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    Cifras & Letras

    Crítica

    Economista ataca juros altos sem apontar saída convincente

    GUSTAVO PATU
    EDITOR DE "OPINIÃO"

    01/07/2017 02h00

    Marlene Bergamo - 27.jun.2016/Folhapress
    O economista André Lara Resende, um dos formuladores do Plano Real e de outros planos de combate à hiperinflação
    O economista André Lara Resende, um dos formuladores do Plano Real e de outros planos de combate à hiperinflação

    Tornou-se mantra apontar que o Brasil abriga as maiores taxas de juros do planeta. Nem sempre a afirmação é precisa: há pouco a Rússia subiu ao topo da lista; não se sabe tudo o que acontece nos rincões do Terceiro Mundo.

    Entretanto, é fato que, há mais de duas décadas, as taxas reais (acima da inflação) brasileiras mantêm-se muito acima dos patamares tidos como razoáveis a partir da experiência internacional.

    Nem por isso o objetivo de conter a alta dos preços foi atingido a contento. A hiperinflação chegou ao fim nos anos 1990, é verdade, mas ainda não se chegou a um padrão civilizado para os índices de alta do custo de vida.

    Dado que os especialistas mais renomados não encontraram explicação satisfatória para o fenômeno, o debate sobre juros ultrapassou as fronteiras da tecnocracia e instalou-se na esfera política.
    Isso pode significar tanto o interesse em compreender e aprimorar a gestão da economia como, mais frequentemente, teorias conspiratórias e bravatas demagógicas.

    Tal contexto ajuda a entender a repercussão provocada por uma pergunta apresentada, no início deste ano, pelo economista André Lara Resende: e se os juros altos estiverem alimentando –e não combatendo– a inflação?

    Exposta inicialmente em um artigo publicado pelo jornal "Valor Econômico", a tese mais que controversa ganha agora a forma do livro "Juros, Moeda e Ortodoxia".

    HETERODOXIA

    O autor é um heterodoxo, mas não na acepção pejorativa que pensadores de formação, alianças ou interesses duvidosos fizeram o termo merecer no Brasil.

    Não se fala em Lara Resende sem recordar sua con- tribuição decisiva para os planos que, desafiando teorias convencionais, procura- ram debelar a hiperinflação no país –tanto o exitoso Real como seus antecessores fracassados.

    Sua mais recente provocação se ampara na perplexidade com que o mundo rico acompanha outro paradoxo: a adoção de juros próximos de zero, nos EUA, na Europa e no Japão, não resultou em aceleração inflacionária.

    No livro, o economista demonstra consciência dos riscos que correu ao questionar a política monetária.

    Entre eles, conferir respeitabilidade intelectual a pressões interesseiras de políticos e empresários contra a ação do Banco Central –ou ser confundido com os que pregam soluções mágicas para problemas complexos.

    O texto defende, porém, que um tema tão fundamental precisa ser exposto ao público. Numa analogia voltada aos leigos, compara os juros a um medicamento que debilita o paciente sem curar sua doença crônica.

    "Deve-se continuar a ministrar doses maciças do remédio ou reduzi-las rapidamente?", questiona.

    NA PRÁTICA

    Uma resposta poderia ser recordar a malfadada tentativa de redução forçada das taxas do BC, no governo da petista Dilma Rousseff. Tudo o que se colheu foi mais inflação e, depois, mais juros.

    Com o IPCA agora finalmente em queda, prevalece a turma do deixa-disso: por fascinante que seja o debate da teoria, não há como colocar em prática ideias que carecem de evidência empírica.

    O livro de Lara Resende não parece reunir argumentos capazes de encorajar algum experimento inovador e arriscado nesse campo.

    Seu mérito principal é iluminar falhas históricas do pensamento que embasa as políticas monetárias, além do tribalismo vicioso de economistas encastelados em comunidades que desprezam as hipóteses
    alheias.

    Juros, Moeda E Ortodoxia - Teorias Monetárias E Controvérsias Políticas
    André Lara Resende
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    Os não especialistas devem deixar para depois o segundo dos seis capítulos da obra (fora introdução e conclusão), rebuscado em excesso. No sexto, o próprio autor sugere que os não iniciados pulem as fórmulas matemáticas.

    Tudo somado e subtraído, conclui-se que não haverá solução virtuosa sem o equilíbrio do Orçamento do governo brasileiro –algo que só se conhece de ouvir falar.

    Juros, Moeda e Ortodoxia - teorias monetárias e controvérsias políticas
    QUANTO: R$ 39,90 (192 PÁGS.)
    AUTOR: ANDRÉ LARA RESENDE
    EDITORA: PORTFOLIO PENGUIN

    Edição impressa
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