Trinta anos depois da queda do regime Khmer Vermelho, o Camboja iniciou nesta terça-feira o julgamento de um ex-líder do regime, o primeiro dirigente a ser levado ao banco dos réus pelas atrocidades cometidas nos anos 70 em nome de uma revolução comunista.
Enfrenta a Justiça hoje o ex-chefe dos torturadores, Kaing Guek Eav, conhecido como Duch, 66. Antigo professor de matemática convertido ao cristianismo nos anos 90, Duch será julgado por crimes de guerra e crimes contra a humanidade enquanto.
No regime, o acusado dirigia um centro de interrogatórios que funcionava num antigo colégio secundário de Phnom Penh, onde mais de 12 mil pessoas foram torturadas e assassinadas em função da repressão em massa organizada pela equipe no poder de Pol Pot.
Ele será o primeiro julgado pelo tribunal, criado em 2006 depois de uma década de negociações entre a ONU e o governo cambojano de Hun Sen. O tribunal teve dificuldades financeiras, mas países como Japão, Alemanha e França fizeram doações para julgar ex-líderes do regime.
O ultracomunista do Khmer Vermelho, que governou entre 1975 e 1979, impôs o terror ao Camboja, obrigando os habitantes a abandonar as cidades para ir para o campo, extenuando a população com trabalhos forçados e eliminando sistematicamente todos os "traidores da revolução".
Estima-se que cerca de 2 milhões de cambojanos morreram nesse período. O regime do Khmer Vermelho foi expulso do poder por uma invasão vietnamita.
"Este julgamento é importante para para a história do Camboja", afirmou Youk Chhang, chefe do Departamento de Documentação do país. "Mas o ponto negativo é que ele [Duch] não era propriamente um alto líder do regime."
Acusados
Detido em 1999 pelas autoridades cambojanas, Duch foi levado em 2007 a um tribunal especial em Phnom Penh patrocinado pela ONU (Organização das Nações Unidas). Ao término do julgamento, poderá ser condenado à prisão perpétua. O tribunal descartou a pena de morte.
A avaliação psicológica ordenada pelos juízes de instrução apontam Duch como "um homem meticuloso, consciente, atento aos detalhes e que se preocupa em ser bem considerado por seus superiores". Os especialistas concluíram que ele não sofre de nenhum patologia mental e possui uma grande inteligência.
"Sinto de verdade pelas matanças e o passado: eu queria ser um bom comunista e em meu trabalho não procurava nenhum prazer", teria declarado ele.
Outros quatro dirigentes do regime de Pol Pot serão levados ao banco dos réus mais adiante. Eles têm entre 76 e 83 anos, e muitos cambojanos temem que morram antes que se faça justiça.
O governo de Hun Sen, ele próprio um ex-khmer vermelho que se rebelou contra o movimento, quis controlar os preparativos judiciais por temer que este prejudique alguns membros do atual poder, segundo várias ONGs.
Com France Presse