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    MARCAS DA CRISE

    Apoio do governo não se traduz em mais empresas inovadoras

    ÉRICA FRAGA
    MARIANA CARNEIRO
    DE SÃO PAULO

    02/01/2017 02h00

    Os dados de inovação no país mostram que aumentou o número de empresas que recebem suporte do governo, mas isso não resultou em mais inovação.

    Segundo Fernanda de Negri, diretora de estudos setoriais do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o percentual de empresas que recebiam apoio do governo para inovação subiu de 19%, em 2000, para 46%, em 2014. Mas o número de inovadoras no setor industrial (o único cuja evolução é acompanhada desde o início da pesquisa) subiu menos, de 31,5% para 36,4%.

    "Aprendemos com isso que só política pública não funciona. É preciso ter dinheiro público, em todos os países do mundo se faz isso. Mas talvez nós não tenhamos conseguido gerar condições competitivas para que as empresas sejam levadas a inovar."

    Investimentos em pesquisa e desenvolvimento -

    Segundo ela, o mercado doméstico protegido contra concorrentes estrangeiros em muitos setores e dificuldades de entrada a novos empreendedores são barreiras que desestimulam a competição e minam a vontade de inovar.

    "O ambiente de negócios muito complexo, em que é difícil conseguir licenças para operar, alvarás etc., cria uma série de barreiras à entrada de novos empreendedores, que desestimula a competição."

    As políticas desenvolvidas pelo governo também precisam de revisão, como o Inovar-Auto e a Lei de Informática, segundo a especialista. Os incentivos que dão desconto no imposto devido, afirma De Negri, poderiam ser concedidos apenas sobre a parcela adicional de investimento em Pesquisa e Desenvolvimento das empresas.

    Taxa de inovação por setor - Número de empresas inovadoras em relação ao total, em %

    COMPARAÇÃO

    "Se comparar o Brasil com outros países em desenvolvimento, não gastamos tão pouco assim [em recursos públicos] em inovação."

    Levantamento da OCDE com dados de 2013 (mais recentes) mostra que o Brasil aplica o equivalente a cerca de 0,15% do PIB em recursos públicos para financiar ações de inovação no setor privado, mais do que Austrália e até do que a Alemanha.

    Isso inclui incentivos fiscais (desconto de impostos) e subvenção para empresas (crédito a fundo perdido). O investimento privado é que é pequeno no Brasil se comparado com outros países, observa De Negri.
    Segundo o IBGE, o investimento das empresas (com recursos próprios e públicos) em pesquisa e desenvolvimento foi de 0,61% do PIB em 2014.

    Diante da limitação orçamentária do governo, De Negri prevê que os recursos públicos dedicados à inovação devem se escassear, após um período de aumento do suporte público às empresas.

    O teto de gastos do governo, que entra em vigor neste ano e fixa um limite de crescimento das despesas, deverá restringir recursos, diz De Negri, imaginando que o setor perca na disputa por verba.

    "Não adianta termos investido até razoavelmente e agora não termos dinheiro nenhum para inovação. Tem que ter continuidade", diz.

    A série "Marcas da Crise" mostra os impactos provocados pela recessão, talvez a mais profunda da história do país. Alguns dos efeitos podem afetar a capacidade de reação da economia. Veja as outras reportagens da série em folha.com/marcasdacrise

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