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    De olho nos EUA, Japão desenvolve trem superveloz

    ERIC PFANNER
    DO "NEW YORK TIMES" EM TSURU, JAPÃO

    03/12/2013 03h00

    Enquanto o trem mais rápido do mundo corria pela região central do Japão, George Pataki, ex-governador de Nova York, permanecia de pé no corredor e se maravilhava com a suavidade do transporte. "No metrô, eu precisaria de uma alça, pelo menos", disse Pataki enquanto o velocímetro alcançava 507 km/h. Ele viu de relance o monte Fuji. "Isto é incrível. O futuro."

    O futuro para o Japão, talvez. Para os Estados Unidos, o futuro é menos claro. Pataki e outros ex-políticos americanos estiveram em novembro no Japão para conhecer o trem, que usa uma tecnologia chamada levitação magnética, ou maglev. Eles estão tentando trazer o trem maglev para o movimentado Corredor Nordeste, onde ele poderia fazer a ligação Nova York/Washington com o dobro da velocidade do Acela, da Amtrak, o trem mais rápido dos EUA. Trens maglev poderiam fazer esse percurso em uma hora, em comparação a pouco menos de três horas, em um dia bom, do Acela.

    O Japão é há muito tempo o pioneiro em ferrovias de alta velocidade. Apresentou o mundo aos trens-bala, ou Shinkansen, em 1964, na véspera das Olimpíadas de Tóquio. Mas outros países o alcançaram. França e Alemanha desenvolveram trens de alta velocidade de rapidez equiparável aos dos japoneses. A China construiu uma rede de trens de alta velocidade que ultrapassa a do Japão em alcance, se não em velocidade.

    Para atrair o interesse dos EUA, o Japão se ofereceu para cobrir bilhões de dólares em custos. O comprometimento de verbas do contribuinte japonês é um sinal da determinação do primeiro-ministro Shinzo Abe. O maglev do Japão poderia facilmente se tornar desastroso para o premiê se o país não conseguir exportá-lo. Mesmo no Japão, o maglev enfrenta ceticismo. Um motivo é o custo: aproximadamente US$ 100 bilhões para a linha Tóquio-Osaka.

    O Japão planeja iniciar no ano que vem a construção da primeira linha maglev interurbana, ligando Tóquio a Nagoia e, depois, Osaka. Em testes, o maglev japonês alcançou velocidades de até 580 km/h, recorde mundial para um trem. "É verdadeiramente uma tecnologia de sonho", disse Abe em um discurso na Bolsa de Valores de Nova York, em setembro.

    Quando se trata do maglev, porém, há ainda uma questão de credibilidade. "Os americanos acham que a levitação só acontece em filmes de horror", disse o ex-governador da Pensilvânia Edward Rendell.

    Com o maglev japonês, a levitação ocorre a cerca de 145 km/h. Isso se dá quando as rodas, calçadas com pneus de borracha, se erguem do trilho de concreto. Então o trem maglev flutua 10 centímetros acima do trilho em formato de U, mantendo-se no ar e sendo impulsionado para frente por ímãs supercondutores.

    Para a linha americana, o Japão propôs um método de financiamento que é também novidade. Em um encontro com o presidente Barack Obama no último inverno boreal, Abe propôs entregar gratuitamente o trilho e o sistema de propulsão para o primeiro trecho da linha, ligando Washington a Baltimore, via aeroporto internacional de Baltimore-Washington, uma distância de cerca de 60 km.

    Analistas dizem que o Japão tem tido problemas com a exportação da tecnologia. E calculam que, se os EUA a adotarem, outros o seguirão. A Northeast Maglev, a empresa por trás da iniciativa, quer angariar o restante do dinheiro entre investidores privados e fontes públicas.

    No Japão, muitos continuam céticos quanto à viabilidade financeira da linha maglev Tóquio-Osaka. A previsão é de que o trecho Tóquio-Nagoia seja concluído até 2027 e de que a ligação Nagoia-Osaka venha em seguida, em 2045. Até lá, a população do Japão terá declinado dos atuais 127 milhões de habitantes para 105 milhões.

    "Se você olhar para esse alto custo e a baixa demanda, vai descobrir que não faz nenhum sentido", disse Reijiro Hashiyama, professor visitante da Universidade de Comércio de Chiba, no Japão.

    A empresa Central Japan Railway garante que a nova linha vai criar demanda -tirando negócios de companhias aéreas- por reduzir o tempo dos trajetos e servir a novos destinos.

    O presidente da companhia, Yoshiyuki Kasai, também está otimista com a linha dos Estados Unidos. "No passado, os Estados Unidos eram pioneiros em tecnologia de transportes", disse ele. "Agora, a infraestrutura de transporte dos EUA está em mau estado. Desta vez, por que os EUA e o Japão não lideram o mundo juntos?"

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