Às vésperas da retomada dos leilões de áreas de petróleo, após um intervalo de cinco anos, a diretora-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Magda Chambriard, diz que gostaria de ver "mais Eikes" no processo.
Leia a íntegra da entrevista
ANP define em breve destino de poço da OGX
Segundo ela, apesar das polêmicas, o empresário é, ao lado da Petrobras, quem mais entrega produção de petróleo no Brasil (hoje, a OGX produz 10 mil barris de óleo por dia).
"A OGX já furou mais de cem poços. Não é empresa ruim, ela investe mais do que as outras, até mais do que devia, e faz as coisas mais rápido que as outras. Na última reunião de diretoria, vimos os planos de avaliação da Petrobras, que são longos, enquanto os da OGX levam 5, 8 meses. Gostaria de ter mais 'Eikes' nos leilões, ele pelo menos entrega produção."
A OGX, assim como outras empresas do grupo EBX, de Eike Batista, sofre com a desconfiança de investidores, o que fez suas ações despencarem nos últimos meses.
A petroleira do empresário causou frustrações no mercado ao entregar uma produção abaixo do previsto.
RECLAMAÇÕES
Considerada por alguns uma escolha técnica para a ANP, Chambriard é alvo de reclamações de que a autarquia estaria favorecendo petroleiras representadas por "lobistas ilustres" -em grande parte, ex-diretores da agência.
Haroldo Lima, seu antecessor, atualmente trabalha na HRT. Newton Monteiro, outro ex-diretor, está na OGX.
A petroleira de Eike Batista está no centro de uma polêmica na ANP. A empresa teve uma multa cancelada pela autarquia, que considerou que o funcionário responsável pela autuação não tinha competência para o ato.
"Era outro fiscal que estava responsável pela fiscalização. Não tinha por que outro funcionário interferir", afirma Magda.
Pietro Mendes, o funcionário em questão, argumenta que mesmo não sendo o responsável pelo auto não pode ser punido por ter apontado irregularidade -a falta de uma válvula, que, segundo ele, poderia colocar em risco a segurança da plataforma.
Mendes foi transferido da Superintendência de Segurança Operacional para a de Abastecimento.
"Se ela [a plataforma] fosse insegura, eu ia ser a primeira a querer fechar, mas o fiscal é que vai me dizer isso, em relatório que sai em breve", diz Chambriard.
Segundo ela, a OGX já foi autuada três vezes nos últimos dois anos, em R$ 7,5 milhões -e pagou.
A questão dos ex-diretores voltou à tona depois que a HRT foi qualificada como operadora A -que pode comprar qualquer área no leilão, inclusive em águas profundas-, apesar de Chambriard ter dito publicamente ser contrária à classificação.
Segundo a diretora, que questionara a experiência da HRT em águas profundas, o que houve foi uma diferença de interpretação do edital do leilão feita pela CEL (Comissão Especial de Licitação).
Chambriard nega que esses casos indiquem favorecimento a petroleiras representadas por ex-diretores.
"Ninguém nunca me pediu nada e todos fizeram quarentena. Haroldo [Lima] foi o único diretor de agência a fazer um ano de quarentena. Nas outras, são quatro meses."
Mas vê como inevitável que ex-funcionários da autarquia trabalhem em empresas do setor. "Quando saem daqui [da ANP], as pessoas não vão nem morrer nem deixar de trabalhar. Eu também, daqui a algum tempo, vou estar em alguma petroleira."