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    Retórica belicosa do Egito esquenta debate sobre barragem etíope no Nilo

    DA REUTERS, NO CAIRO

    10/06/2013 19h53

    O Egito não quer travar uma guerra com a Etiópia, mas vai manter "todas as opções em aberto", disse nesta segunda-feira o presidente egípcio, Mohamed Mursi, esquentando uma disputa sobre uma barragem gigante que o governo etíope está construindo no rio Nilo.

    Em discurso televisionado a seguidores islâmicos no Cairo, Mursi disse compreender as necessidades dos países mais pobres na bacia do Nilo, mas usou linguagem emotiva para dizer que os egípcios não vão aceitar qualquer redução no fluxo de água do rio que foi base de sua civilização por milênios.

    "Não somos defensores da guerra, mas nunca iremos permitir que a nossa segurança de [obter] água seja ameaçada", disse o presidente.

    A retórica belicosa, inclusive falar de uma ação militar por políticos egípcios na semana passada, elevou as preocupações com uma "guerra de água" entre o segundo e o terceiro países mais populosos da África.

    Mas Mursi, para quem a disputa oferece uma oportunidade para reunir os egípcios depois de um primeiro ano de divisão no poder, também pareceu deixar espaço para concessões.

    Ele não renovou um apelo, categoricamente rejeitado pela Etiópia na semana passada, para interromper as obras da barragem, mas disse que era necessário um estudo mais aprofundado sobre o seu impacto.

    Descrevendo a Etiópia como um "Estado amigo", ele disse que o Egito estava buscando todos os caminhos políticos e diplomáticos para uma solução.

    NEGOCIAÇÃO

    O ministro das Relações Exteriores egípcio deve visitar a Etiópia para discutir o projeto da maior usina hidrelétrica da África. Anunciada há dois anos, os engenheiros fizeram um notável avanço no mês passado.

    "A segurança hídrica do Egito não pode ser violada de qualquer maneira", disse Mursi. "Como chefe de Estado, eu confirmo a vocês que todas as opções estão em aberto."

    Baseando-se em uma antiga canção egípcia sobre o Nilo, ele disse: "Se ele (o rio) diminuir uma gota, em seguida, nosso sangue é a alternativa."

    Ele acrescentou que o Cairo não tinha nenhuma objeção a "projetos de desenvolvimento nos Estados da bacia do Nilo, mas com a condição de que esses projetos não afetem ou prejudiquem os direitos legais e históricos do Egito".

    O Egito, cuja a crescente população de 84 milhões de habitantes usa quase a totalidade do que é fornecido pelo Nilo, se defende citando tratados da época colonial que lhe garantem a maior parte da água. A Etiópia, o segundo Estado mais populoso da África, diz que essas reivindicações estão desatualizadas.

    Outros Estados africanos a sul da fronteira histórica do mundo árabe, como Uganda, Quênia, Tanzânia, Burundi, Ruanda e República Democrática do Congo, também estão ansiosos para desenvolver os recursos hídricos da bacia do Nilo.

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