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    Colapso nos preços do petróleo pode levar Azerbaijão ao FMI

    DO "FINANCIAL TIMES"

    27/01/2016 19h00

    Funcionários do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial estão a caminho do Azerbaijão para discutir a possibilidade de um pacote de emergência de US$ 4 bilhões, no que pode ser o primeiro de uma série de resgates relacionados à queda violenta nos preços do petróleo.

    A visita a Baku, que se segue a uma crise cambial causada pelo colapso no preço do petróleo cru, surge em meio a preocupações das duas instituições multilaterais quanto aos produtores emergentes de petróleo, do centro da Ásia à América Latina.

    O Azerbaijão depende do petróleo e do gás natural para 95% de suas exportações e os efeitos adversos da queda em sua taxa de câmbio causaram uma série de protestos em todo o país, abalando o governo do presidente Ilham Aliyev.

    O FMI e o Banco Mundial também estão monitorando os acontecimentos em outros países produtores de petróleo, como o Brasil, que está afundado em sua pior recessão em mais de um século, e o Equador.

    A crise que a queda do petróleo causou na Venezuela despertou até a possibilidade de um reatamento de relações entre o Fundo e Caracas, uma cidade a que equipes oficiais do FMI não viajam há mais de uma década.

    Na semana passada, o Azerbaijão se tornou um dos primeiros países do mundo a recorrer a controles de movimento de capitais em resposta ao colapso nos preços do petróleo, impondo um tributo de 20% sobre remessas de moeda estrangeira para fora do país.

    A moeda da antiga república soviética, o manat, caiu 35% desde que o banco central abandonou a âncora cambial que a equiparava ao dólar, no final de setembro, depois de gastar mais de metade das reservas cambiais do país ao longo do ano.

    A equipe do FMI estará em Baku de 28 de janeiro a 4 de fevereiro, para "uma visita de coleta de dados a convite das autoridades", afirmou um porta-voz do FMI.

    A equipe visitante discutiria a possibilidade de "assistência técnica" e "avaliaria as possíveis necessidades de financiamento". O pacote de financiamento em discussão tinha valor da ordem de US$ 4 bilhões, disseram pessoas informadas sobre as discussões.

    Um porta-voz do Banco Mundial disse que a instituição e o FMI estavam discutindo com o governo azeri medidas imediatas e de longo prazo, "em resposta a pressões sobre a moeda local e aos baixos preços do petróleo".

    O Banco Mundial previu nesta semana que o preço médio do petróleo cru seria de apenas US$ 37 por barril este ano, e alertou sobre consequências em longo prazo. Também acautelou que os países produtores e os mercados de commodities continuavam a enfrentar o risco de uma desaceleração maior que a esperada nas grandes economias consumidoras de petróleo, a exemplo da China.

    "O momento é ruim para os produtores de petróleo e seus credores", a consultoria Oxford Economics alertou na quarta-feira.

    "A história oferece motivos para extremo pessimismo quanto ao destino provável dos produtores de commodities, o que sugere que [os mercados emergentes] estão propensos a calotes e que quedas severas dos preços das commodities são possivelmente a maior causa de calotes."

    Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, começou o ano com uma visita à Nigéria, onde alertou que a maior economia africana teria de fazer "escolhas duras" e que a realidade dos preços baixos do petróleo perduraria por algum tempo.

    As discussões com o Azerbaijão estão apenas começando, e o governo azeri ainda pode optar por rejeitar ajuda do FMI, disseram pessoas informadas sobre o assunto.

    Embora as reservas cambiais do banco central do Azerbaijão tenham caído dramaticamente no ano passado, o país não tem grandes dívidas e opera um fundo nacional de investimento cujos ativos chegavam a US$ 34,7 bilhões no começo de outubro, o que equivale a mais de 60% de seu Produto Interno Bruto (PIB).

    No entanto, a queda nos preços do petróleo causa desgaste extremo à economia do Azerbaijão. Elman Rustamov, presidente do banco central azeri, disse na semana passada que, ao longo de 2015, o balanço de pagamentos do país caiu de US$ 17 bilhões para "praticamente zero".

    A agência de classificação de crédito Moody's anunciou no mês passado que projetava deficit orçamentário de 5,5% para o Azerbaijão em 2016, depois do deficit de 9,2% no ano passado.

    Representantes do governo azeri não responderam a pedidos de comentários na quarta-feira. Samir Sharifov, ministro das Finanças, afirmou em entrevista transmitida pela TV azeri no final de semana que os títulos de dívida interna do governo seriam "uma das fontes" para cobrir o deficit orçamentário.

    Delegações de outras instituições financeiras internacionais, entre as quais o Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, também devem chegar a Baku nos próximos dias.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Edição impressa
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