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    Reformas propostas por Gorbatchov impulsionaram queda do Muro

    da Folha Online

    06/11/2009 09h30

    Eleito pela revista "Time" como uma das cem personalidades mais importantes do século 20, a trajetória do ex-presidente da União Soviética Mikhail Gorbatchov (1990-1991) teve influência direta no colapso do sistema soviético e na consequente queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989.

    Secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) entre 1985 e 1991, Gorbatchov assumiu após a morte do linha-dura Leonid Bréjnev e seus dois sucessores, Iuri Andrópov e Konstantin Tchernenko.

    Alexander Zemlianichenko27nov.08/AP
    O ex-presidente soviético Mikhail Gorbatchov durante entrevista em Moscou (Rússia)
    O ex-presidente soviético Mikhail Gorbatchov durante entrevista em Moscou (Rússia)

    Diante do evidente colapso do regime socialista, ele realiza uma mudança rumo à democratização e a descentralização da economia em duas reformas: a glasnost (transparência), que leva ao abrandamento da censura, e a perestroika (reestruturação), um conjunto de reformas da economia prejudicada pela burocracia, corrupção e gastos exorbitantes na área militar.

    As mudanças, que geraram resistência entre a linha conservadora do regime, incluindo o líder da República Democrática da Alemanha, Erich Honecker, levaram ao colapso final do comunismo e ao fim da União Soviética --motivo que lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz em 1990.

    Origens

    Gorbachev nasceu em 2 de março de 1931, filho de camponeses russos do território de Stavropol, no sul da Rússia. Ele entrou para a Komsomol, a Liga Comunista Jovem, em 1946. Em 1952, ele entrou para o curso de direito da Universidade Estatal de Moscou e tornou-se membro do Partido Comunista.

    Formado, ele ocupou diversos cargos no Komsomol até se tornar primeiro secretário do Comitê Regional do partido, em 1970. Um ano depois, Gorbatchov foi nomeado membro do Comitê Central do PCUS. Em 1978, foi nomeado secretário de Agricultura do partido para, dois anos depois, ser membro do politburo. Sua ascensão deve-se em grande parte ao apoio de Mikhail Suslov, ideólogo chefe do partido.

    Durante os 15 meses de mandato de Yury Andropov (1982-1984) como secretário-geral do Partido Comunista, Gorbatchov tornou-se uma das pessoas mais influentes do politburo. Assim, quando Andropov morreu e Tchernenko assumiu como secretário-geral, ele tornou-se o sucessor óbvio. Em 10 março de 1985, quando Tchernenko morreu, o politburo elegeu Gorbatchov para chefiar o PCUS. Em 1988, Gorbatchov consolidou seu poder ao ser eleito presidente do Soviete Supremo, o Parlamento.

    Gorbatchov tinha como o principal objetivo dentro do país ressuscitar a estagnada economia soviética após anos de pouco crescimento durante o governo de Leonid Brezhnev (19641982). Ele investiu então em modernização tecnológica e maior produtividade, além de tentar afastar a burocracia soviética ineficiente.

    Reformas profundas

    Quando as mudanças não funcionaram, Gorbatchov apostou em reformas mais profundas. Em 1987, ele inaugurou a glasnost que ampliou a liberdade de expressão e repudiou de vez o legado stalinista. Com a perestroika, disputas eleitorais com múltiplos candidatos e o voto secreto foram instaurados, além de algumas medidas limitadas de livre mercado.

    Na política externa, Gorbatchov iniciou uma mudança nas relações bilaterais com os Estados Unidos, além de ampliar o comércio com nações do Ocidente. Em dezembro de 1987, assinou um acordo com o então presidente americano, Ronald Reagan, para destruir os estoques de mísseis nucleares de médio alcance.

    Gaby Sommer06out.89/Reuters
    Na comemoração dos 40 anos da Alemanha Oriental, Gorbatchov (esq.) é recebidos pelo então lider comunista Erich Honecker
    Na comemoração dos 40 anos da Alemanha Oriental, Gorbatchov (esq.) é recebidos pelo então lider comunista Erich Honecker

    Diante da descrença americana, Gorbatchov realizou a retirada das tropas russas do Afeganistão em 1989, após uma ocupação de nove anos e derrotas sucessivas.

    Gorbatchov é considerado o mais importante precursor dos eventos que levaram, no final de 88 e início de 89, à trasnformação da Europa do leste e o começo do fim da Guerra Fria.

    Ao longo de 1989, ele aproveitou todas as oportunidades para manifestar o seu apoio para os comunistas reformistas nos países do bloco soviético da Europa Oriental, e, quando a onda de democratização atingiu Polônia, Hungria e Tchecoslováquia, Gorbatchov concordou com a retirada gradual das tropas soviéticas provenientes desses países.

    Resistência

    Apesar da ideologia reformista, Gorbachov resistiu à unificação das duas Alemanhas. Ele não confiava em Honecker. Em 27 de março de 1986, ele afirmou ao politburo do PCUS que a "Alemanha Oriental podia ser tentado a se jogar nos braços da Alemanha Ocidental sob a pressão de problemas econômicos". O discurso era uma referência à recente reaproximação dos dois países e da injeção de dinheiro do oeste no leste.

    Gorbatchov dizia que as reformas adotadas pela República Democrática da Alemanha era supérfluas e Honecker, por sua vez, não acreditava nos benefícios das reformas de Gorbatchov e chegou a proibir a circulação das publicações "subversivas" da União Soviética no país.

    A relação entre os dois ficou ainda mais tensa quando Gorbatchov decretou o fim da doutrina Brezhnev, sob a qual a União Soviética reservava-se o direito de intervir militarmente em qualquer país aliado do bloco soviético.

    Diante dos protestos populares cada vez mais frequentes e a fuga em massa dos alemães orientais, o colapso da RDA parecia evidente até mesmo para Gorbatchov, que, pressionado pelos EUA, começou a rever sua posição quanto à unificação.

    Em 1990, ele aprovou até mesmo a entrada da Alemanha reunificada na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), considera inimiga da União Soviética.

    Golpe e colapso

    Descontentes com a onda de democratização, setores conservadores do Partido Comunista e das Forças Armadas dão um golpe na União Soviética em agosto de 1991. Eles prendem Gorbatchov e sua família até 21 de agosto.

    Diante da resistência do dirigente populista Boris Iéltsin, então presidente do Soviete Supremo da Federação Russa, e da mobilização da população de Moscou e Leningrado, atual São Petersburgo, o golpe fracassa. Iéltsin, contudo, sai fortalecido junto a outros reformistas.

    Gorbatchov reassume seu cargo, mas está irremediavelmente enfraquecido diante da população. Pouco depois de uma aliança inevitável com Iéltsin, ele renuncia ao Partido Comunista, seu Comitê Central e apoia as medidas que tiram do partido o controle sobre as forças da KGB e do Exército.

    Sem saída diante do contínuo esvaziamento das instituições soviéticas e da aliança promovida por Iéltsin com outros países do bloco, Gorbatchov renuncia em 25 de dezembro de 1991. No mesmo dia, a União Soviética deixa de existir. Em 1996, Gorbatchov concorreu a presidente da Federação Russa, mas ganhou apenas 1% dos votos. Iéltsin é eleito presidente.

    Gorbatchov, contudo, permanece ativo na vida pública russa como porta-voz e membro de várias instituições russas de estudo. Em 2006, ele se aliou ao russo bilionário e ex-legislador Aleksandr Lebedev para comprara quase metade do jornal independente "Novaya Gazeta", conhecido por seu desejo de mudança das políticas do Kremlin. Em 30 de setembro de 2008, o jornal anunciou que os dois criariam um novo partido político.

    Com Almanaque Abril e Enciclopedia Britannica

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