Especialistas em segurança aérea da União Europeia (UE) analisarão nesta sexta-feira em Bruxelas as ameaças terroristas registradas nos últimos dias, após a localização de um pacote com explosivos em um avião de carga no Reino Unido e a interceptação de outros artefatos dirigidos a líderes europeus.

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A reunião foi convocada nesta semana pela Comissão Europeia (CE), pouco depois de serem divulgados os alertas terroristas. A meta é discutir as regras básicas para os aeroportos europeus com o fim de melhorar a segurança no transporte de cargas.

Embora não esteja previsto que sejam aprovadas modificações das normas de segurança aérea, não se descarta que alguma iniciativa seja proposta para o próximo Conselho de Ministros de Justiça e Interior da UE, nos dias 8 e 9 de novembro, segundo fontes do bloco europeu.

A porta-voz de Interior da UE, Michele Cercone, reiterou esta semana que tanto a União Europeia como os Estados Unidos, aliados na luta antiterrorista desde 11 de setembro de 2001, empregam "controle severo na segurança aérea".

No entanto, a porta-voz afirmou que "a ameaça terrorista continua existindo" desde o ataque às Torres Gêmeas e os sucessivos atentados em Londres e Madri e, por isso, "convém manter atenção".

No dia 7 de outubro, depois que as autoridades dos EUA alertaram seus cidadãos sobre a crescente ameaça terrorista na UE, o bloco europeu decidiu padronizar suas escalas de alerta e cooperar mais estreitamente com Washington para combater o terrorismo.

Além disso, a UE e os EUA fizeram um acordo para encontrar fórmulas que melhorem a comunicação dos alertas de atentados para não alarmar inutilmente a população.

ACORDO

Ainda na quarta-feira (3) o presidente Barack Obama e seu colega iemenita Ali Abdallah Saleh anunciaram um acordo para reforçar a segurança aérea.

"Para intensificar a segurança de nossos dois países, os presidentes Obama e Saleh chegaram a um acordo em que devem ser tomadas todas as medidas necessárias para garantir a segurança do transporte aéreo, tanto de passageiros como de carga", assinalou John Brennan, assessor contra o terrorismo do presidente Obama, em um comunicado.

Os dois presidentes mantiveram uma conversa por telefone na terça-feira, quando Obama "insistiu sobre a necessidade do Iêmen reforçar a confiança no setor de carga aérea endurecendo as medidas de segurança", segundo a Casa Branca.

Dois pacotes-bombas postados em Sanaa, capital iemenita, com destino aos Estados Unidos foram interceptados na sexta-feira passada nos aeroportos de Dubai e de East Midlands, no centro da Inglaterra.

JULGAMENTO

Na terça-feira (2) o Iêmen deu início ao julgamento à revelia do imã radical Anuar al Aulaqi, enfrentando a Al Qaeda quatro dias depois da interceptação de pacotes com explosivos com destino aos EUA pelo braço iemenita da rede terrorista, segundo Washington. No sul do país, a explosão de um oleoduto também foi atribuída ao grupo.

O tribunal especializado em assuntos terroristas de Sanaa acusou o suposto autor do assassinato de um francês, no dia 6 de outubro, de envolvimento com o imã americano-iemenita Aulaqi, que desta forma é acusado pela primeira vez pela Justiça do Iêmen.

23.out.2010AFP

Reprodução de vídeo mostra o americano-iemenita Anuar al Aulaqi; imã é réu em julgamento iniciado nesta terça no Iêmen

Hisham Assem, acusado de ter matado o francês Jacques Spagnolo, compareceu perante o tribunal. Já Aulaqi e um membro de seu família estão sendo julgados à revelia. Aulaqi foi acusado "de incitação ao assassinato de ocidentais e de membros dos serviços de segurança".

De acordo com a ata de acusação, o réu enviou "durante meses" mensagens eletrônicas a Assem, que trabalha como vigia de uma empresa austríaca, pedindo que matasse estrangeiros.

Os três também são acusados de "formar um grupo armado com objetivos criminosos e incitar a fazer estrangeiros e membros das forças de segurança de alvos, em nome da Al Qaeda".

Jacques Spagnolo, contratado pela empresa francesa Spie, do grupo energético austríaco OMV, foi assassinado a tiros na sede do grupo, perto de Sanaa. Um escocês, responsável pela segurança da OMV, foi ferido no tiroteio.

PROCURADO

Aulaqi, que aparentemente se refugiou em uma das zonas tribais do Iêmen, figura em uma lista de Washington de alvos a eliminar.

Ele é conhecido por ter mantido correspondência com o americano Nidal Hassan, acusado pelo tiroteio que deixou 13 mortos em novembro de 2009 na base militar de Fort Hood (Texas).

Além disso, é suspeito de envolvimento no atentado frustrado cometido pelo nigeriano Umar Faruk Abdulmutallab, que tentou explodir um avião americano que ia de Amsterdã a Detroit (EUA) no Natal de 2009.

O julgamento começa quatro dias depois da descoberta, no dia 29 de outubro, de dois pacotes com explosivos em aeroportos de Dubai e do Reino Unido, ambos despachados de Sanaa e destinados a centros judaicos da cidade de Chicago, nos EUA.

As autoridades americanas atribuíram a tentativa de ataque à Al Qaeda e fizeram um apelo ao governo iemenita por uma cooperação mais estreita na luta antiterrorista.

NOVAS MEDIDAS

O Iêmen reforçou uma série de medidas de segurança nos aeroportos e fechou os escritórios das companhias FedEx e UPS, utilizadas para o envio dos pacotes. Várias prisões também foram feitas nos últimos dias.

Sanaa, no entanto, lamentou a decisão da Alemanha de proibir voos de passageiros e de carga para o país, afirmando que a medida é uma "punição coletiva" aos cidadãos.

"O Iêmen expressa sua tristeza e surpresa pela decisão da Alemanha, país com o qual mantemos boas relações de amizade e cooperação, de proibir todos os voos" para os aeroportos iemenitas, indicou um porta-voz do governo.

"Os aliados do Iêmen poderiam se colocar a seu lado para reforçar seus esforços para vencer o terrorismo, ao invés de recorrer a decisões que só podem ser comparadas a uma punição coletiva", destacou.

Ontem (1º), o governo alemão decidiu estender aos voos de passageiros a proibição estabelecida para os voos de carga provenientes do Iêmen.

"O Iêmen é um dos países que mais sofreram por causa dos atos terroristas (...), com danos consideráveis para sua economia, sobretudo para o turismo e os investimentos", acrescentou o porta-voz.

RESTRIÇÕES

Desde a última sexta-feira, quando as bombas foram encontradas, governos, empresas aéreas e autoridades de aviação ao redor do mundo estão revendo suas regras de segurança nesta segunda-feira após dois pacotes-bomba terem sido enviados de avião do Iêmen para os EUA.

O governo britânico anunciou ontem a suspensão de voos de carga provenientes da Somália, por causa de "possíveis contatos entre a Al Qaeda no Iêmen e grupos terroristas na Somália".

Arte/Folha

O Reino Unido também proibiu a importação de grandes cartuchos para impressoras na bagagem de mão por pelo menos um mês, além de seu envio por transporte de cargas de e para o país, a menos que se use um transportador credenciado pelo governo.

O Reino Unido e a França já anunciaram a suspensão de todos os voos de carga vindos do Iêmen. Voos diretos de passageiros do Iêmen para o Reino Unido já estavam suspensos. A Alemanha suspendeu voos de carga e passageiros partindo de solo iemenita. Empresas aéreas de transporte de carga também suspenderam operações no país.

As autoridades do Iêmen decretaram nesta segunda-feira a aplicação de medidas "excepcionais" de registro de todas as cargas que saem do país.

Os EUA enviaram uma equipe de investigadores ao Iêmen para ajudar nas buscas pelos suspeitos e para treinar os funcionários do aeroporto de Sanaa a inspecionar as cargas.

Uma unidade da Administração de Segurança dos Transportes dos EUA vai fornecer um novo equipamento de triagem por vídeo e ajudar com cargas partindo do Iêmen, disse o chefe do órgão, John Pistole.

Os EUA vão fornecer US$ 300 milhões em ajuda militar, humanitária e de desenvolvimento ao Iêmen este ano, segundo o coordenador de combate ao terrorismo do Departamento de Estado, Daniel Benjamin. Cerca de metade dos recursos vão para equipamentos militares e treinamento, incluindo cerca de 50 treinadores de operações especiais para equipes iemenitas.

EXPLOSIVO

O braço da Al Qaeda no Iêmen tornou-se o principal suspeito pelo plano de ataque terrorista por causa do uso do explosivo trinitrato de pentaeritritol (PETN), o mesmo usado em uma tentativa de ataque a avião no Natal do ano passado.

Efe

Fayfi revelou à Arábia Saudita os códigos de rastreamento dos pacotes que continham bombas enviadas aos EUA

Hoje, autoridades do Iêmen revelaram que o último plano só foi frustrado graças às informações vazadas por um ex-membro da Al Qaeda. Jabir al Fayfi, um militante saudita que tinha ingressado na Al Qaeda no Iêmen, se entregou à Arábia Saudita no mês passado e revelou os planos da organização

Uma autoridade americana disse que o fabricante de bombas saudita Ibrahim Hassan al Asiri, que se suspeita trabalhar para o braço da Al Qaeda no Iêmen, é um suspeito-chave.

Cameron disse no sábado que a bomba encontrada no Reino Unido foi planejada para explodir uma aeronave no ar.

A bomba estava escondida em uma impressora da HP e continha 400 gramas de explosivos; já a bomba encontrada em Dubai continha 300 gramas, disse uma fonte do governo alemão em anonimato nesta segunda-feira. O mecanismo de detonação era bastante sofisticado, disse ele. A bomba da tentativa de ataque frustrado no Natal tinha 80 gramas de PETN.

CALCANHAR DE AQUILES

Os acontecimentos mostram brechas de segurança no transporte de cargas que podem pôr em risco a vida de passageiros. A Qatar Airways confirmou que o pacote de Dubai foi transportado em um de seus voos de passageiros partindo da capital iemenita, Sanaa, com escala em Doha.

Regras de segurança mais rígidas para o transporte internacional de cargas aéreas poderiam prejudicar o comércio e a economia mundial.

"Transporte de carga aéreo ainda é considerado o calcanhar de Aquiles da indústria da aviação", disse o especialista Chris Yates à TV BBC.

As empresas de carga já entraram em choque com legisladores americanos e europeus no ano passado devido aos pedidos de escanear 100% dos contêineres marítimos. Planos para introduzir a inspeção completa a partir de 2012 foram adiados.

Um especialista em segurança israelense disse que seria "quase impossível" detectar as bombas enviados do Iêmen usando equipamentos de raio-x convencionais.
"A estrutura de uma impressora é tão densa que é muito difícil notar explosivos ou um detonador por meio de uma tela de vídeo", disse Yuval Amsterdam, da Tamar Explosive Simulants Technologies.