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    Israel e palestinos mantém ataques; Hamas se prepara para combater invasão terrestre

    da Folha Online

    31/12/2008 17h46

    Mesmo com condições climáticas desfavoráveis para os pilotos de caças, Israel continuou os ataques, no quinto dia seguido de bombardeios sobre a faixa de Gaza. Cerca de 20 ataques foram realizados nesta quarta-feira, em meio a constantes chuvas e densas nuvens que dificultam a pontaria, segundo um porta-voz do Exército.

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    Entre os alvos atingidos, disse a fonte, estariam vários armazéns de armas, incluindo uma mesquita, na qual, segundo a inteligência militar, o Hamas guardava artefatos explosivos.

    Os bombardeios tiveram início no sábado (27) e já mataram ao menos 380 palestinos. A ofensiva começou uma semana depois do fim de uma trégua de seis meses entre Israel e o grupo extremista Hamas, que domina Gaza desde junho de 2007. Os dois lados se acusam de desrespeitar os termos da trégua.

    Uma proposta de cessar-fogo de 48 horas feita pela França foi rejeitada nesta quarta-feira pelo governo de Israel, que mantém preparativos para uma possível invasão terrestre de Gaza.

    As milícias palestinas também mantiveram os ataques nesta quarta-feira. Até o momento, já lançaram 40 foguetes contra localidades israelenses como Ashkelon, Ashdod e Sderot, alguns dos quais, pela primeira vez, atingiram a cidade de Beer Sheva. Jornais israelenses informam que o número de foguetes lançados pelo Hamas nesta quarta-feira chega a 60.

    As Brigadas al-Aqsa, braço armado do Hamas, já disseram que continuarão "disparando contra as cidades sionistas inimigas para vingar o enorme massacre cometido contra o povo" palestino.

    Mais cedo, o movimento islâmico divulgou um comunicado no qual dizia ter realizado a reunião semanal de seus ministros e pedia aos líderes árabes que atuem imediatamente para frear a ofensiva israelense.

    "Gaza está sofrendo um ataque feroz e bárbaro por parte da ocupação israelense", escreveu o Hamas, que acrescenta que "os árabes devem ajudar a salvar as vidas dos palestinos em Gaza".

    Contando os mortos

    Uma Gaza às escuras, com as ruas desertas, sem água e sem energia começou a identificar os seus mortos, ao passo que Israel prossegue com os bombardeios aéreos sobre a faixa territorial e permanece firme em sua postura de descartar uma trégua com o Hamas.

    A primeira lista oficial de vítimas da atual escalada de violência na faixa de Gaza foi divulgada esta manhã, com nomes de 187 pessoas que teriam morrido nas primeiras 48 horas da ofensiva militar israelense.

    Na tarde desta quarta-feira, o porta-voz do Ministério da Saúde do Hamas em Gaza, Omar al-Nasser, divulgou outro documento, com os nomes de 300 vítimas fatais dos confrontos.

    Segundo Nasser, que destacou que uma nova lista com os nomes dos feridos está sendo preparada, os mortos desde o início dos bombardeios são 393, enquanto as pessoas com ferimentos já passam de 1.900.

    As primeiras estimativas indicam que cerca de 40% das vítimas fatais (160) dos ataques são civis, informou o chefe dos serviços de emergência de Gaza, Moaweya Hasanein.

    Assim que todos forem identificados, o Ministério da Saúde entregará uma lista às organizações humanitárias para que medidas legais contra Israel sejam tomadas.

    Porém, muitos habitantes de Gaza não pensam agora em processos, mas em encontrar seus familiares, para o que percorrem os hospitais lendo com ansiedade as listas de vítimas, com a esperança de não encontrarem nelas os nomes de seus entes queridos.

    Desde que começaram os ataques, a maioria da população vive trancada dentro de casa, sem água nem luz. O único som ouvido na Faixa de Gaza é o dos bombardeios, das ambulâncias e dos aviões não tripulados de Israel, que não param de sobrevoar a região.

    Também desde sábado, Gaza não tem Polícia, já que os agentes da instituição foram um dos principais alvos dos ataques israelenses. Tampouco é possível recorrer ao Governo do Hamas, cujos dirigentes, em sua maioria, vivem na clandestinidade.

    O caos no território, a dramática situação nos hospitais, o elevado número de vítimas e as dificuldades de comunicação complicaram e retardaram os trabalhos de identificação dos cadáveres. Além disso, fizeram aumentar a ansiedade dos palestinos que não conseguem ter notícias de seus parentes.

    Invasão

    Enquanto a população sofre as consequências dos ataques, o Hamas diz que vai combater as forças israelenses "até o último suspiro" no caso de uma ofensiva terrestre na faixa de Gaza, que parece mais próxima após a rejeição por parte de Israel de uma proposta de trégua, disse um alto chefe do grupo islâmico nesta quarta-feira.

    "O Hamas está pronto para qualquer coisa e lutaremos até o último suspiro. O inimigo não poderá ocupar Gaza ou destruir o Hamas", disse o deputado Mushir al Masri, chefe do grupo parlamentar do Hamas.

    "Israel vai se lançar um autêntica aventura se decidir invadir Gaza. Nós guardamos surpresas para eles", disse o deputado.

    O presidente palestino, Mahmoud Abbas, ameaçou nesta quarta-feira abandonar as negociações de paz com Israel se estas contrariem interesses palestinos e derem um aval para a "agressão" do Estado de Israel na faixa de Gaza.

    "O conflito (entre Israel e a Palestina) nunca vai terminar, a menos que o bravo povo palestino readquira os seus direitos. Assim, para que servem as negociações se as portas continuam fechadas", disse Abbas em um discurso transmitido pela televisão, por ocasião do 44° aniversário da proclamação do seu partido, Fatah, como um movimento de resistência.

    "Enquanto nós continuamos a concordar com a estratégia e os objetivos, e com nosso desejo de não voltar atrás, não vemos porque devemos continuar (as negociações) da forma como estão sendo feitas", disse.

    Abbas disse que "não hesitará em abandonar" as conversações "se essas forem contra os nossos interesses e apoiarem a agressão", referindo-se à ofensiva militar israelense na faixa de Gaza desde sábado (27), que causou mais de 380 mortes.

    O presidente palestino classificou a ofensiva israelense em Gaza como uma "agressão criminosa e bárbara" e acusou Israel de cometer "o mais sangrento dos massacres" no território controlado pelo movimento islâmico Hamas, rival do Fatah, desde junho de 2007, quando expulsaram os aliados de Abbas.

    "O nosso povo terá alternativas se a atual opção (negociações) falhar ou se a agressão, a colonização e o confisco de terra prosseguirem, tirando todo o sentido [das negociações]" disse Abbas.

    Retomadas em novembro de 2007, as negociações entre israelenses e palestinos tiveram poucos avanços em 2008, incluindo um cessar-fogo de seis meses entre o governo de Israel, que terminou no último dia 19.

    "Compreensão"

    Depois de rejeitar a proposta feita pelo ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, de um cessar-fogo de 24 horas, o governo israelense pediu "compreensão" ao presidente francês, Nicolas Sarkozy. A ministra de Relações Exteriores de Israel, Tzipi Livni, disse esperar que Sarkozy compreenda a importância da continuidade da operação israelense na faixa de Gaza.

    "Espero encontrar em Sarkozy compressão sobre a necessidade de termos tempo para acabar com a ameaça do Hamas", disse Livni em uma entrevista coletiva em Sderot, uma das comunidades do sul de Israel atingidas pelos foguetes que as milícias palestinas lançam da Faixa de Gaza.

    A titular da diplomacia israelense fez essas declarações depois que seu governo anunciou sua recusa em aceitar uma "trégua humanitária" de 48 horas com o movimento islâmico, como tinha pedido ontem Sarkozy, cujo país ocupa a Presidência rotativa da União Européia até a meia-noite desta quarta-feira.

    Livni, que embarca nesta quarta-feira para Paris, onde na quinta-feira se reúne com Sarkozy e seu colega francês, Bernard Kouchner, afirmou ter certeza de que o chefe de Estado francês "entenderá a postura de Israel".

    "Nenhum Estado tolera que seus cidadãos fiquem sob ameaça terrorista", declarou a ministra.

    Livni também se mostrou a favor de "apoiar" o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, e suas iniciativas em prol da paz na região.

    A ministra israelense disse entender que a "posição [de Abbas] neste momento não é fácil", mas pediu à ANP "força e determinação na defesa de seus princípios".

    "Se o Hamas fortalecer seu poder em Gaza e crescer na Cisjordânia, acabou-se o projeto de um Estado palestino", disse Livni, que acrescentou que o objetivo de todos deve ser "evitar a criação de um Hamastão na região".

    Com Efe, Associated Press e France Presse

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