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    Primeira Guerra Mundial começou com ataque terrorista

    MÁRCIA SOMAN MORAES
    da Folha Online

    11/11/2008 02h23

    O estopim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), conflito que deixou mais de dez milhões de mortos e redesenhou o cenário político internacional, começou após o o assassinato do herdeiro do trono austríaco por um estudante sérvio ligado ao grupo terrorista Mão Negra.

    Em 28 de junho de 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando e sua mulher, Sofia Chotek, foram assassinados a tiros por um jovem sérvio durante a passagem de sua comitiva por Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegóvina. O grupo terrorista era contrário a presença austríaca na província.

    Reprodução

    O Império Austro-Húngaro reagiu e, em um mês, declarou guerra à Sérvia, em um ato que ativou o complexo sistema de alianças militares moldados pelos interesses comuns em meio ao imperialismo e a necessidade de matérias-primas e mercados para a indústria recém-desenvolvida.

    "O assassinato do herdeiro foi apenas o estopim. De muitas formas, as nações européias já estavam em uma corrida. Uma corrida por colônias na Ásia e na África, pela supremacia econômica e industrial e principalmente pelo poder militar", disse o professor de história Cristopher Capozzola, autor do livro "Uncle Sam Wants You: World War 1 and the Making of the Modern American Citizen" (algo como "Tio Sam Quer Você: Primeira Guerra Mundial e a Construção do Cidadão Americano Moderno").

    A inquietação da Inglaterra com a emergência militar da Alemanha uniu-se ao espírito revanchista dos franceses pela perda da Alsácia-Lorena para império alemão, em 1871, e as tensões entre o Império Austro-Húngaro e a Rússia pelo domínio da região dos Balcãs. Moldados por interesses --e rivalidades-- comuns, as nações formaram alianças militares: Tríplice Aliança, com Alemanha, Itália e o Império Austro-Húngaro, e a Tríplice Entente, com Inglaterra, França e Rússia.

    Muito além do atentado contra o governo austríaco, a Grande Guerra --como ficou conhecido o conflito até 1939-- foi resultado das rivalidades nacionalistas entre os grandes impérios colonialistas europeus e de uma luta de poderes militares e econômicos.

    Para Antônio Totta, professor de história da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, o verdadeiro estopim da guerra foi a falha dos esforços de cooperação internacional diante dos interesses econômicos da época. "Houve algumas tentativas, particularmente em Haia, na Holanda, para abrir espaço para uma cooperação internacional em assuntos políticos. Mas nada conseguiu deter as rivalidades que dominavam a Europa e o desejo de ser a maior potência mundial".

    EUA

    Por estar ligado aos confrontos e interesses imperialistas europeus, os Estados Unidos, que favoreceu a vitória dos Aliados, hesitaram em entrar na guerra. Esta hesitação, explica Capozzola, foi resultado de uma forte influência do isolacionismo na política americana, que tornou a entrada na guerra em uma decisão perigosamente impopular entre os americanos e que deixou o país de fora das primeiras tentativas de uma organização global.

    "Quando a guerra começou, em 1914, não estava claro se os EUA tinham interesses em comum com um dos lados, embora houvesse uma ligação mais próxima com França e Inglaterra, nós também tínhamos uma ligação com a Alemanha", disse o professor.

    O presidente americano à época, Woodrow Wilson, encontrou brecha entre os isolacionistas quando a ofensiva dos submarinos alemães começaram a prejudicar a rota comercial americana de abastecimento à Inglaterra e França. Assim, Washington declarou guerra à Alemanha em abril de 1917. A injeção do dinheiro e do poderio militar americano marcou a virada da Tríplice Entente e a derrota, após três anos de batalhas, da Aliança.

    "Pouco mais de um ano depois, longe do campo de batalha e com menos perdas em termos de soldados, os EUA saem credor da Primeira Guerra. A maioria dos países, principalmente a Alemanha, dependem dos empréstimos americanos e esta posição vem acompanhada de grande poder político", diz Totta.

    Com "Enciclopédia Britânica" e "Almanaque Abril 2008"

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