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    Moeda virtual supera Bolsa em número de investidores

    DANIELLE BRANT
    NATÁLIA PORTINARI
    DE SÃO PAULO

    18/12/2017 02h00

    Benoit Tessier/REUTERS
    Bolsas de bitcoin na China vão adotar tarifas sobre transações
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    A valorização de quase 1.800% que o bitcoin sofreu somente neste ano tem gerado uma demanda "insana" pela moeda digital, na fala de operadores que atuam neste mercado, e o número de pessoas registradas nas corretoras em busca de parte desse ganho já supera 1 milhão.

    Como comparação, a Bolsa brasileira tinha 613 mil CPFs cadastrados, segundo dados de novembro. "Está uma insanidade, não consigo achar um adjetivo melhor", afirma Rodrigo Batista, presidente do Mercado Bitcoin, a maior das casas que operam com a moeda digital.

    A empresa, que começou a atuar em 2011, tinha 200 mil clientes cadastrados um ano atrás. O número já está em 700 mil no ano -e deve atingir 800 mil, segundo estimativas de Batista.

    "São 10 mil novos cadastros por dia. Movimentamos R$ 105 milhões em 2016, hoje estamos movimentando R$ 120 milhões por dia", diz.

    Além de bitcoin, a empresa negocia outras duas moedas: litecoin e bitcoin cash. Muitos dos que se cadastram são leigos, reconhece Batista, do Mercado Bitcoin.

    "Uma boa parte entende o que é o negócio, mas outros não sabem exatamente o que está acontecendo, por que está valorizando. Têm pessoas que entram sem nenhum conhecimento, mas é semelhante ao que ocorre com outros investimentos", afirma.

    O movimento também foi observado na Foxbit, que tem 270 mil clientes cadastrados. "O volume diário era de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões, mas nas últimas duas semana tivemos pico de R$ 120 milhões por dia", diz Guto Schiavon, diretor de operações da Foxbit.

    Hoje, a empresa só opera bitcoin, mas deve oferecer aos usuários ethereum e netcoin no primeiro trimestre de 2018. "Ninguém previa crescimento de 1.800% no ano."

    A plataforma da CoinBR tem 100 mil usuários. "A tendência é crescer mais ainda, sim. A cada dia que sai uma matéria, mesmo as que falam mal, surgem 400 usuários no dia seguinte", diz Rocelo Lopes, presidente da empresa.

    O QUE SÃO CRIPTOMOEDAS?
    O que são e para que servem

    CUIDADOS

    Apesar da "insanidade", o pequeno investidor que quer entrar neste mercado deve ter muito cuidado.

    "Nossa visão é de cautela. O investidor tem a obrigação de diversificar seu portfólio, ter diferentes tipos de risco", afirma Frederic De Mariz, diretor de análise de empresas financeiras do UBS Brasil.

    "Investimentos com volatilidade e nascentes não parecem ser adequados para quem não tem conhecimento dos produtos. Isso vale para qualquer tipo de investimento", acrescenta.

    A avaliação é a mesma de Fernando Ulrich, especialista em blockchain do Grupo XP. "O pequeno investidor tem que ter cuidado. Está numa máxima histórica de preço, pode prejudicar quem está entrando agora. O risco nesse ativo é a volatilidade, não pode ser visto como investimento seguro", afirma.

    Mesmo quem tem perfil moderado de investidor deve destinar pouco dinheiro ao bitcoin, diz Luciano Tavares, presidente da plataforma de investimentos Magnetis.

    "Tem que ter cuidado para não comprar demais e ficar com carteira muito arriscada, o bitcoin faz sentido como diversificação. O perfil moderado deve ter no máximo 2% investido nisso. O arrojado pode ter até 5%."

    VISÃO GLOBAL
    Nem todos BCs são otimistas com a moeda

    BRASIL - O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, declarou na semana passada que o risco de bolha de moedas virtuais, como o bitcoin, é elevado e que essa ameaça é comparável às dos esquemas de pirâmide. Segundo ele, essas divisas são usadas como "instrumentos de atividades ilícitas".

    ESTADOS UNIDOS - A presidente do Fed (banco central dos EUA), Janet Yellen, disse que o bitcoin "é um ativo altamente especulativo", que tem um papel pequeno no sistema de pagamento do país e que "não constitui uma fonte estável de valor". Ela reafirmou que o BC americano não tem papel de regulador sobre a moeda.

    REINO UNIDO - O presidente do Banco da Inglaterra (BC britânico), Mark Carney, já disse considerar que as criptomoedas representam uma possível revolução nas finanças. Para ele, a tecnologia do blockchain pode aumentar as defesas dos bancos centrais contra ataques cibernéticos

    CHINA - O BC chinês, instituição comandada por Zhou Xiaochuan, já deixou claro que terá total controle sobre as criptomoedas e criou uma equipe para desenvolver a sua própria divisa. Bolsas que negociavam bitcoins foram banidas recentemente da segunda maior economia global.

    PARA INVESTIR EM BITCOIN

    Quem pode?
    Corretoras permitem maiores de 18 anos com CPF

    Onde investir?
    Por meio de corretoras especializadas, que criam carteiras no nome dos clientes para que eles gerenciem seus bitcoins

    Há mínimo?
    R$ 50, o que dá para comprar uma fração da moeda

    Como funciona?
    O investidor deve transferir o valor para a corretora, que faz a intermediação com quem deseja vender, como no mercado de ações

    Há custos?

    As casas cobram taxa de quem compra e de quem vende

    Tem IR?
    Ganho de capital para venda acima de R$ 35 mil é tributado pela Receita em 15%

    Quais os riscos?
    Volatilidade; roubo #de moedas por hackers; quebra da corretora; falta de garantia; surgimento de outras moedas

    Fontes: Bloomberg e consultores

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