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    Donos da JBS fecham acordo de R$ 15 bilhões para vender Eldorado

    RAQUEL LANDIM
    DE SÃO PAULO

    03/09/2017 02h00 - Atualizado às 02h00

    Divulgação/Eldorado Brasil
    Drone da Eldorado Brasil sobrevoa uma plantação de eucaliptos em Três Lagoas (MS)
    Drone da Eldorado Brasil sobrevoa uma plantação de eucaliptos em Três Lagoas (MS)

    A J&F, que controla os negócios da família Batista, concluiu as negociações para vender a fabricante de celulose Eldorado para a Paper Excellence.

    O contrato de compra e venda foi assinado neste sábado (2) e avaliou a Eldorado em R$ 15 bilhões, incluindo uma dívida líquida de R$ 7,5 bilhões. O negócio terá duas etapas e vai demorar 12 meses para ser concluído.

    A Paper Excellence tem unidades no Canadá, mas pertence à família Widjaja, que também é dona da gigante indonésia Asia Pulp and Paper (APP).

    A venda da Eldorado faz parte do esforço da J&F para sobreviver à crise de credibilidade que se instalou desde que os irmãos Joesley e Wesley Batista assinaram um acordo de delação premiada com o Ministério Público.

    Eles já venderam a Alpargatas por R$ 3,5 bilhões para a Itaúsa/Cambuhy, e a Vigor por R$ 5,7 bilhões para a mexicana Lala. A JBS, carro-chefe do grupo, também vendeu ativos no Mercosul.

    A J&F não divulga a dívida total do grupo, mas antes dessas operações chegava a cerca de R$ 70 bilhões. Além disso, a holding se comprometeu, no acordo de leniência, a pagar uma multa de R$ 10,3 bilhões às autoridades.

    Com uma produção de cerca de 1,7 milhão de toneladas de eucalipto por ano, a Eldorado vinha sendo cobiçada pela chinesa China Paper, pela chilena Arauco e pelas brasileiras Fibria e Suzano.

    A Paper Excellence aceitou pagar um valor mais alto que os concorrentes para estabelecer uma base no Brasil, um dos produtores de celulose mais competitivos do mundo.

    Os compradores foram assessorados pelo BTG Pactual, enquanto Joesley Batista conduziu o processo diretamente, sem a ajuda de bancos de investimento.

    FUNDOS DE PENSÃO

    Na primeira etapa, a Paper Excellence comprará de 30% a 34% da Eldorado, desembolsando cerca de R$ 2,5 bilhões em dinheiro e assumindo montante igual em dívidas.

    Dessa forma, se tornará sócia minoritária só com direito a veto. O controle e a gestão permanecem com a J&F —a participação dos Batista na empresa hoje é de 80%.

    O porcentual varia porque depende dos fundos de pensão Funcef (Caixa) e Petros (Petrobras), que, reunidos no fundo FIP Florestal, detêm 17% da Eldorado.

    Se os fundos aderirem, a Paper Excellence adquire todo o FIP Florestal e fica com 34% da Eldorado. Caso contrário, compra a metade do FIP que pertence aos Batista (17%) e mais uma fatia de 13% da J&F, totalizando 30%.

    O desembolso inicial foi uma exigência de Joesley, que queria obter um comprometimento firme da Paper Excellence e já levantar algum dinheiro. A expectativa é que essa fase seja concluída em 20 dias, quando termina a "due dilligence" da Eldorado.

    A partir daí, os fundos terão 30 dias para decidir se saem da Eldorado. Na semana que vem, deve ocorrer uma primeira reunião com representantes de Funcef e Petros.

    Segundo apurou a reportagem, o preço é atrativo, mas o negócio é delicado porque Joesley confessou ter pago propina a antigos dirigentes dos fundos para que eles investissem no projeto.

    A compra do resto da Eldorado pode levar até 12 meses. Vai depender da homologação do acordo de leniência da J&F com as autoridades e da negociação da dívida da Eldorado com os bancos.

    O BNDES é um dos maiores credores da empresa, respondendo por R$ 3,5 bilhões da dívida. O banco estatal está em guerra com os Batista desde que Joesley acusou o presidente Michel Temer de corrupção. Com a troca do controle da Eldorado, o BNDES teria direito a cobrar sua dívida antecipadamente.

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