O ex-ditador iraquiano Saddam Hussein comandou um regime de terror e violência contra seus inimigos e empreendeu guerras contra os países vizinhos. Cultuado como "grande dirigente" pelos sunitas e seus aliados, ele passou meses escondido em um sótão no Iraque após ser deposto. Após ser capturado pelas forças americanas, foi condenado à morte e enforcado.
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Saddam nasceu em 28 de abril de 1937 no vilarejo de Al Awja, próximo à cidade de Tikrit (150 km de Bagdá), às margens do rio Tigre. Ficou órfão de pai e foi criado pelo tio materno. Ajudava a mãe como pastor, antes de se mudar para Bagdá na adolescência, onde iniciou sua vida política ainda aos 19 anos, ao se filiar ao partido socialista árabe Baath --banido após sua queda.
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Fotografia mostra o ditador Saddam Hussein na região de Anbar (Iraque), no fim da Guerra do Golfo |
Em 1958, passou seis meses na cadeia por práticas contra o regime monárquico. No ano seguinte, com uma república instaurada, foi acusado de participação no atentado contra o então primeiro-ministro Abdul Karim Qassim. Ferido em uma perna, fugiu para a Síria e para o Egito, onde reforçou suas ideias nacionalistas.
No Egito, estudou direito na Universidade do Cairo, mas abandonou o curso em 1963 para voltar ao Iraque. Cinco anos depois, se formou advogado na Universidade de Bagdá. Saddam acumulou ainda os títulos de mestre em ciências militares e doutor honorário em direito pela Universidade de Bagdá.
De volta ao país natal, rapidamente foi alçado ao grupo de liderança do Baath. O partido defende uma sociedade secular em um país de maioria muçulmana e pregava o pan-arabismo, uma reação aos colonizadores europeus que ocupavam o Oriente Médio.
SADDAM E AS GUERRAS
Em 1968, Saddam foi um dos líderes do golpe que depôs o governo, levou o Baath de volta ao poder e instaurou o Conselho do Comando Revolucionário, no qual ocupou o cargo de vice-diretor. Quatro anos depois, dirigiu a nacionalização das companhias de petróleo ocidentais em operação no país.
Em 1979, tornou-se diretor do Comando Revolucionário e presidente do Iraque, após depor Ahmad Hassan Bakr. Sua primeira providência ao chegar ao poder foi exterminar mais da metade de seus opositores no comando do Baath.
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Dias depois da invasão americana, TV exibe imagem do ditador Saddam Hussein em Bagdá (Iraque) |
Seu governo investiu na formação de infraestrutura básica para o Iraque, como estradas, ferrovias e água encanada, e a introdução de programas sociais, especialmente na área de saúde. As medidas populistas praticamente dizimaram a oposição a seu regime entre a população --fato que era ampliado pela mão de ferro com que tratava opositores e políticas de incentivo a delações dentro das escolas e famílias.
Ele usou extensivamente sua polícia secreta para reprimir qualquer oposição interna a seu governo, e se transformou em objeto de um amplo culto entre o público iraquiano. Seus objetivos como presidente eram suplantar o Egito como líder do mundo árabe e conseguir a hegemonia sobre o golfo Pérsico.
Saddam lançou uma invasão de campos de petróleo do Irã em setembro de 1980, com apoio dos americanos, que queriam derrubar o regime do aiatolá Ruhollah Komeini. A guerra, contudo, começou a se arrastar até 1988, quando ambos os países decidiram assinar um cessar-fogo.
O custo da guerra e da interrupção das exportações de petróleo forçou Saddam a reduzir seus ambiciosos programas de desenvolvimento econômico. Apesar da grande dívida externa, contudo, Saddam continuou a construir as suas forças armadas.
INVASÃO DO KUAIT
Em agosto de 1990, invadiu o Kuait --utilizando boa parte das armas cedidas pelos Estados Unidos na época da guerra com o Irã. A invasão foi motivada aparentemente pela reserva de petróleo do país vizinho, que Saddam queria usar para reviver a economia iraquiana.
O Ocidente reagiu, impôs embargo de comércio e quando a medida fracassou, em janeiro de 1991, uma coalizão liderada por EUA e Reino Unido bombardeou Bagdá, dando início à Guerra do Golfo (1991). A soberania do Kuait foi restabelecida após seis semanas e a derrota iraquiana levou a revolta dos xiitas e dos curdos. Saddam resistiu com uma forte opressão e permaneceu no poder.
Como resultado da invasão ao Kuait, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou uma resolução exigindo o desarmamento no Iraque incluindo armas químicas, biológicas e nucleares.
QUEDA, FUGA E FORCA
Pouco após os ataques de 11 de setembro de 2001, os EUA afirmam que o governo iraquiano poderia fornecer armas químicas ou biológicas a grupos terroristas e pediram a retomada do processo de desarmamento. Em novembro de 2002, a ONU alertou que o Iraque não cooperava com as inspeções por armas em seu país e os EUA decretaram o fim da diplomacia.
Em 20 de março de 2003, o presidente dos EUA, George W. Bush, anunciou o início da Operação Liberdade Iraquiana e as forças militares invadem o Iraque. A justificativa foi a suposta existência de armas de destruição em massa no país --o que Bush admitiu anos depois ser um erro.
Saddam, que prometeu "morrer no Iraque e preservar a honra de seu povo", fugiu rapidamente e passou quase nove meses foragido. Enquanto isso, suas estátuas foram derrubadas e seus retratos, destruídos. Seus filhos Qusay e Uday foram mortos três meses mais tarde, em um ataque das forças de ocupação contra seu esconderijo. Sua mulher e suas filhas fugiram do Iraque.
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Imagem da TV Al Jazeera mostra o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein momentos antes de sua execução |
Em 13 de dezembro de 2003, às 20h30 (15h30 no horário de Brasília), Saddam foi encontrado em um sótão em uma propriedade próxima ä cidade de Al Daur, cerca de 15 km ao sul de Tikrit, por uma força de quase 600 homens. Os EUA anunciaram a captura como histórica e se gabaram de não haver disparado nem um tiro.
Após sua captura, o ex-ditador foi mantido preso em locais desconhecidos do Iraque, antes de ser transferido a uma prisão em uma das maiores bases americanas do país, perto do aeroporto de Bagdá.
Em 5 de novembro do mesmo ano, Saddam foi condenados à forca por crimes de guerra pelo Tribunal Superior Penal do Iraque. Eles foi considerado culpado pela morte de 148 xiitas no povoado de Dujail, em 1982.
O presidente Bush disse que Saddam obteve a justiça que negou às vítimas de seu brutal regime. Imagens de seu enforcamento circularam pela internet e houve duras críticas à brutalidade da pena.
Se não tivesse sido enforcado, Saddam também seria julgado pela dura repressão a uma revolta xiita, em 1991, pelo ataque com gases contra curdos, em Halabja, em 1988 --que deixou 5.000 mortos-- e pela campanha contra aldeias curdas, que deixou 180 mil mortos.