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    Lucro de bancos privados cai, mesmo com juro alto no Brasil

    TÁSSIA KASTNER
    DE SÃO PAULO

    04/05/2016 02h00

    Nem mesmo os grandes bancos privados do país escaparam da recessão econômica. Aumento das despesas contra calotes de grandes empresas, inadimplência em alta e redução nas carteiras de crédito minaram os lucros de Itaú, Bradesco e Santander.

    Nesta terça (3), o Itaú anunciou tombo de 9,9% em seu lucro líquido recorrente quando comparado com igual período de 2015. O impacto maior veio do aumento de custos com provisões para devedores duvidosos (veja quadro).

    Marcelo Kopel, diretor de relações com o investidor do banco, afirmou que o reforço nas reservas é para grandes empresas, inclusive no setor de óleo e gás. Ele disse ainda que a medida "tem caráter antecipatório" e não está relacionada a um único grupo.

    Na semana passada, o Bradesco disse ter separado R$ 836 milhões para proteção contra calote de uma única empresa do setor de óleo e gás, que, segundo a Folha apurou, é a Sete Brasil.

    BANCOS PRIVADOS - Inadimplência em alta afeta lucro dos bancos

    O lucro líquido do Bradesco encolheu 3,8%, enquanto o do Santander avançou 1,7%.

    O aumento das provisões é uma das frentes de proteção dos bancos contra a inadimplência, que sobre trimestre a trimestre.

    As instituições também estão tomando a iniciativa na renegociação com grandes empresas, que concentram hoje o maior risco.

    "A situação é mais drástica na pessoa jurídica, que é maior e mais sensível. Todo mundo sabe que a renda caiu e o desemprego em alta. Para pessoa física, isso está na conta", diz Salles.

    "Com o aumento das recuperações judiciais, o que os bancos têm tentado fazer é renegociar", diz Luis Miguel Santacreu, da Austin Ratings.

    Ao detalhar resultados do Bradesco na semana passada, Luiz Carlos Angelotti, diretor gerente e de relações com investidores, afirmou que o banco tem feito renegociações com clientes em que se percebe expectativa de recuperação do crédito, "visando proteger o cliente".

    A outra forma de limitar a alta nos calotes é restringir empréstimos de maior risco, sem garantia.

    As carteiras encolheram neste primeiro trimestre, mas cresceram para pessoa física nas linhas de consignado e imobiliário.

    "Os bancos estão se voltando para essas vertentes de crédito para evitar uma queda mais expressiva em suas carteiras, tudo por causa das garantias", afirma João Augusto Salles, economista e analista de bancos da Lopes Filho Consultoria.

    ESCASSO E CARO

    As renegociações não significam, contudo, juros menores. A margem financeira dos três bancos se expandiu nos três primeiros meses do ano quando comparada a igual período de 2015.

    O Itaú projeta que a taxa básica de juros, hoje em 14,25%, terminará o ano em 12,25%. Ao invés de espremer a margem, no entanto, a redução deve ser positiva para o Itaú, segundo Kopel.

    "Vai viabilizar que a carteira de crédito volte a crescer, já que a taxa de juros menor permite que comprador tenha maior capacidade de tomar crédito", disse.

    Para Santacreu, dependerá dos bancos. "Claro que a Selic vai cair. Pode ajudar, mas tem que ver se cai para o consumidor com a mesma magnitude."

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