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    Só tenho medo de crise se houver desemprego no país, diz Tramontina

    DEISE DE OLIVEIRA
    DE EDITORA-ADJUNTA DE "IMÓVEIS"

    11/10/2014 02h05

    O empresário Clovis Tramontina, 59, é um otimista. Diz reconhecer as dificuldades que o país enfrenta, mas prefere estar preparado para as oportunidades futuras.

    Com 18 mil itens para a casa no portfólio, produzidos em dez fábricas no país –oito no Rio Grande do Sul, uma em Belém (PA) e outra no Recife (PE)–, a Tramontina entrará, no ano que vem, no segmento de eletrodomésticos e churrasqueiras.

    Também em 2015, as cozinhas profissionais, importadas da Itália, passarão a ser feitas em Farroupilha (RS), após investimentos de U$ 15 milhões (R$ 36 milhões).

    Sobre a gestão de uma empresa que produz de talheres a panelas de aço inox e mobiliário em plástico, Clovis Tramontina orgulha-se de ter informações sobre todos os projetos e confiar o desenvolvimento de cada unidade a uma pessoa.

    "Eu posso errar no detalhe, mas quero saber de tudo. Sou o contrário do nosso ex-presidente, que não sabia de nada", diz Tramontina, que aos 30 anos descobriu sofrer de esclerose múltipla, uma doença degenerativa que lhe compromete a mobilidade.

    Para ele, independentemente de quem vença a eleição presidencial, terá que fazer os ajustes que o país precisa para a economia voltar a crescer em 2016.

    "Como nenhum produto nosso precisa de financiamento, meu único medo é o desemprego. De resto, as casas precisarão ser equipadas, e as pessoas continuarão comendo", diz.

    Leia a seguir a entrevista que ele deu à Folha, em São Paulo, antes do evento de lançamento da campanha da nova coleção de panelas.

    *

    Folha - A inflação tem pressionado o consumidor. Como a Tramontina tem lidado com os custos?
    Clovis Tramontina - Nós tentamos fazer uma tabela de preços por ano, subindo de acordo com a inflação, mas nem sempre dá. Neste ano, o aço inox subiu mais de 100%, em ajuste ao mercado externo. E nós reajustamos nossa tabela de aço inox três vezes, em percentuais de até 5%.

    Qual a perspectiva de venda para este ano?
    Projetamos um faturamento de R$ 4 bilhões, 17% maior que o do ano passado. Até agora, já crescemos 13%. Mas, como esse último quadrimestre é o melhor, acho que vamos chegar na meta.

    O senhor é um ponto fora da curva entre o empresariado, que está sempre reclamando.
    Eu acho que não podemos negar as dificuldades. Mas, por outro lado, estamos investindo enquanto todo mundo está recuando. Na hora que ficar bom, nós estaremos na frente. Também estamos investindo para que não entremos em crise.

    E para 2015?
    A projeção é crescer 15%, apesar de todo mundo falar que será um ano difícil. Eu também acho que será, porque ajustes terão que ser feitos na economia independentemente de quem vencer a eleição.

    Dilma ou Aécio?
    A Tramontina tem 103 anos. Já passamos por ditadores, período militar, intelectuais e sindicalistas. Ainda não tivemos empresários e religiosos.
    Na minha visão, se a Dilma vencer, ela fará os ajustes mais paulatinamente. Se for o Aécio, fará com mais impacto. Se eu fosse fazer, seria impactante, porque temos que resolver o país de uma vez para, em 2016, andarmos em outro patamar e voltarmos ao crescimento.

    Como manter no rumo uma empresa que faz de talheres a móveis de plástico?
    O segredo é continuar investindo e manter o foco da empresa, que é a indústria e a produção. Muito empresário ainda acha mais fácil comprar na Ásia e comercializar que investir e produzir aqui.

    Mas a Tramontina abriu loja própria no Rio. Que estratégia é essa?
    É uma ferramenta institucional e de vendas. Estamos procurando abrir unidades onde temos menor participação no mercado. A próxima será uma loja de rua em Salvador. E nada impede que nossos clientes virem nossos parceiros. Mas não há planos de franquias.

    A marca está em 120 países. Qual é o peso das exportações?
    As exportações representam 30% do nosso negócio. Mas temos dificuldades no aspecto governamental, por falta de acordos. Um parceiro da Tunísia me contou que o produto brasileiro paga 30% de taxa, enquanto o europeu entra zerado. É um mercado pequeno, mas é um exemplo.

    E como competir com os chineses aqui dentro?
    Investindo em automação, tecnologia, inovação e fazendo os produtos mais brasileiros. No caso das panelas, a qualidade das chinesas nos prejudicou. Não só pelo aspecto de concorrer diretamente, mas pela má experiência que proporciona a quem compra uma e que não pensará em ter outra.

    E como reagiram?
    Lançamos um produto mais adequado, com preço mais acessível, com a nossa marca e a nossa garantia. Para competir, precisa ser bom dentro de casa. Somos muito competitivos da porta para dentro. Nosso problema é da porta para fora, com logística, distribuição e impostos.

    Que área de negócio o senhor vê com maior potencial agora?
    Todas têm potencial, porque, no mundo, sempre faltarão casas. Em cada novo lar que se formar será preciso faca, panela, cadeira e pia. E não vejo crise em nenhuma de nossas linhas porque nenhuma precisa de financiamento. Eu só tenho medo de crise se tiver desemprego no país. Como eu sou otimista, vejo o Brasil como um país de oportunidades.

    E que novidades a marca prepara para 2015?
    No ano que vem, entraremos na linha de churrasqueiras, com a elétrica, a carvão e a gás, e iniciaremos uma linha top de eletrodomésticos. Não será para o mercado de R$ 19,90. São pequenos eletrodomésticos, produzidos pela marca Breville, na Austrália. Mas, como indústria que somos, já acertamos que, em uma segunda fase, compraremos deles apenas os motores e os acessórios.

    Que outros parceiros a Tramontina tem?
    Nas cozinhas profissionais, há parceria com a italiana Ilsa. Só que já temos uma fábrica de 12 mil m² e US$ 15 milhões em investimentos, em Farroupilha [RS], para começar a funcionar em 2015. Uma dificuldade em vender essas cozinhas é que elas não podem ter financiamento pelo BNDES, por serem importadas. A partir doe 2015, porém, será produto "made in Brasil", fabricado por nós.

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