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    Muçulmanos passam de 1,5 bi e são quase 25% da população mundial

    MÁRCIA SOMAN MORAES
    da Folha Online

    08/10/2009 17h52

    Um relatório do instituto americano Pew Forum on Religion & Public Life divulgado nesta quinta-feira aponta que 22,9% --quase um quarto da população mundial de 6,8 bilhões-- são muçulmanos. Com dados de 232 países, o instituto mapeou por três anos o mundo muçulmano, e mostra que eles são a maioria na Ásia e que, ao contrário do que os EUA e a Europa temem com a imigração, ainda representam uma porcentagem pequena nestas regiões.

    Veja mapa da distribuição do mundo muçulmano
    Veja galeria de fotos dos muçulmanos pelo mundo

    "Mapping the Global Muslim Population" ("Mapeando a População Muçulmana Global", em tradução livre), descrito como estudo único na área, aponta que há um total de 1.571.198.000 muçulmanos em todo o mundo. Comparativamente, segundo projeções de 2005 do World Religions Database, há cerca de 2,25 bilhões de cristãos no mundo.

    Khalid Tanveer /AP
    Muçulmanos sunitas voltam para casa em trem lotado após participar de congregação anual em Multan (Paquistão)
    Muçulmanos sunitas voltam para casa em trem lotado após participar de congregação anual em Multan (Paquistão)

    O documento mostra ainda que dois em cada três muçulmanos vivem na Ásia, dado que não surpreende já que, no continente, estão as principais nações muçulmanas. No topo da lista estão Indonésia, com 202.867.000 (12,9% da população muçulmana mundial) e Paquistão, com 174.082.000 (11,1%). Há ainda a Índia, com 160.945.000 de muçulmanos, número que representa 10,3% da população muçulmana mundial e 13,4% da população indiana.

    "Não é uma surpresa, mas destaca a necessidade de rever alguns conceitos. A maioria do mundo não muçulmano associa estes ao Oriente Médio", diz Trevor Castor, diretor assistente do Centro de Estudos Muçulmanos da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.

    Para Mohammed Ayoob, professor de Relações Internacionais e diretor do Programa de Estudos Muçulmanos da Universidade de Michigan, o conceito errôneo é resultado da maior aproximação histórica do Ocidente com o Oriente Médio do que com o Sudeste Asiático.

    Berço histórico do islã, o Oriente Médio, classificado no estudo junto ao norte da África, fica em um distante segundo lugar --com 315.322.000 muçulmanos, ou 20,1% desta população, em comparação com 61,9% (surpreendentes 972.537.000) na Ásia.

    arte Folha Online/arte Folha Online

    Migração

    Outro conceito a ser revisto, afirma Castor, é o que ele chama de islamofobia dos EUA e da Europa, que temem um aumento desproporcional da população muçulmana com a imigração.

    Irwin Fedriansyah/AP
    Mulheres muçulmanas participam de reza que marca início do mês sagrado na Indonésia
    Mulheres muçulmanas participam de reza que marca início do mês sagrado na Indonésia

    Nos EUA, explica Castor, há estimativas que apontam até 7 milhões de muçulmanos no país. O mapa do Pew Forum reduz este número para 2,4 milhões. "As pessoas temiam o crescimento dos muçulmanos, havia uma sensação de que os muçulmanos estavam dominando a sociedade", diz Castor, que comemorou o número mais realista.

    Ayoob, contudo, diz que o número está subestimado e que a população muçulmana deve ficar na faixa dos 3 milhões no país. "As estimativas americanas variam de acordo com quem as faz e seus interesses políticos", avalia.

    Na Europa, a sensação é ainda mais agravada pela intensa imigração de países de maioria ou grande influência muçulmana. "Há uma ideia exagerada sobre a migração muçulmana. Historicamente, estes muçulmanos foram ao país em busca de trabalhos braçais que os próprios europeus recusam", explica Ayoob.

    Rússia, Alemanha e França, os três países europeus com maior população absoluta de muçulmanos, têm menos de 1% cada da população muçulmana mundial.

    A exceção, já esperada segundo Ayoob, é a Rússia que, em números absolutos, tem 16.482.000 ou 11,7% de sua população. "A Rússia fica, na verdade, na Eurásia, e por isso reúne territórios que têm ligação muito próxima com os muçulmanos que são majoritários na Ásia. Há um laço histórico dos muçulmanos no país", explica.

    A Europa é a apenas a penúltima região na lista, a frente do continente americano. Segundo o instituto, a população muçulmana que se concentra no oeste do continente europeu é de imigrantes recentes ou filhos de imigrantes da Turquia, África ou sul da Ásia. Já no leste europeu, onde está a maioria da população muçulmana do continente, estes são cidadãos que estão há gerações no país --caso da Rússia, Albânia, Kosovo e Bulgária.

    EUA

    O estudo, afirma Castor, dá ainda um novo caráter de importância à política adotada pelo governo de Barack Obama de "estender a mão" para o mundo muçulmano.

    Pavel Rahman/AP
    Mulher segura bebê no colo em trem na estação de Tongi, no subúrbio de Bangladesh
    Mulher segura bebê no colo em trem na estação de Tongi, no subúrbio de Bangladesh

    Com 1,57 bilhão de muçulmanos no mundo, parece cada vez mais difícil ignorar esta parcela da população. "Não é à toa que Obama fez um grande discurso no Cairo [Egito], uma posição central no mundo muçulmano. O recado é de que os EUA estendem o braço para todo o mundo muçulmano e isso inclui os países mais fundamentalistas", diz Castor.

    Defensor de uma política externa mais diplomática que a do antecessor George W. Bush, Obama discursou inúmeras vezes por uma aproximação com o mundo muçulmano e chegou a criar o cargo de representante especial dos EUA para as comunidades muçulmanas, ocupado pela americana de origem indiana Farah Pandith.

    Para Ayoob, contudo, Obama dificilmente tirará o foco de sua aproximação com o Oriente Médio e da questão israelo-palestina, confronto que centra as atenções da comunidade internacional e cujas consequências são mais diretas aos EUA. "O resto do mundo muçulmano aguarda para saber se a retórica de Obama vai se transformar em ações. Eles não são tolos".

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