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    Refrigerantes perdem espaço no mercado brasileiro de bebidas

    RENATO OSELAME
    DE SÃO PAULO

    14/09/2014 02h00

    O mercado de refrigerantes está perdendo peso no Brasil. Com a migração de consumidores para outras bebidas, as grandes fabricantes têm enfrentado desafios para colocar seus campeões de venda nas mesas dos consumidores.

    Em 2013, a produção de refrigerantes encolheu 3,5%, o equivalente a 572 milhões de litros. A queda surpreende, se considerada a forte expansão da bebida nos últimos dez anos. Até em 2008, auge da crise global, a fabricação cresceu 4,5% no país.

    Entre 2010 e 2012, o consumo per capita caiu 3,3%, de 86,1 litros para 83,31 litros, segundo estudo da consultoria Nielsen. Na grande São Paulo, a redução foi de 9,4%, para 88,8 litros.

    Para a Concept, consultoria especializada em alimentação e bebidas, a queda está relacionada ao aumento de renda da população. Isso permitiu a mais famílias comprar refrigerantes em um primeiro momento, mas também lhes possibilitou experimentar bebidas mais nutritivas.

    "E aí temos produtos como néctares e chás, que concorrem com os refrigerantes. E há uma disputa de categorias", afirma Adalberto Viviani, presidente da empresa. A tendência já é observada nos Estados Unidos e na Europa, onde consumidores estão preocupados em evitar problemas de saúde como a obesidade e a diabetes.

    A migração no Brasil tem impulsionado os néctares, bebidas com maior concentração de suco natural. Em 2013, o volume produzido cresceu 15%, para 1,1 bilhão de litros. A água mineral também teve alta expressiva, de 39%, para 6,8 bilhões de litros. Chás e energéticos, cuja produção ainda é pouco expressiva, cresceram 37% e 25%, respectivamente.

    MULTINACIONAIS

    Para surfar nessa transição, as companhias de bebidas passaram a oferecer novos produtos e mudaram o posicionamento de suas marcas. A Coca-Cola, que se tornou global vendendo refrigerantes, hoje tem por objetivo "oferecer a bebida correta para cada ocasião", de acordo com Marco Simões, o vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da marca para o Brasil.

    Mas nem a estratégia de diversificação tem evitado os maus resultados. A Coca-Cola Brasil sofreu retração de 2% no volume de vendas em 2013. Já a Pepsi Americas Beverages, subsidiária da PepsiCo, informou redução superior a 10% no país em seu relatório anual.

    Para Simões, a redução é pontual e foi causada pela escalada dos juros e pelo clima mais frio registrado no ano passado. Combinados, os fatores teriam retraído o consumo.

    O executivo descarta a possibilidade das demais bebidas superarem os refrigerantes em participação no mercado. "[Mas] temos que trabalhar com o que desejam os nossos consumidores", acrescenta, "Se amanhã eles quiserem mais chá que água, vamos oferecer mais chá. O mesmo vale para produtos carbonatados [com gás]."

    Procurada pela Folha, a PepsiCo não se posicionou sobre os desafios do setor.

    NOVOS PRODUTOS

    Para reter o consumidor, as companhias querem trazer ao Brasil refrigerantes que têm menos calorias, mas mantêm sabor similar aos convencionais. O objetivo é reduzir o açúcar e contornar as críticas de que eles desencadeiam problemas de saúde.

    O projeto, contudo, esbarra na legislação, que não permite adicionar edulcorantes (tipo de adoçante), à bebida. "Isso é permitido em qualquer lugar do mundo, menos aqui", diz Igor Castro, consultor da Abir, associação que representa as grandes fabricantes.

    O Ministério da Agricultura afirma que a mudança é cogitada, mas representantes das companhias de bebidas e do setor sucroalcooleiro não chegaram a um consenso sobre a questão. "Nenhum dos lados conseguiu provar um potencial benefício [da mudança]", diz Marlos Vicenzi, chefe da divisão de bebidas do ministério.

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