governador Abreu Sodré de evento na praça da Sé, no Centro de São Paulo, e incendiaram o palanque. O governador e outras autoridades teriam se refugiado na Catedral da Sé.

    Embora inflamados, os embates entre manifestantes e polícia só não se transformaram em carnificina porque Abreu Sodré não ordenou a repressão.

    1979/Folha Imagem
    Vista de multidão em assembleia de metalúrgicos em greve, na Vila Euclides, em São Bernardo do Campo; clique e veja mais fotos
    Vista de multidão em assembleia de metalúrgicos em greve, na Vila Euclides, em São Bernardo do Campo; clique e veja mais fotos

    As greves de 1968 serviram como exemplo, para o bem e para o mal, para as paralisações que aconteceriam dez anos mais tarde, em 1978. Se os trabalhadores tinham o exemplo de que a categoria poderia se organizar, também se lembravam de como a ditadura poderia ser repressora.

    1978

    Às seis da manhã do dia 12 de maio de 1978, mais de 3.000 metalúrgicos da Scania, em São Bernardo, entraram na fábrica, mas não ligaram as máquinas. Tinha início a primeira greve dez anos após a última mobilização, em 1968, ano da promulgação do AI-5, que acabou com a liberdade de expressão e a representação política.

    O país, sob a ditadura militar, era governado por Ernesto Geisel. Os metalúrgicos da empresa do ABC eram liderados pelo ferramenteiro Gilson Menezes. De um lado a luta por aumento salarial e melhores condições de trabalho, do outro, o medo da repressão, já que até reunião pública podia ser considerada ato subversivo.

    Nesse clima, a greve "Braços cruzados, máquinas paradas" iniciaria um movimento que acabaria por inflamar os ânimos em outras empresas, que também pararam dias depois, e serviria de exemplo para outros movimentos, mais organizados e alastrados, em 1979 e 1980.

    Greve geral

    Evanir Rodrigues/18.abr.1980/Folha imagem
    Fotógrafo registra choque entre manifestantes grevistas e tropa da Polícia Militar, em São Bernardo do Campo; clique e veja mais fotos
    Fotógrafo registra choque entre manifestantes grevistas e tropa da Polícia Militar, em São Bernardo do Campo; clique e veja mais fotos

    Em março de 1979, o ABC presenciou nova paralisação. desta vez era uma greve geral. Cerca de 80 mil metalúrgicos se concentraram no estádio da vila Euclides (São Bernardo), reivindicando reajustes acima dos índices oficiais.

    O sindicato estima que 113 mil trabalhadores cruzaram os braços em São Bernardo e Diadema, acompanhados por 47 mil e Santo André e região e outros 25 mil de São Caetano.

    O governo, desta vez, endureceu. Interveio no sindicato, os trabalhadores não alcançaram o que pretendiam, e a greve terminou após duas semanas.

    Mais 45 dias de negociação e Lula comandou um acordo entre patrões e empregados, com reajuste de 63%. Naquele ano, o evento em comemoração ao 1º de Maio reuniu 150 mil pessoas no estádio da vila Euclides.

    Em fevereiro de 1980, nascia o PT. Menos de dois meses depois, outra greve pipocava nas indústrias de São Bernardo. Estendeu-se por 41 dias, sob repressão ainda maior que a de 1979. Os grevistas não conquistaram nada e Lula, preso, acabou afastado do sindicato. Quando deixou o cárcere, assumiu a presidência do PT.

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