O grupo britânico Pearson, controlador do "Financial Times", acertou a compra do Grupo Multi, dono da Wizard e responsável por uma das maiores redes de escolas de idiomas do Brasil.
O negócio totaliza quase R$ 2 bilhões, dos quais R$ 1,7 bilhão serão pagos à família Martins, de Carlos Wizard e sócia majoritária da empresa, e outros R$ 250 milhões serão destinados para liquidar um débito da companhia brasileira.
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O Grupo Multi atende mais de 800 mil alunos nas suas 2.600 escolas fraqueadas com as bandeiras Wizard, Yázigi e Skill. Em 2012, registrou um lucro operacional de R$ 130 milhões.
A aquisição ainda precisa ser aprovada por reguladores e deve ser fechada no próximo ano. A expectativa é que o negócio só contribua para os lucros do grupo britânico a partir de 2015.
A Pearson tem cerca de 600 mil alunos de inglês espalhados em mais de 250 unidades próprias e 350 franquias pelo mundo. Também tem cerca de 500 mil alunos nos segmentos de educação infantil e básica na rede dos Sistemas de Ensino no Brasil.
A companhia britânica justifica a compra citando o potencial de crescimento do mercado de escolas de idioma no país com o avanço da classe média, o ainda baixo índice de fluência do inglês no Brasil, e a realização de grandes eventos internacionais, como Copa e Olimpíadas.
Jorge Araújo - 17.abr.13/Folhapress | ||
O empresário Carlos Martins, na sede do Grupo Multi, em Campinas |
"O apetite de aprender inglês do brasileiro mostra o quanto o Brasil tem crescido rápido e se tornado um grande 'player' no comércio, turismo e hospedando outras indústrias.", afirma, em comunicado, o presidente-executivo do grupo, John Fallon.
O mercado de escolas de inglês no Brasil é estimado em R$ 7,3 bilhões pelo grupo. A Pearson espera que a compra ajude a acelerar o desenvolvimento de suas escolas Wall Street English no Brasil. A rede tem quatro unidades no país e é voltado para um público de classe mais alta.
EMERGENTES
A aquisição aprofunda o envolvimento da Pearson no Brasil, em um momento em que muitas multinacionais estão preocupadas com a estagnação no crescimento das maiores economias da América Latina.
Em 2010, o grupo britânico comprou a divisão de sistemas do SEB (Sistema Educacional Brasileiro) e outros ativos da empresa por R$ 888 milhões, seu primeiro grande negócio no país. No ano seguinte, adquiriu 45% da editora Companhia das Letras por um preço não revelado.
A vontade de se aproximar ainda mais de mercados emergentes e serviços digitais levou o grupo britânico a uma reformulação no comando da empresa e a uma reorganização em seis unidades. Na nova estrutura, divulgada em junho, o grupo permaneceria com três unidades mundiais e ganharia três geográficas, designadas como América do Norte, Base e Crescimento.
A mudança fazia parte da estratégia adotada por John Fallon de alcançar mercados em crescimento -- ele assumiu o cargo de presidente-executivo em janeiro. Em fevereiro, Fallon já tinha anunciado uma reestruturação mundial para reduzir custos anuais da empresa em 135 milhões de libras (R$ 439 milhões).
A economia lhe permitiria investir 50 milhões de libras (R$ 153 milhões) a mais em mercados emergentes, como o Brasil.
OTIMISMO
O Grupo Multi, por sua vez, havia sinalizado ao longo do ano que queria expandir seu alcance no Brasil. O dono do grupo, Carlos Martins, disse que gostaria de alcançar, com a Microlins, 3% do mercado preparatório para o Enem até 2014 e ser a maior rede do setor em três anos.
Em maio, Martins contou em em entrevista à Folha seu desejo de ser o "Starbucks da educação", em referência à rede internacional de cafés.
"Temos perfil expansionista. Já estamos em dez países, com 50 escolas, e pretendemos ser uma marca global. Queremos ser o Starbucks do ensino de idiomas", disse.