Alçado à condição de guru da previsão política nos Estados Unidos, Nate Silver antecipou com exatidão a reeleição do presidente Barack Obama --o estatístico acertou o resultado em todos os Estados do país. Em 2008, errara apenas em um.
Porém quem espera ler apenas sobre política no livro "The Signal and the Noise: Why so Many Predictions Fail - but Some Don't", lançado em setembro passado, irá se decepcionar. Temas como meteorologia, apostas em jogos de azar e epidemias de gripe servem como pano de fundo para métodos que, esses sim, se aplicam à política e à economia.
Dessa forma, o autor utiliza casos específicos para ilustrar ideias gerais. O principal ponto do livro é infundir uma noção probabilística de previsão, em vez de assertiva.
Ou seja: o modo correto de fazer previsões é afirmar que um evento tem tantos por cento de chance de ocorrer, em vez de dizer categoricamente que ele ocorrerá.
Essa visão metodológica, combinada à ideia de que novas informações devem ser sempre levadas em conta, é resumida por uma frase de John Maynard Keynes citada por Silver: "Quando os fatos mudam, mudo de opinião".
O autor, no entanto, não imagina que seja possível fazer uma previsão diretamente objetiva. Vieses e opiniões são inerentes ao processo, argumenta. A questão é saber como influenciam os resultados finais, diz.
"Pesquisas eleitorais encomendadas por partidos políticos, por exemplo, podem mostrar um cenário mais favorável aos candidatos deles --mas não necessariamente ser precisas", ilustra Silver.
PÔQUER E POLÍTICA
Economista formado pela Universidade de Chicago, Silver explica que política não é um interesse pessoal há muito tempo. Ele começou a monitorar o congresso americano em 2006, quando uma legislação tentava banir o pôquer on-line, "na época, uma das minhas principais fontes de renda".
Ao aplicar suas convicções sobre previsões à pesquisa política, no blog "FiveThirtyEight", Nate Silver toma cuidado com um problema inerente a esse tipo de conjectura: a ação humana.
"Em vários casos que envolvem previsões sobre atividade humana, o próprio ato de prever pode alterar o modo como as pessoas se comportam", diz. Alguns eleitores tendem a votar no candidato que está à frente nas pesquisas, por exemplo.
Daí o cenário fluido e subjetivo desse tipo de pesquisa, não estanque e tão objetivo quanto analistas econômicos tendem a pintá-lo.
A partir disso Silver aponta, com razão, a importância de atualizar de modo constante todos os dados previsões. "É muito fácil observar uma campanha eleitoral, ver qual candidato está na frente na maioria das pesquisas e determinar que ele é o favorito", argumenta.
"O que se torna muito mais desafiador é determinar exatamente quão favorito esse candidato é."
Se após duas eleições de Obama ainda há dúvidas sobre o método de Nate Silver, o Oscar, amanhã, é uma boa forma de colocá-lo à prova. O estatístico diz que "Argo", dirigido por Ben Affleck, tem 80% de chances de vencer a categoria de Melhor Filme. Vale a aposta.
THE SIGNAL AND THE NOISE
AUTOR Nate Silver
EDITORA Penguin Press
QUANTO US$ 16,33 (544 págs.)
AVALIAÇÃO bom
Justin Sullivan - 21.jan.2013/AFP | ||
Obama toma posse em Washington; estatístico Nate SIlver previu os resultados de todos os Estados da eleição |