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    Sociólogo Domenico de Masi elogia 'ócio' dos brasileiros em novo livro

    RICARDO MIOTO
    DE SÃO PAULO

    21/05/2014 02h00

    O sociólogo italiano Domenico de Masi é apaixonado pelo Brasil. Ele explica: o país, felizmente, tem um pé atrás com a idealização da eficiência e da produtividade.

    O "produtivismo" seria causado pela influência dos americanos e dos economistas.

    "Os americanos espalharam pelo mundo a cultura do 'manager'. A Itália se americanizou, por exemplo. Até na cultura. Hoje, lá, só há rock e cinema americano. Vocês têm Bossa Nova, têm novela", afirma o sociológico.

    Questionado se a americanização não é um desejo de muitos dos próprios brasileiros, o autor diz que sim. "Há esse risco", afirma. "Mas veja o caso do Rio de Janeiro. Se por um lado há uma americanizada Barra da Tijuca, por outro há Copacabana."

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    O Futuro Chegou
    Domenico de Masi
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    Como aponta o sociológico italiano no seu mais novo livro, "O Futuro Chegou" (Casa da Palavra), tal resistência brasileira se deveria à influência indígena, que ele elogia profundamente.
    "Os índios não trabalhavam. Não era necessário. Tudo estava na natureza. Não precisavam nem se vestir, porque o clima era bom. O brasileiro herdou do índio esse senso de ócio."

    Tal elogio ao "ócio criativo" é feita há muitos anos por Domenico. Para ele, pensar é muito mais importante do que trabalhar –no limite, o ideal seria que tudo que não envolva criatividade e pensamento fosse feito por máquinas, libertando o homem.

    No caso dos índios, o autor endossa uma visão generosa sobre sua vida e seu caráter.

    No novo livro, escreve "qualquer branco que atracasse no Brasil, com os pés calçados em pesados sapatos de couro e com o odor fétido da longa viagem, geralmente era acolhido com generosidade por índios nus e alegres e por índias belas e sorridentes, todos predispostos a uma convivência cordial".

    Em outro trecho, Domenico defende que, quando mais perto da pré-história está uma sociedade, mais distante ela está da violência.

    Olga Lysloff/Folhapress
    O sociólogo italiano Domenico de Masi, para quem graças aos índios, ideal da eficiência não ter conquistado os brasileiros
    Domenico de Masi, para quem, graças aos índios, ideal da eficiência não conquistou os brasileiros

    Em entrevista, a Folha questionou o sociólogo italiano sobre isso. Não haveria aí certa inocência, certo romantismo? A ideia de bom selvagem, que remete a Rousseau, não estaria superada?

    Ele aponta que não. "Na pré-história, não havia bomba atômica. Só se matava uma pessoa por vez", afirma Domenico. "O que defendo não é o retorno à vida indígena, que sejamos como eles. O que eu digo é que eles têm algo a nos ensinar."

    No caso brasileiro, ele aponta outras duas consequências da influência da cultura indígena.

    Uma seria uma maior facilidade para lidar com temas sexuais -no Brasil, o pecado e a culpa estariam mais distantes da cama do que em outros lugares.

    A segunda seria um apreço pela estética. "Enquanto Michelangelo estava pintando a parede, os índios brasileiros estavam pintando uns aos outros", afirma.

    SAMBA E SOCIOLOGIA

    Tanto no livro quanto pessoalmente, Domenico surpreende pelo conhecimento da cultura popular brasileira.

    Ao comentar a liberalidade sexual brasileira, cita Chico Buarque afirmando que "não existe pecado do lado de baixo do Equador". Ao falar sobre os índios, cita Oswald de Andrade:
    "Quando o português chegou/Debaixo de uma bruta chuva/ Vestiu o índio/Que pena! /Fosse uma manhã de sol/O índio tinha despido/ O português."

    Quando ouve uma nova expressão que considera divertida -como o "complexo de vira-lata", de Nelson Rodrigues-, pede entusiasmado para o interlocutor anotá-la.

    Uma explicação para esse interesse pelo país é que o Brasil é um raro caso, afirma Domenico, de lugar onde praticamente todos os autores de clássicos sobre o país atuaram na área da sociologia, como Darcy Ribeiro, Sérgio Buarque de Hollanda e Gilberto Freyre.

    "Na Inglaterra, todas as leituras clássicas de economistas. Nos Estados Unidos é parecido", afirma Domenico.

    "Tenho vários amigos economistas. Conheci muitos bons economistas brasileiros, como Eduardo Giannetti e Pérsio Arida. Mas economistas são incapazes de entender que a eficiência produtiva não é o que mais importa."

    Tal visão de mundo naturalmente influencia a obra do sociológico italiano.

    No capítulo que dedica ao Brasil do seu novo livro, por exemplo, a história econômica do país tem como base o pensamento de Eduardo Galeano, jornalista uruguaio que atribuiu a pobreza da América Latina majoritariamente à exploração externa.

    Influenciaram a visão de Domenico sobre o Brasil ainda Leonel Brizola e Oscar Niemeyer, por exemplo, ambos citados no seu livro.

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