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    Barack Obama recebe o Prêmio Nobel da Paz

    da Folha Online

    09/10/2009 06h08 - Atualizado às 07h10

    O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, 48, recebeu nesta sexta-feira o Prêmio Nobel da Paz 2009. A escolha foi em razão do trabalho do presidente dos EUA em reduzir o estoque mundial de armas nucleares e trabalhar pela paz no mundo.

    Primeiro negro a preencher o mais alto cargo do país, Obama apelou para o desarmamento e trabalhou para reiniciar o estagnado processo de paz no Oriente Médio desde que assumiu o cargo em janeiro.

    O presidente dos Estados Unidos criou um "ambiente novo para a política internacional. Graças a seus esforços, a diplomacia multilateral recuperou sua posição central e devolveu às Nações Unidas e outras instituições internacionais seu papel protagonista", assinalou o Comitê do Nobel em Oslo.

    "A visão de um mundo sem armas nucleares estimulou o desarmamento e as negociações para o controle de armamento. Graças à iniciativa de Obama, os Estados Unidos estão desempenhando um papel mais construtivo para fazer frente aos desafios da mudança climática que enfrenta o mundo", acrescentou o Instituto.

    Ron Sachs/Efe
    Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, venceu o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços para fortalecer a diplomacia
    Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, venceu o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços para fortalecer a diplomacia

    Obama é antecedido na lista do Nobel da Paz pelo ex-presidente finlandês Martti Ahtisaari, agraciado em 2008 por seu trabalho como mediador internacional.

    O Nobel da Paz deste ano alcançou um recorde de candidaturas, 205, dos quais 33 correspondiam a organizações.

    O prêmio no valor de 10 milhões de coroas suecas (US$ 1,4 milhões) será entregue em Oslo, em 10 de dezembro.

    Primeiro presidente negro dos EUA

    No começo da campanha eleitoral, ainda em 2007, poucos apostavam na candidatura de Barack Hussein Obama. Senador por Illinois em seu primeiro mandato, ele era um desconhecido diante da ex-primeira-dama Hillary Clinton.

    Com uma estratégia bem definida --ganhar pequenas votações e "caucus" (assembléias de eleitores)-- e a percepção de que os eleitores buscam uma mudança na administração do país --principal lema de sua campanha--, Obama conquistou a nomeação democrata com o apoio em massa dos superdelegados, após as últimas primárias democratas.

    Na noite de 3 de junho de 2008, após a contagem dos votos de Montana e Dakota do Sul, a equipe de campanha de Obama celebrou a conquista inédita. Obama era, então, o primeiro negro a se tornar candidato à Presidência dos EUA por um grande partido.

    E a questão racial, mesmo que de forma velada, pontuou a campanha do senador. Após a descoberta dos sermões controversos de Jeremiah Wright, seu ex-pastor por 20 anos com quem teve que romper, Obama fez um discurso sobre a temática que ficou marcado como exemplo do poder de sua retórica que atrai milhares aos seus comícios.

    "Escolhi disputar a Presidência neste momento histórico porque acredito profundamente que não podemos resolver os desafios de nossa era a não ser que o façamos juntos, a não ser que aperfeiçoemos nossa união ao compreender que, embora nossas histórias pessoais possam diferir, temos esperanças comuns", disse Obama, na época.

    Mesmo sem anunciar constantemente o fato de poder ser o primeiro presidente negro dos EUA, foi entre eleitores negros que Obama teve maiores índices de votação. Outro grande eleitorado de Obama está na camada mais jovem da população, estudantes de classe média e alta que vivem em meio à diversidade das universidades, influenciados pelo rap e pela música negra em geral.

    Origens

    Michael Nagle-05.fev.08 /Efe
    CHA31 NUEVA YORK (ESTADOS UNIDOS), 05.02.08.- Un hombre hace campaña por Barack Obama en el cruce de 125th Street y Lenox Avenue en Harlem, Nueva York, Estados Unidos, hoy martes 5 de febrero, conocido como "super martes" en el que se elige a los candidatos a la presidencia del país en 22 estados. EFE/Michael Nagle
    Homem faz campanha por Obama; senador é muito popular entre os jovens e os negros

    Filho de Barack Hussein Obama, um homem negro do Quênia educado em Harvard e de Ann Dunham, uma mulher branca de Wichita, no Estado do Kansas, Obama fala das suas origens como as de um candidato "não-convencional". Nasceu em Honolulu, no Havaí, em 4 de agosto de 1961, e seus pais se separaram quando tinha dois anos.

    O democrata morou na Indonésia quando criança, após sua mãe se casar com um indonésio, e depois viveu no Havaí, com seus avôs brancos. As idas e vindas deram, na sua opinião, as ferramentas necessárias para que pudesse se tornar um político hábil na hora de fazer coligações e traçar alianças. "Ele se movimenta entre vários mundos", afirma sua meia irmã, Maya Soetoro-Ng. "É o que fez em toda a sua vida."

    "Sou filho de um homem negro do Quênia e de uma mulher branca do Kansas. Fui criado com a ajuda de um avô negro que sobreviveu à Depressão e combateu durante a Segunda Guerra Mundial, e de uma avó branca que trabalhou em uma linha de montagem de bombardeiros, em Fort Leavenworth, enquanto seu marido servia no exterior", descreve Obama.

    Sua adolescência no Havaí foi marcada não só por uma destacada trajetória escolar, mas também por anos de contravenção. Na época, Obama experimentou a maconha e a cocaína, conforme afirma em sua biografia "Dreams from my Father: A Story of Race and Inheritance" ("Sonhos de Meu Pai: Uma História de Raça e Herança").

    Como previa, a história veio à tona quando Robert Johnson, fundador da Black Entertainment Television e fiel apoiador de Hillary lembrou do episódio dias antes das primárias da Carolina do Sul. Na época, ele se defendeu dizendo acreditar "que o americano médio sabe que o que alguém faz quando é adolescente, há 30 anos, provavelmente não é relevante em como vai desempenhar seu papel de presidente dos EUA".

    Michelle

    Com um bom histórico escolar, Obama formou-se em direito na tradicional Universidade Harvard e trabalhou como professor e defensor dos direitos civis em Chicago antes de ser eleito senador por Illinois, em 2004.

    Foi em Harvard que Obama conheceu sua mulher, Michelle, com quem se casou em 1992. Em uma campanha que prega o novo, Michelle é um dos triunfos de Obama. Negra e com formação universitária, Michelle é um cabo eleitoral importante de Obama entre mulheres. Obama e Michelle tem duas filhas. Malia, 10, e Sasha, 7, que aparecem na mídia apenas nos momentos de grandes conquistas, como no discurso da vitória.

    Com carisma e retórica refinada, Obama ganhou popularidade ao longo da campanha e foi o candidato que melhor soube utilizar as ferramentas da internet.

    Religião

    Ibrahim Elmi /Efe
    NBI003.WAJIR (KENIA).25/2/2008.- Fotografía distribuida hoy lunes 25 de febrero de 2008 que muestra al senador y aspirante demócrata a candidato presidencial Barack Obama (d), quien recibe el traje tradicional somalí de Sheikh Mahmed Hassan en Wajir, Kenia el 27 de agosto de 2008. Obama recibió un camello de regalo en señal de aprecio pero optó por donarlo a la población local tras una visita a las viviendas de la zona que sufrió una grave sequia a principio de este año.EFE/IBRAHIM ELMI
    Fotografia distribuída em fevereiro que incitou boatos sobre a religião de Barack Obama

    Por sua família muçulmana, Obama enfrentou boatos de que seria também um muçulmano, religião que muitos americanos associam negativamente ao extremismo. Os boatos foram reforçados com a divulgação de uma foto na qual Obama aparece com trajes típicos em visita ao Quênia, onde sua família paterna mora.

    Obama converteu-se, já adulto, ao cristianismo e é membro da Igreja Batista da Trindade Unida em Cristo, em Chicago. Sua equipe acusou a campanha de Hillary, sua rival à época, pela divulgação da foto.

    "Tenho irmãos, irmãs, sobrinhas, sobrinhos, primos e tios de todas as raças e matizes, espalhados por três continentes e, por mais que eu viva, jamais me esquecerei de que em nenhum outro país do planeta minha história seria possível", afirma Obama, sobre sua história familiar.

    Sua avó, Sara, tornou-se uma celebridade no Quênia após a conquista da nomeação. Ela recebe diariamente dezenas de jornalistas para quem declara o orgulho que sente do neto.

    Reta final

    Há dois anos, poucos americanos sabiam soletrar o nome de Obama e, hoje, ele é o 44º presidente da história do país --o primeiro negro.

    No começo de sua campanha, Obama brincava freqüentemente que o povo não se lembrava de seu nome. A própria rede de TV CNN teve de fazer uma correção após confundir o nome do senador com o do terrorista de origem saudita Osama bin Laden, líder da rede Al Qaeda --chamou o então senador de "Barack Osama".

    Obama cresceu na disputa contra Clinton nas primárias, em grande parte, graças às suas promessas de mudança e ao fato de não estar diretamente associado à "velha política" de Washington. Na reta final, contra o republicano John McCain, Obama foi criticado pela falta de experiência em política internacional, principalmente, mas soube compensar o fato com a escolha do experiente senador Joe Biden como companheiro de chapa.

    Por outro lado, foi auxiliado pela escolha da polêmica e criticada candidata a vice republicana, Sarah Palin, e, acima de tudo, pelo agravamento da crise financeira mundial.

    Com agências internacionais

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