• Mercado

    Thursday, 09-Jan-2025 12:40:10 -03

    Culto da Uber vira desafio para avanço da empresa

    DO "FINANCIAL TIMES"

    12/03/2017 02h00

    Danish Siddiqui - 19.jan.2016/Reuters
    FILE PHOTO Uber CEO Travis Kalanick speaks to students during an interaction at the Indian Institute of Technology (IIT) campus in Mumbai, India, January 19, 2016. REUTERS/Danish Siddiqui/File Photo ORG XMIT: DEL08
    O CEO da Uber Travis Kalanick participa de conversa com estudantes em Mumbai, na Índia

    Para Travis Kalanick, presidente-executivo da Uber, "pisar nos dedos" é uma coisa boa. Na realidade, ele considera esse um dos valores centrais da empresa, ao lado de slogans como "deixe os construtores construírem".

    A sua atitude obstinada ajudou a transformar, em sete anos, o serviço de transporte em uma companhia global, avaliada em US$ 70 bilhões. Para o bem e para o mal, a arrogância de Kalanick ajudou a definir a empresa.

    "A Uber é o que é por causa dele", diz Bradley Tusk, um dos primeiros investidores da companhia e conselheiro de Kalanick. "Ela não seria tão valiosa sem ele."

    No entanto, uma série de crises nas últimas semanas levantou questões sobre se o executivo pisou em muitos dedos e se tem a maturidade para guiar a empresa.

    Na lista de problemas estão acusações de assédio sexual e sexismo dentro da empresa, um bate-boca de Kalanick com um motorista do aplicativo e a descoberta de um sistema para enganar autoridades que podiam estar contra o serviço.

    Em meio a críticas de usuários e investidores sobre a "cultura tóxica" da companhia, a resposta de Kalanick foi afirmar que estava em busca de um diretor de operações, de um "parceiro".

    A conclusão foi óbvia: o executivo de 40 anos estava procurando alguém como Sheryl Sandberg, diretora de operações do Facebook, que ajudou a equilibrar algumas das deficiências de um jovem Mark Zuckerberg, nos anos que antecederam a entrada da empresa na Bolsa.

    Contratar um diretor respeitado ajudaria a acalmar os investidores, mas pessoas que trabalharam com Kalanick dizem que seria muito difícil ele dividir o poder, já que comanda a empresa desde 2009 e tem controle absoluto.

    E pelo menos um acionista tem dúvidas se o executivo é a pessoa certa para conduzir a companhia para a venda de ações na Bolsa. "É o momento de ele dar um passo atrás", disse esse acionista que pediu que não tivesse o nome revelado, "e deixar um adulto ser o presidente."

    Acionistas também demonstram preocupação com seu estilo agressivo de liderança –seus subordinados cederiam muito para ele.

    "Ele desenvolveu claramente um culto do Travis e isso no fim das contas vai se tornar muito destrutivo", disse um acionista. "Ele tem de alterar a cultura, e o modo de fazer isso é colocando gente que não tenha medo de falar e que tenha poderes para fazer mudanças", completou.

    Kalanick criou um ambiente de trabalho que é pesado até para os padrões das start-ups de tecnologia nos EUA.

    "Quando eu entrei lá, era como ir em direção a uma motosserra", diz um ex-funcionário que trabalhou lá por sete meses. Segundo ele, o rápido crescimento da empresa criou vácuos de liderança e os trabalhadores não dividem informações com os outros na esperança de conseguir uma promoção.

    "A Uber é masculina, obstinada pelo desempenho", disse Guillaume Champagne, da empresa de recrutamento SCGC. "O Airbnb é predominantemente feminino, focado mais na missão e menos no desempenho de curto prazo.

    "A maioria das empresas de tecnologia fica no meio desses extremos."

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2025