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    Executivo deixa conselho da Petrobras por 'incapacidade' e 'abusos'

    PEDRO SOARES
    DO RIO

    31/03/2015 12h11

    Ainda sem conseguir compor seu novo conselho de administração apenas com pessoas de renome no mercado, a Petrobras sofreu um revés com o anúncio do conselheiro Mauro Cunha, que decidiu não concorrer a mais um mandato e saiu atirando.

    Em carta, o executivo disse que tomou a decisão diante da "incapacidade do acionista controlador [a União] em agir com o devido grau de urgência para reverter os inúmeros problemas que trouxeram a Petrobras à situação atual" e frente aos "abusos cometidos contra a companhia".

    O executivo faz uma referência indireta à incapacidade da estatal em apresentar um balanço auditado, o aumento do endividamento (em boa medida para atender ao desejo do governo de manter investimentos em projetos não rentáveis, como as refinarias do Maranhão e Ceará) e os atos de corrupção, vindos à tona com a operação Lava Jato.

    Segundo ele, essas incapacidade ficou mais "evidente com as propostas levadas à Assembleia Geral de Acionistas de 2015" –que não prevê a aprovação do balanço auditado (problema mais urgente da estatal porque pode antecipar o pagamento da maior parte das dívidas da companhia), mas inclui um aumento de remuneração de 13% à diretoria da estatal, que vive a maior crise de sua história.

    Ao final da carta, Cunha agradece a "honra e confiança" depositada a ele, mas segue atirando: "Faço votos de que a comunidade de acionistas e trabalhadores defendam a Petrobras dos abusos cometidos contra a companhia". Cunha estava há dois anos no conselho da Petrobras.

    Cunha estava há dois anos no conselho da Petrobras. Ele é um dos dois conselheiros que representam os acionistas minoritários, no caso, os detentores de ações ordinárias (com direito a voto).

    O outro é economista e consultor José Monforte, eleito pelos donos de ações preferenciais (com preferência no recebimento de dividendos). São as duas únicas vagas no Conselho de Administração da Petrobras cuja indicação não cabe à União, controladora da companhia. Ao todo, o colegiado tem dez integrantes.

    CONFLITO DE INTERESSES

    Procurado, Cunha disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não irá se pronunciar até a assembleia de acionistas, em respeito à lei das S/As, que determina sigilo dos membros do conselho.

    A Folha apurou, porém, que na ocasião ele fará um balanço sobre sua gestão e deve intensificar as críticas à ação do governo na companhia e a gestão atual da estatal.

    Além da incapacidade em de chegar a um cálculo das perdas com corrupção que impede o aval da auditora independente PwC ao balanço, o conselheiro se irritou com o fato de nomes de membros do conselho serem divulgados antes serem discutidos em reunião formal do colegiado e do conflito de interesses entre a Vale e a Petrobras, conforme a Folha revelou em 23 deste mês.

    Indicado pelo governo, a Petrobras divulgou que Murilo Ferreira, presidente da Vale, assumirá a presidência do conselho na próxima assembleia de acionistas. No entendimento dos acionistas minoritários, o nome deveria ser apreciado antes pelo colegiado, que elegeu na semana passada para o cargo interinamente Luciano Coutinho, presidente do BNDES e conselheiro da estatal.

    HISTÓRICO

    Formado em economia na PUC-Rio e com especialização em finanças pela Universidade de Chicago, Cunha é presidente da Amec (associação que representa investidores profissionais, como fundos, bancos e gestoras de recursos) há seis anos.

    Antes, havia trabalhado em gestoras de recursos como Mauá Investimentos e Opus. Foi eleito para o conselho da Petrobras em 2013 como representante dos acionistas minoritários detentores de ações ordinárias (com direito a voto).

    Sob sua gestão, obteve na Justiça uma vitória contra a Petrobras, que passou a ser obrigada a apresentar aos investidores estrangeiros a composição das chapas do conselho de administração antecipadamente. Antes, ela só era apresentada na data da assembleia de acionistas e só restava os estrangeiros acompanhar o voto do controlador ou se abster.

    Com a mudança, foi possível, em 2014, a eleição do economista e consultor José Monforte como representante dos donos de ações preferenciais, no lugar do empresário Jorge Gerdau.

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