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    Fim das lan houses deixou lacuna, diz pioneiro do setor

    NATÁLIA PORTINARI
    DE SÃO PAULO

    16/07/2017 02h00

    Marcel Fukayama
    CDI COMUNIDADES - Marcel Fukayama - Em agosto de 1994 eu vi uma tela parecida com essa. Era um MS DOS 6.22 em um Intel 80486 DX2 66MHz com HD de 540MB. Naquela tela preta cheia de letrinhas brancas eu aprendi a aprender. Essa e uma foto feita em um dos 715 CDIs Comunidades. Locais em que, atraves de uma metodologia de resolucao de problemas sociais, o CDI forma jovens para uso da tecnologia para transformar vidas e desenvolver comunidades. Credito:Marcel Fukayama ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Criança aprende a usar computador em projeto do CDI Lan

    Em 2001, quando entrou pela primeira vez em uma lan house, Marcel Fukuyama, aos 17 anos, encontrou um ambiente escuro, povoado por adolescentes do sexo masculino. A finalidade lá era uma só: jogar "Counter-Strike". Ele viu logo o potencial de transformar as lojas em espaços de estudo e trabalho. Na época, 8% da população brasileira tinha internet em casa, de acordo com a Nielsen.

    "Minha ideia sempre foi democratizar o acesso. Mas, assim que abri a loja, lidei com um projeto de lei que queria proibir lan houses em São Paulo", diz o empreendedor, que foi dono de uma das primeiras redes do setor.

    Com sua intervenção, a lei mudou, exigindo apenas que cibercafés tivessem "ambiente saudável e iluminação adequada". No Rio, ele ajudou a derrubar uma lei que proibia lans no raio de 1 km de instituições de ensino.
    "A lan house era um centro de conveniência, para baixar música, trabalhar", diz.

    Em 2008, 47% dos brasileiros usavam a web em lan houses, ante 43% que acessavam na própria casa, segundo o CGI (Comitê Gestor da Internet). Na área rural, o uso de lan house era ainda mais relevante. Segundo o CGI, as cerca de 100 mil lan houses no país deviam ser vistas como "o âmago das políticas públicas" de acesso à internet.

    Nessa época, Fukuyama fechou sua loja e virou diretor do CDI (Centro de Inclusão Digital). O CDI Lan, comandado por ele, tinha 2.300 lan houses que seguiam um código de conduta e ofereciam cursos para crianças.
    "Fizemos acordo com a Microsoft para baixar o preço das licenças do Windows, porque havia muita pirataria."

    Nos anos seguintes, o smartphone mudou radicalmente o que se entende por inclusão digital. A proporção de domicílios com internet no celular chegou a 80,4% em 2014. Pela primeira vez, mais de metade da população rural tinha acesso à telefonia móvel, incluindo muitos que nunca usaram computador.

    Segundo o IBGE, em 2015 40,5% dos domicílios estavam conectados via computador, e 17,3%, via celular.

    Nem todos têm dinheiro para pagar internet em casa ou um plano de dados móvel. "A evolução da lan house são os hotspots de wi-fi, que dividem um roteador no bairro", afirma Fukayama. "O fim das lan houses deixou uma lacuna. Desenvolver projetos é difícil, porque perdemos a figura do dono do negócio. O desafio é que a chegada do 5G [rede superveloz] não aprofunde ainda mais a desigualdade no acesso", diz.

    Um estudo da União Europeia estima que a criação de uma rede 5G lá custaria € 58 bilhões -no Brasil, isso poderia criar disparidades entre cidades, teme Fukayama.

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