Os argentinos deixaram de ser os maiores consumidores mundiais de carne bovina, um posto sustentado durante décadas e agora ocupado pelos uruguaios, também defensores da clássica culinária carnívora, mas sem ter os problemas na produção de seus vizinhos rio-platenses.
O consumo de carne bovina na Argentina caiu para 56,56 quilos per capita no primeiro semestre deste ano, segundo cifras oficiais, ante 58,2 quilos que agora consomem os uruguaios, revelou o Inac (Instituto Nacional de Carnes) desse país.
A ingestão de carne bovina na Argentina passou de 68,72 quilos em 2009 para 56,56 quilos no período de janeiro a junho de 2010, informou um relatório do Ministério da Agricultura e Pecuária desse país, o que representa uma queda de 18,7%.
A inflação, a queda do estoque pecuário devido à seca e a diminuição drástica da atividade pecuária pelo avanço da soja, além do desestímulo às exportações, combinaram-se para que a Argentina caísse do posto de líder que distinguia o país no mundo.
"Há dois anos tivemos recordes de consumo de carne e tínhamos chegado aos 70 quilos per capita, o que superava muito a média de consumo, e agora chegamos a 56 ou 57 quilos de carne per capita", disse o subsecretário de Agricultura, Alejandro Lotti.
Segundo ele, no entanto, "em cinco anos vamos recuperar os valores históricos de cerca de 52 milhões de cabeças e, com isso, assegurar uma exportação da ordem de 400 mil toneladas anuais e um consumo de 60 quilos per capita".
A Argentina sofreu também quase três anos de seca, a pior desde os anos 1960, e o desaparecimento de 12 a 14 milhões de hectares de superfície pecuária sobre um total de 180 milhões de hectares agrícolas no país, uma míngua coberta principalmente pelo cultivo da soja, seu maior produto de exportação.
A alta do custo da carne, de cerca de 40% até agora em 2010, condena os argentinos a limitar o consumo quase diário do popular bife ("bistec") e do típico "asado" ("parrilla" com diferentes cortes) dos fins de semana.
Enquanto isso, as autoridades empenham-se em uma difícil campanha de promoção de pescado, verduras e carne de porco como alternativas.
"O consumo de (carne de) porco melhora a atividade sexual", disse no fim de janeiro a presidente argentina, Cristina Kirchner, para promover o consumo da carne de porco.
Mesmo com esse atributo, os argentinos preferem o estalar das brasas sob a "parrilla" carregada de carne bovina, em vez de consumir as pouco populares chuletas de porco.