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    Após 9 anos e R$ 1,6 trilhão, legado de Coutinho no BNDES é controverso

    BRUNO VILLAS BÔAS
    DE DO RIO

    01/06/2016 02h00

    Sérgio Lima/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, BRASIL, 09-04-2014: Entrevista exclusiva do presidente do BNDES, Luciano Coutinho à Folha/UOL. (Foto: Sérgio Lima/Folhapress, PODER)
    O ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho

    Mais longevo presidente da história do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho deixa o banco da avenida Chile, no Rio de Janeiro, com um legado controverso, segundo economistas ouvidos pela Folha.

    Em nove anos sob sua presidência, de maio de 2007 a maio de 2016, o BNDES aprovou operações no valor de R$ 1,56 trilhão. O total desembolsado foi de R$ 1,2 trilhão, o equivalente a 43 vezes o orçamento do Bolsa Família (R$ 28 bilhões em 2016).

    Foi também sob sua gestão que o BNDES implementou a hoje extinta política de formação de "campeões nacionais" –companhias selecionadas para se tornar gigantes em seus setores e competir no mercado internacional.

    O banco virou assim um símbolo do modelo econômico do segundo mandato do presidente Lula e do primeiro mandato de Dilma Rousseff, orientado pela expansão de gastos e aumento do papel do Estado na economia.

    Coutinho será substituído nesta quarta (1º) na chefia do banco pela executiva Maria Silvia Bastos Marques.

    SOCORRO NA CRISE

    O papel do BNDES começou a crescer sobretudo após a crise iniciada no mercado hipotecário americano, em setembro de 2008. O banco socorreu empresas que quase foram à lona após especular com derivativos cambiais, como Aracruz e Sadia.

    O Brasil implantou uma política de expansão do crédito e redução de impostos a setores escolhidos. Isso impulsionou a projeção do banco. De lá para cá, os desembolsos dispararam: cresceram 189% de 2007 a 2015.

    O problema é que os desembolsos eram sustentados por transferências do Tesouro, o que elevou a dívida pública. O BNDES deve hoje R$ 518 bilhões ao Tesouro.

    Bancos de fomento tem como função apoiar a expansão e modernização de empresas. O resultado dessa política no Brasil, porém, é contestado por Sergio Lazzarini, professor do Insper e coautor de um livro sobre o BNDES.

    "Mesmo com desembolsos do BNDES, a taxa de investimento pouco se moveu. Foi um período de desindustrialização. Houve ainda críticas de favorecimento", diz.

    Para ele, a expansão do BNDES teve elevado custo aos cofres públicos, calculado pela diferença da TJLP (taxa de juros de longo prazo) e a Selic (juros básicos), que o Tesouro paga na sua dívida.

    "Fora o custo de oportunidade, que seria aplicar o dinheiro em educação, saneamento, saúde", afirma.

    GANHOS

    Coutinho costuma discordar dessa conta. Afirma que ela desconsidera benefícios como os lucros do BNDES e os impactos sobre investimento e geração de impostos.

    Nascido em Pernambuco, Coutinho tem doutorado pela Universidade Cornell (EUA) e foi professor na Unicamp. Antes de assumir a presidência do BNDES, era sócio da LCA, que presta serviço de consultoria a empresas.

    Mauricio Canêdo Pinheiro, economista do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, diz que uso do BNDES para financiar operações de grandes empresas nunca teve "sentido econômico" e não tem "ganho social".

    Para ele, o legado positivo de Coutinho seria ter ampliado as linhas de apoio financeiro, como em inovação.

    "Coutinho não chegou lá. Ele executou a política do governo, com custo fiscal altíssimo, tributando sociedade para emprestar a juros muitas vezes subsidiados."

    Com a crise fiscal brasileira, o BNDES precisou pisar no freio. Tornou seus financiamentos mais caros e restritos. Os desembolsos do banco despencaram 28% em 2015 para R$ 135,9 bilhões.

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