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    Após ser deposto, Saddam Hussein se escondeu por meses em sótão no Iraque

    DE SÃO PAULO

    31/08/2010 02h37

    O ex-ditador iraquiano Saddam Hussein comandou um regime de terror e violência contra seus inimigos e empreendeu guerras contra os países vizinhos. Cultuado como "grande dirigente" pelos sunitas e seus aliados, ele passou meses escondido em um sótão no Iraque após ser deposto. Após ser capturado pelas forças americanas, foi condenado à morte e enforcado.

    Veja cobertura completa sobre a retirada do Iraque

    Saddam nasceu em 28 de abril de 1937 no vilarejo de Al Awja, próximo à cidade de Tikrit (150 km de Bagdá), às margens do rio Tigre. Ficou órfão de pai e foi criado pelo tio materno. Ajudava a mãe como pastor, antes de se mudar para Bagdá na adolescência, onde iniciou sua vida política ainda aos 19 anos, ao se filiar ao partido socialista árabe Baath --banido após sua queda.

    Lazim Ali-91/Reuters
    Fotografia mostra o ditador Saddam Hussein na região de Anbar (Iraque), no fim da Guerra do Golfo
    Fotografia mostra o ditador Saddam Hussein na região de Anbar (Iraque), no fim da Guerra do Golfo

    Em 1958, passou seis meses na cadeia por práticas contra o regime monárquico. No ano seguinte, com uma república instaurada, foi acusado de participação no atentado contra o então primeiro-ministro Abdul Karim Qassim. Ferido em uma perna, fugiu para a Síria e para o Egito, onde reforçou suas ideias nacionalistas.

    No Egito, estudou direito na Universidade do Cairo, mas abandonou o curso em 1963 para voltar ao Iraque. Cinco anos depois, se formou advogado na Universidade de Bagdá. Saddam acumulou ainda os títulos de mestre em ciências militares e doutor honorário em direito pela Universidade de Bagdá.

    De volta ao país natal, rapidamente foi alçado ao grupo de liderança do Baath. O partido defende uma sociedade secular em um país de maioria muçulmana e pregava o pan-arabismo, uma reação aos colonizadores europeus que ocupavam o Oriente Médio.

    SADDAM E AS GUERRAS

    Em 1968, Saddam foi um dos líderes do golpe que depôs o governo, levou o Baath de volta ao poder e instaurou o Conselho do Comando Revolucionário, no qual ocupou o cargo de vice-diretor. Quatro anos depois, dirigiu a nacionalização das companhias de petróleo ocidentais em operação no país.

    Em 1979, tornou-se diretor do Comando Revolucionário e presidente do Iraque, após depor Ahmad Hassan Bakr. Sua primeira providência ao chegar ao poder foi exterminar mais da metade de seus opositores no comando do Baath.

    AP-04abr.03
    Dias depois da invasão americana, TV exibe imagem do ditador Saddam Hussein em Bagdá (Iraque)
    Dias depois da invasão americana, TV exibe imagem do ditador Saddam Hussein em Bagdá (Iraque)

    Seu governo investiu na formação de infraestrutura básica para o Iraque, como estradas, ferrovias e água encanada, e a introdução de programas sociais, especialmente na área de saúde. As medidas populistas praticamente dizimaram a oposição a seu regime entre a população --fato que era ampliado pela mão de ferro com que tratava opositores e políticas de incentivo a delações dentro das escolas e famílias.

    Ele usou extensivamente sua polícia secreta para reprimir qualquer oposição interna a seu governo, e se transformou em objeto de um amplo culto entre o público iraquiano. Seus objetivos como presidente eram suplantar o Egito como líder do mundo árabe e conseguir a hegemonia sobre o golfo Pérsico.

    Saddam lançou uma invasão de campos de petróleo do Irã em setembro de 1980, com apoio dos americanos, que queriam derrubar o regime do aiatolá Ruhollah Komeini. A guerra, contudo, começou a se arrastar até 1988, quando ambos os países decidiram assinar um cessar-fogo.

    O custo da guerra e da interrupção das exportações de petróleo forçou Saddam a reduzir seus ambiciosos programas de desenvolvimento econômico. Apesar da grande dívida externa, contudo, Saddam continuou a construir as suas forças armadas.

    INVASÃO DO KUAIT

    Em agosto de 1990, invadiu o Kuait --utilizando boa parte das armas cedidas pelos Estados Unidos na época da guerra com o Irã. A invasão foi motivada aparentemente pela reserva de petróleo do país vizinho, que Saddam queria usar para reviver a economia iraquiana.

    O Ocidente reagiu, impôs embargo de comércio e quando a medida fracassou, em janeiro de 1991, uma coalizão liderada por EUA e Reino Unido bombardeou Bagdá, dando início à Guerra do Golfo (1991). A soberania do Kuait foi restabelecida após seis semanas e a derrota iraquiana levou a revolta dos xiitas e dos curdos. Saddam resistiu com uma forte opressão e permaneceu no poder.

    Como resultado da invasão ao Kuait, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou uma resolução exigindo o desarmamento no Iraque incluindo armas químicas, biológicas e nucleares.

    QUEDA, FUGA E FORCA

    Pouco após os ataques de 11 de setembro de 2001, os EUA afirmam que o governo iraquiano poderia fornecer armas químicas ou biológicas a grupos terroristas e pediram a retomada do processo de desarmamento. Em novembro de 2002, a ONU alertou que o Iraque não cooperava com as inspeções por armas em seu país e os EUA decretaram o fim da diplomacia.

    Em 20 de março de 2003, o presidente dos EUA, George W. Bush, anunciou o início da Operação Liberdade Iraquiana e as forças militares invadem o Iraque. A justificativa foi a suposta existência de armas de destruição em massa no país --o que Bush admitiu anos depois ser um erro.

    Saddam, que prometeu "morrer no Iraque e preservar a honra de seu povo", fugiu rapidamente e passou quase nove meses foragido. Enquanto isso, suas estátuas foram derrubadas e seus retratos, destruídos. Seus filhos Qusay e Uday foram mortos três meses mais tarde, em um ataque das forças de ocupação contra seu esconderijo. Sua mulher e suas filhas fugiram do Iraque.

    AP
    Imagem da TV Al Jazeera mostra o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein momentos antes de sua execução
    Imagem da TV Al Jazeera mostra o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein momentos antes de sua execução

    Em 13 de dezembro de 2003, às 20h30 (15h30 no horário de Brasília), Saddam foi encontrado em um sótão em uma propriedade próxima ä cidade de Al Daur, cerca de 15 km ao sul de Tikrit, por uma força de quase 600 homens. Os EUA anunciaram a captura como histórica e se gabaram de não haver disparado nem um tiro.

    Após sua captura, o ex-ditador foi mantido preso em locais desconhecidos do Iraque, antes de ser transferido a uma prisão em uma das maiores bases americanas do país, perto do aeroporto de Bagdá.

    Em 5 de novembro do mesmo ano, Saddam foi condenados à forca por crimes de guerra pelo Tribunal Superior Penal do Iraque. Eles foi considerado culpado pela morte de 148 xiitas no povoado de Dujail, em 1982.

    O presidente Bush disse que Saddam obteve a justiça que negou às vítimas de seu brutal regime. Imagens de seu enforcamento circularam pela internet e houve duras críticas à brutalidade da pena.

    Se não tivesse sido enforcado, Saddam também seria julgado pela dura repressão a uma revolta xiita, em 1991, pelo ataque com gases contra curdos, em Halabja, em 1988 --que deixou 5.000 mortos-- e pela campanha contra aldeias curdas, que deixou 180 mil mortos.

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