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    Aproveitam fragilidade institucional do Brasil para barrar carne, diz indústria

    DA REUTERS

    23/06/2017 12h12

    Edson Silva/Folhapress
    BARRETOS, SP, BRASIL, 25-11-2008: Funcionários trabalham na linha de produção do frigorífico Minerva, em Barretos, interior de São Paulo. (Foto: Edson Silva/Folhapress, Folha Ribeirao
    Funcionário em frigorífico em SP

    A SRB (Sociedade Rural Brasileira) saiu em defesa da carne brasileira, após os Estados Unidos suspenderem importações da carne bovina do país nesta quinta (22). A entidade credita a restrição ao cenário de crise política e econômica nacional.

    "A fragilidade institucional nos mais altos níveis da nação criou um descrédito do país. [...] Isso permitiu aos concorrentes aproveitar a situação para impor as sanções comerciais ao Brasil nos últimos dias", afirma em nota.

    Para a SRB, o produto de origem animal do Brasil está entre os melhores do mundo. "O setor produtivo do Brasil é extremamente moderno, o que, certamente, causa temores aos nossos concorrentes. A indústria de processamento é, quase na sua totalidade, muito nova e moderna, até mesmo como resultado do recente e importante crescimento que tivemos na produção e exportação de produtos de origem animal", diz a entidade.

    As perdas decorrentes da suspensão das exportações de carne in natura do Brasil para os Estados Unidos são "intangíveis", com impacto para a imagem do país sendo maior do que o financeiro, disse o presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), Antonio Camardelli.

    O Brasil não é grande exportador para o mercado americano, mas a chancela dos EUA dava ao país, maior exportador global, possibilidade de conseguir entrar em mercados importantes para a carne in natura, como Japão e Coreia do Sul.

    "Se olhar o aspecto financeiro, é importante para o país [a receita gerada], mas o prejuízo grande é de imagem, levamos muito tempo para conquistar esse mercado, porque ele é um passaporte para outros mercados", disse Camardelli.

    Os EUA suspenderam todas as importações de carne bovina in natura do Brasil nesta quinta-feira (22), devido a recorrentes preocupações sobre sanidade de produtos.

    Camardelli acredita que a suspensão será resolvida no curto prazo, uma vez que medidas corretivas já estão sendo tomadas.

    De janeiro a maio, as exportações de carne bovina in natura do Brasil para os EUA somaram 4,68 mil toneladas, o equivalente a US$ 18,9 milhões, de acordo com dados da Abiec. As exportações totais do Brasil de carne bovina, incluindo produto industrializado, estão estimadas em cerca de 1,5 milhão de toneladas/ano.

    O Brasil, que sempre foi um exportador relevante de carne industrializada aos EUA, conseguiu um acordo para exportar o produto in natura apenas no segundo semestre do ano passado, após vários anos de negociação.

    Os EUA prometeram agora liberar o produto brasileiro assim que o país corrigir erros apontados pelo Departamento de Agricultura americano em questões de sanitárias e outras relacionadas à saúde animal.

    Para a Abiec e a diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, o motivo da suspensão são abscessos verificados na carne exportada, decorrentes de uma reação da vacina contra a febre aftosa no rebanho.

    "É um problema de padronização, somos o único país livre de aftosa com vacinação que exporta aos Estados Unidos", ponderou Lygia.

    Camardelli explicou que o setor já estava tomando medidas antes mesmo da suspensão, retirando os abscessos da carcaça verificados visualmente e fracionando-a em busca dos abscessos que não estavam aparentes, um procedimento que, aliás, gera segundo ele, um prejuízo diário de até 1,5 tonelada, por cortes que inicialmente não seriam necessários.

    "E mesmo assim, por abscessos não visíveis, esse problema foi detectado", disse ele, ressaltando que o problema não vem de uma vacina mal aplicada, mas sim de uma reação ao componente da vacina.

    Ele preferiu não responder se a vacina poderia ter componentes alterados para se evitar tais reações.

    O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, já informou que viajará aos EUA para prestar esclarecimentos sobre o problema, buscando reverter a suspensão.

    "Estou bastante otimista sobre a solução do problema, para reverter é preciso apresentar medidas corretivas, como já está sendo feito... A curto prazo a gente consegue reverter...", disse Camardelli.

    EFEITO PEQUENO

    Para a analista da Agrifatto, depois de tantos escândalos no setor neste ano, como a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que inclusive levou a uma maior fiscalização pelos EUA, o Brasil tem mais um problema para lidar.

    "Não é um problema de saúde pública, mas como já se gerou estresse com a operação... infelizmente é um ano difícil para o Brasil."

    De qualquer forma, ela não acredita em grande efeitos relevantes para o mercado pecuário brasileiro, cujos preços já estão pressionados pela crise na JBS e uma sobreoferta de animais para abate. Isso porque os EUA não são grandes importadores do produto brasileiro.

    Grande companhias que estavam habilitadas a exportar para os EUA, como Minerva, têm a alternativa de atender os clientes norte-americanos a partir de outras unidades, o que minimiza o prejuízo corporativo.

    A Minerva, uma das maiores produtoras de carne bovina da América do Sul, afirmou em nota nesta sexta que a suspensão aos embarques de produto in natura do Brasil pelos Estados Unidos não compromete o volume de exportações da companhia. Mas que enquanto persistir a suspensão, a empresa vai atender os clientes nos Estados Unidos com o produto de suas unidades situadas Uruguai.

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