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    Em decisão inédita, Peru condena Fujimori a ficar preso até 2032

    da Folha Online

    07/04/2009 16h30

    O ex-presidente do Peru Alberto Fujimori (1990-2000) foi condenado nesta terça-feira a 25 anos de prisão por violação aos direitos humanos em crimes contra a humanidade e a pagar uma indenização às suas vítimas no valor de US$ 90 mil (quase R$ 200 mil). Depois de ouvir a sentença, a defesa de Fujimori avisou que irá recorrer.

    Esta é a primeira vez que um presidente da América Latina que foi democraticamente eleito é considerado culpado, pela Justiça do próprio país, por violação de direitos humanos. Fujimori, que tem 70 anos, já está preso há dois anos, período que deverá ser descontado. Assim, ele só deverá ser solto em 10 de fevereiro de 2032.

    Francisco Medina/Reuters
    O ex-presidente peruano Alberto Fujimori, condenado por crimes contra humanidade
    O ex-presidente peruano Alberto Fujimori, condenado por crimes contra humanidade

    ONGs de defesa dos direitos humanos, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, consideraram a condenação "exemplar".

    Keiko, 33, filha de Fujimori que é deputada federal e potencial candidata à Presidência, disse que a sentença estava cheia de "ódio e vingança". Ela pediu que simpatizantes saíssem, em paz, pelas ruas da capital Lima, para protestar. "O Fujimorismo continuará avançando. Hoje somos os primeiros nas pesquisas, e assim continuaremos."

    Na porta da base policial onde ocorreu o julgamento, um grupo pró-Fujimori de cerca de 500 pessoas e 30 familiares de vítimas daquele regime realizaram protestos.

    Fujimori é acusado de ter organizado um grupo de extermínio no Exército e, desta forma, orquestrado dois massacres e os sequestros de dois opositores. Ele nega a acusação e diz acreditar que ficará conhecido como o presidente que devolveu a tranquilidade ao Peru. "As quatro acusações estão comprovadas, acima de qualquer dúvida razoável", confirmou o juiz San Martín, nesta terça-feira.

    Fujimori contava com altos índices de aprovação por parte dos peruanos por ter controlado a economia daquele país e derrotado o grupo insurgente maoísta chamado Sendero Luminoso. Um escândalo de corrupção, no entanto, prejudicou sua imagem em 2000, ano no qual ele decidiu se exilar no Japão.

    Nesta terça-feira, dezenas de simpatizantes de Fujimori compareceram à base policial onde o ex-presidente está preso, em Lima. Nesta segunda-feira (6), famílias de 25 vítimas do grupo de extermínio liderado por Fujimori levaram fotos dos mortos e realizaram uma vigília à luz de velas diante do Palácio da Justiça, também em Lima.

    Crimes

    O primeiro massacre de que Fujimori é acusado aconteceu no distrito de Barrios Altos, em 1991. O suposto grupo de extermínio liderado pelo presidente, chamado de Colina, invadiu um churrasco e matou a tiros 15 pessoas, inclusive crianças. Mais tarde, revelou-se que o Colina, na verdade, pretendia matar um grupo de simpatizantes do Sendero Luminoso que estava reunido em outro andar, no mesmo prédio.

    Outra matança ocorreu sete meses mais tarde, em julho de 1992. Na tentativa de prejudicar o Sendero Luminoso, que realizava ataques quase diariamente, o Colina "desapareceu" com nove estudantes e um professor da Universidade La Cantuta.

    Já os sequestros de que Fujimori é acusado são o de um empresário e de um jornalista --na época, correspondente do jornal espanhol "El País"-- que, em 1992, criticaram o fechamento do Congresso e dos tribunais peruanos.

    Defesa

    Fujimori nega as acusações do Ministério Público e diz ser vítima de perseguição por parte da polícia e dos promotores envolvidos. Ele já questionou a razão pela qual responde a processo enquanto o seu antecessor, o atual presidente peruano, Alan Garcia, sob quem o país entrou em um conflito que matou cerca de 70 mil, não é processado.

    Garcia nega ter cometido violação dos direitos humanos durante seu primeiro mandato, que foi de 1985 a 1990, e tem o poder de perdoar Fujimori.

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