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    Putin estuda privatizar sete estatais para compensar queda do petróleo

    KATHRIN HILLE
    DO 'FINANCIAL TIMES'

    01/02/2016 21h17

    A Rússia considera privatizar sete estatais, entre as quais a companhia aérea Aeroflot, a mineradora de diamantes Alrosa e a petroleira Rosneft, para fazer frente à queda das receitas em consequência da drástica desvalorização do petróleo.

    Moscou vem continuamente vendendo pequenas participações acionárias nas companhias estatais russas, ao longo dos anos, mas o progresso quanto a isso se desacelerou desde que Vladimir Putin retornou à presidência em 2012.

    As memórias da onda de privatizações com a qual as autoridades econômicas liberais da Rússia tentaram forçar uma transição da economia soviética para a economia de mercado, nos anos 90, continuam a ser um trauma, porque o processo enriqueceu um pequeno grupo de pessoas e criou a classe dos oligarcas russos.

    Os presidentes das grandes estatais, que incluem a mineradora de diamantes Alrosa, as petroleiras Rosneft e Bashneft, as ferrovias estatais russas, o banco estatal VTB, a companhia de aviação Aeroflot e a Sovflotcom, o maior estaleiro do país, foram convocados na segunda-feira a uma reunião na qual Putin discutiu com sua equipe econômica os planos de privatização para este ano.

    "Antes, o motivo principal da privatização era a intenção de ajustar a estrutura da economia e torná-la mais eficiente", disse Oleg Kouzmin, economista da Renaissance Capital para o mercado russo.

    "Agora, a questão de levantar dinheiro, por conta da queda profunda que vemos nos preços do petróleo, se tornou um dos motivos para que a privatização retorne à agenda", ele acrescentou.

    O petróleo cru padrão Brent caiu em 4% na segunda-feira, para US$ 34,50 por barril. O gabinete russo, sob o comando do primeiro-ministro Dmitry Medvedev, está correndo para reformular o orçamento russo para 2016.
    Os planos pressuponham deficit orçamentário de 3% com base em preços médios de US$ 50 por barril de petróleo cru, a cotação que a commodity tinha em novembro.

    Para a Rússia, que até 2014 dependia das receitas da exportação de petróleo e gás natural para cobrir mais de metade de seu orçamento, a queda é dolorosa. No ano passado, a queda dos preços do petróleo reduziu a participação do petróleo e gás natural no orçamento do país a 43% da arrecadação. E essa participação deve cair para menos de 35% se o preço médio do petróleo cru este ano for de US$ 30, na projeção do Sberbank CIB, banco de investimento ligado à maior instituição financeira russa, pelo critério de ativos.

    Moscou já concordou com um corte de 10% nos gastos públicos e tem planos para o caso de um bloqueio compulsório de gastos públicos, duas medidas que devem resultar em economia adicional de um trilhão de rublos (US$ 13 bilhões). "Mas se o preço médio do petróleo for de US$ 30, eles precisarão de mais 500 bilhões a um trilhão de rublos para cumprir sua meta de um deficit orçamentário de 3%", disse Kouzmin.

    A maior fonte potencial de dinheiro para o governo é a privatização. Até agora, os investidores vêm mostrando profundo ceticismo quanto à capacidade de Moscou para cumprir os planos nesse sentido, já que as vendas de ativos estatais maculadas pela corrupção, nos anos 90, causaram rejeição ao conceito de privatização, da parte de muitos russos.

    "Qualquer venda a preços baixos demais nos exporia a suspeitas de que estamos fazendo de novo o que foi feito nos anos 90", disse um funcionário do governo.

    Em 2010, quando Putin era primeiro-ministro e Medvedev presidente, o governo prometeu que venderia ações em algumas empresas estatais. Mas a maioria das grandes ofertas de ações planejadas então foram postergadas até agora. Muitas das empresas contempladas naquele primeiro plano constam da atual lista do Kremlin.

    Uma pessoa que conhece bem o que acontece na Rosneft afirmou que o presidente-executivo Ivan Sechin havia descartado qualquer possibilidade de privatização da companhia, e declarado que não havia decisão definitiva a respeito.

    "Quem olha essa longa lista perceberá que a Sovcomflot é o único caso em que existe uma chance realista", disse o presidente de um banco europeu na Rússia.

    Putin na segunda-feira minimizou quaisquer esperanças quanto a uma agenda ambiciosa de privatização. O Estado não deve perder o controle de companhias estratégicas, e participações em empresas estatais só devem ser vendidas a compradores registrados na Rússia, ele declarou em sua reunião com os executivos de estatais. O presidente também advertiu: "Não haverá vendas de ações por uma ninharia ou a preços abaixo do mercado".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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