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    Mulheres mais velhas caem em golpes em sites de namoro; veja como evitar

    DO 'NEW YORK TIMES'

    30/07/2015 17h40

    Matt Eich/The New York Times
    Janet Cook, secretária de uma igreja na região de Tidewater, Virgínia, era viúva há uma década quando começou a usar um site de namoro
    Janet Cook, secretária de uma igreja no EUA, era viúva quando começou a usar um site de namoro

    No começo, a atenção constante parecia doce e muito especial.

    Janet Cook, secretária de uma igreja na região de Tidewater, Virgínia, era viúva há uma década quando começou a usar um site de namoro na internet e rapidamente se viu mergulhada em um mar de e-mails, telefonemas e planos para uma visita.

    "Não sou estúpida, mas fui totalmente ingênua", diz Cook, 76, que a partir de julho de 2011 se viu conquistada pelas atenções de um homem que dizia se chamar Kelvin Wells e se descrevia como um empresário alemão de meia-idade em busca de uma pessoa "confiante" e "franca" para acompanhá-lo em viagens a lugares como a Itália, "o destino de seus sonhos".

    Mas em breve ele começou a descrever vários problemas, entre os quais uma internação hospitalar em Gana, para onde teria viajado a negócios, e a pedir que Cook o socorresse —repetidas vezes. No total, ela enviou quase US$ 300 mil ao homem, que aparentemente seguiu um roteiro bem desenvolvido que criminosos online empregam para extrair dezenas de milhões de dólares de membros de sites de encontros a cada ano.

    Muitas dos alvos são mulheres, especialmente na casa dos 50 e 60 anos, muitas vezes aposentadas e vivendo sozinhas. Elas dizem que a sedução via e-mail e telefone cria um elo que pode não ser físico mas é intenso e envolvente. Não se sabe ao certo o número de pessoas vitimadas por fraudes em romances on-line, mas entre 1º de julho e 31 de dezembro de 2014, quase seis mil pessoas apresentaram queixas quanto a fraudes de exploração como essas, relatando prejuízos de US$ 82,3 milhões, de acordo com o Centro de Queixas sobre Crimes de Internet, uma agência federal norte-americana.

    Pessoas mais velhas são alvos ideais porque elas muitas vezes dispõem de poupanças acumuladas ao longo da vida, são donas de suas casas e são suscetíveis a ser enganadas por alguém determinado a fraudá-las. A maioria das vítimas se declara embaraçada em admitir o ocorrido, por medo de serem ridicularizadas por familiares e amigos, que questionarão seu juízo e mesmo sua capacidade de administrar sua vida financeira.

    "Isso arruinaria minha reputação em minha comunidade", disse uma mulher de Pensacola, Flórida, que falou sob a condição de que seu nome não fosse revelado. Ela perdeu US$ 292 mil, conta, para um homem que conheceu on-line no fim de 2013, mas manteve segredo sobre o acontecido para a família e os amigos.

    No começo, Louise Brown, 68, enfermeira no consultório de um pediatra em Burlington, Vermont, também escondeu o fato de que havia sofrido fraude online. Ela disse ter experimentado diversos sites de encontros, entre os quais o eHarmony.com, porque "depois que meu marido morreu, eu não tinha um cônjuge com quem conversar".

    Então, no Match.com, em 2012, ela conheceu um homem que dizia se chamar Thomas. Ele dizia ser empreiteiro e trabalhar com construção de estradas no Maine, e que estava a ponto de partir para uma estadia de trabalho na Malásia.

    "No começo a história fazia sentido, mas depois ele começou a me pedir dinheiro para cobrir despesas como licenças de trabalho", ela disse. "No fim, mandei US$ 60 mil". Depois que ela esgotou sua poupança, o namorado virtual a instou a aceitar de seus amigos dinheiro ilegalmente obtido, e encaminhá-lo a ele. Ela depôs diante dos legisladores de Vermont este ano em uma audiência sobre fraudes nos serviços de namoro via Internet. Foi só quando seu banco de poupança a alertou que ela descobriu que "Thomas" era um trapaceiro.

    Como resultado de investigações sobre mais de duas dúzias de queixas de vítimas moradoras do Estado, o Legislativo de Vermont está a ponto de aprovar uma lei que requereria que os sites de encontros alertem os usuários rapidamente quando houver atividade suspeita em suas contas ou quando um membro tiver sido barrado por suspeita de fraude financeira.

    As vítimas tipicamente perdem entre US$ 40 mil e US$ 100 mil, de acordo com Wendy Morgan, diretora da Divisão de Proteção ao Público na Secretaria da Justiça de Vermont. O prejuízo mais alto reportado no Estado foi de US$ 213 mil.

    Os trapaceiros ganham acesso às pessoas solitárias ao hackear um perfil abandonado em um site e alterar informações como sexo, idade e ocupação, por exemplo, de acordo com os investigadores de Vermont. Depois de contatar a possível vítima, o trapaceiro busca evitar detecção no site de encontros ao insistir em que as comunicações passem a ser realizadas por e-mail, telefone ou mensagens.

    Tipicamente, o trapaceiro diz que fala inglês por ter vivido na Europa ou Estados Unidos, e que está trabalhando como empreiteiro ou construtor na Malásia ou outro país no qual encontra dificuldades junto às autoridades locais. O site romancescams.org identifica alguns pontos suspeitos a que os usuários de sites de namoro deveriam estar atentos e podem identificar esses predadores, por exemplo apelos urgentes a vítimas para cobrir revezes financeiros como multas inesperadas, dinheiro roubado ou perdido, e salários não pagos.

    As autoridades dizem que os trapaceiros seguem um padrão.

    "Conquistam a confiança das vítimas, e depois criam um senso de urgência e exploram a confiança que criaram", disse David Farquhar, da seção de crimes financeiros do Serviço Federal de Investigações (FBI). "Existem temas comuns em todos esses esquemas de exploração da confiança", disse Farquhar, que chefia a unidade de crimes cibernéticos e contra a propriedade intelectual em sua divisão.

    As vítimas que estão em busca de amor e em lugar disso encontram criminosos online deveriam alertar as autoridades, ele disse.

    "É imperativo, para alguém que pensa ter sido trapaceado, agir rapidamente e notificar seu banco e as autoridades", ele afirmou. Mesmo assim, admitiu "as chances de recuperar o dinheiro não são grandes".

    Embora alguns trapaceiros sejam locais, outros são parte de quadrilhas internacionais de criminosos, mais difíceis de rastrear, ainda que, segundo Farquhar, o FBI tenha agentes em alguns países nos quais os trapaceiros da paquera na Internet operam, como Gana e a Nigéria.

    A despeito dos alertas, as versões digitais de golpes financeiros fundados em relacionamentos se espalharam a ponto de a Rede de Vigilância contra Fraudes da AARP (a organização dos norte-americanos de terceira idade) ter instado os sites de namoro a instituir mais salvaguardas contra essas fraudes. As medidas sugeridas incluem usar algoritmos de computador para identificar padrões suspeitos de linguagem, busca de falsos perfis, alerta a membros que tenham tido contato com alguém que esteja usando um perfil falso, e informações que conscientizem os usuários sobre as trapaças românticas.

    A AARP recomenda que desde o começo os usuários de sites de namoros empreguem o recurso de busca por fotos do Google para ver se a foto do potencial parceiro aparece em outros sites sobre outros nomes. Se um e-mail de um potencial parceiro parecer suspeito, copie o texto na caixa de busca do Google e veja se ele aparece em alguns dos sites que alertam sobre trapaças em namoros online, a organização aconselha.
    Mas pode ser difícil resistir à atração dos trapaceiros, disse Brown, de Vermont. "Isso me faz soar muito estúpida, mas ele me ligava no começo da noite e antes de dormir. Parecia tão real. Tínhamos planos de visitar as Bahamas e as Bermudas juntos".

    "Quando descobri que era uma trapaça, me senti muito traída. Não contei à minha família por dois anos, mas é uma carga horrível para sustentar. Mais tarde, eu enviei uma mensagem a ele dizendo que o perdoava", ela acrescentou.

    Tradução de Paulo Migliacci

    EVITE CAIR NO GOLPE

    - Nunca mande dinheiro a pessoas que conheceu virtualmente, por mais confiável que ela pareça. Caso algum usuário peça ajuda financeira, denuncie ao responsável pelo site.

    - Converse muito pela página ou aplicativo antes de passar dados pessoais, como telefone.

    - Proteja suas redes sociais —lá, os golpistas conseguem encontrar informações sobre sua vida que podem facilitar a ação

    - Preste atenção aos detalhes: se uma pessoa pergunta a mesma coisa diversas vezes, ela deve estar conectada a vários usuários ao mesmo tempo. Também fique atento a informações contraditórias ao longo das conversas.

    - Nunca mande fotos comprometedoras pela Internet, elas podem ser usadas para extorsão.

    - O primeiro encontro deve ser sempre em locais públicos. Não deixe ele te buscar em casa, vá por conta própria. Peça para um amigo te ligar durante o encontro e responda: "Sim, cheguei, estou no restaurante/bar/shopping", para que a pessoa veja que algum conhecido sabe sua localização.

    - Assim que perceber a fraude, tente contatar sua instituição financeira. Dependendo do prazo, será possível bloquear a transação no banco de destino. Em alguns casos, um delegado pode intimar o banco a fazer o bloqueio.

    Fontes: Airton Gontow, dono da página Coroa Metade, e Rony Vainzof, professor de direito digital da Escola Paulista de Direito

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