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    Sem água, empresas pensam em demitir na região de Caruaru (PE)

    FERNANDO CANZIAN
    ENVIADO ESPECIAL A PERNAMBUCO

    21/06/2015 02h00

    André Felipe/Folhapess
    Carlos José da Conceição,funcionário da lavanderia Mamute, que sofre com a seca em Toritama (PE)
    Carlos José da Conceição,funcionário da lavanderia Mamute, que sofre com a seca em Toritama (PE)

    Bairros inteiros com apenas dois dias por mês com água. Vinte e oito sem.

    É assim que cidades de um dos maiores polos produtivos do Nordeste vivem há meses. Em colapso, ou à beira dele, 2 milhões de pessoas em um raio ampliado. E toda uma cadeia têxtil que abastece o maior centro comercial do ramo da América Latina.

    A região de Caruaru, em Pernambuco, tem duas cidades vitais para a indústria têxtil do Nordeste e do Norte: Santa Cruz do Capibaribe, onde o Moda Center reúne mais de 15 mil pontos de venda e chega a atrair 100 mil pessoas por dia em junho; e Toritama, segundo maior polo no Brasil para o beneficiamento de jeans. Principal matéria-prima em falta: água.

    "Na zona urbana as pessoas não estão acostumadas a isto: chegar a uma rua e ver aquela fila de moradores, cada um com um balde, para pegar dez, vinte litros, é um negócio constrangedor, para quem pega, para quem distribui", diz Roberto Tavares, presidente da Compesa, estatal pernambucana responsável pelo abastecimento no Estado.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O regime de chuvas na região de Caruaru está abaixo do normal há quatro anos. Com o fenômeno El Niño configurado em 2015, a seca deve prevalecer mais uma vez no agreste pernambucano.

    A falta de água na região veio em cima da crise geral na vendas de vestuário. Alguns atacadistas contabilizam perdas de até 30% desde o início do ano, demitem e fecham lojas de revenda.

    Em lugar das centenas de camionetes Toyota levando compradores pelas estradas em Santa Cruz (100 mil habitantes) e Toritama (41 mil), a paisagem está coalhada agora de carros-pipa, que precisam buscar água para as cidades cada vez mais longe.

    As maiores represas da região secaram, como em Poço Fundo e Jucazinho.

    Em alguns casos, a distância fez aumentar em até 60% o preço dos carros-pipa, que chegam a custar R$ 160 para entregar 11 mil litros de água não potável.

    Com a barragem seca em Poço Fundo, a população recorre diariamente a baldes e vasilhas para pegar água dos carros-pipa.

    A situação é mais grave em Toritama, que vive basicamente de beneficiar jeans que vêm do Sul e do Sudeste. A Mamute, maior lavanderia local, usava 8 bilhões de litros de água por mês para os jeans (cerca de 40 litros por peça). H

    oje, tem à disposição apenas 4 bilhões de litros (grande parte reciclada), diminuiu turnos de trabalho de 3 para 1, cortou 16 funcionários (de 84) e prevê mais demissões.

    "À crise econômica veio se somar a falta de água", diz Edilson Tavares, dono da Mamute, que fornece peças para grandes redes do Nordeste e do país, como a Marisa.

    Na mesma rua da Mamute, a Rone Jeans passa por drama igual.

    "Pensamos seriamente em demitir já. Mesmo sem água e produção menor, nossos estoques estão abarrotados de roupas que saem de moda rapidamente", diz José Ronaldo Silva, dono da empresa de 75 funcionários.

    O Arranjo Produtivo Local na região próxima a Caruaru gera 150 mil empregos diretos em 18 municípios e movimenta 700 milhões de peças ao ano em artigos de moda.

    Em Santa Cruz do Capibaribe, onde funciona o Moda Center, com 120 mil m² de área coberta para revenda de roupas, lojistas falam em "colapso" de vendas em razão da economia em geral e da falta de água na região.

    O revendedor Nivaldo dos Santos Costa diz que suas vendas e faturamento mensal de R$ 8.000 caíram 50% desde o fim do ano passado. Sua vizinha Lucinete Sobral reclama de que os custos de fabricação subiram, mas que não teve condições de repassá-los.

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