O presidente John Fitzgerald Kennedy liderou sua nação no momento em que Cuba levou a tensão da Guerra Fria até a soleira dos Estados Unidos e deixou como legado 50 anos de relações congeladas entre Washington e Havana.
Da invasão à Baía dos Porcos, em 1961, até a Crise dos Mísseis, em 1962, os americanos estiveram em estado de alerta total com a ameaça comunista cada vez mais próxima e concreta de lançamento de ogivas nucleares.
Embora Kennedy seja associado à invasão e à crise subsequente, foram seu predecessor Dwight Eisenhower e o então diretor da Agência Central de Inteligência americana (CIA), Allen Dulles, que formularam planos para uma intervenção militar por parte de cubanos exilados.
A chamada invasão à Baía dos Porcos seria o gatilho para a dramática crise. Após assumir a Casa Branca, em janeiro de 1961, Kennedy deu sinal verde para o plano, sob a condição de que não envolvesse presença americana direta em campo.
Depois de serem treinados na Guatemala, cerca de 1.400 cubanos exilados desembarcaram, em 17 de abril de 1961, nas praias da Baía dos Procos, menos de 200 quilômetros ao sudeste de Havana. O objetivo final era deter o líder Fidel Castro e derrubar seu governo.
A invasão foi um desastre completo por terra e pelo ar. Bombardeiros americanos lançaram um ataque ineficiente, enquanto jatos T-33 usados por Fidel atingiram dois bombardeiros americanos B-26. Quatro pilotos morreram.
VAZAMENTO
O ataque surpresa em solo foi facilmente frustrado depois dos vazamentos desses planos para Cuba, e milhares de milicianos liderados por Fidel "saudaram" as forças invasoras. Uma luta acirrada durou dois dias até que os exilados cubanos jogaram a toalha em 19 de abril.
O saldo das fileiras invasoras foi de 1.189 prisioneiros e 107 mortos, contra as 161 vítimas fatais nas forças castristas.
Os detentos foram exibidos na televisão. Cinco oficiais foram executados, e nove condenados a 30 anos de prisão. Os demais conseguiram ser libertados em dezembro de 1962, em troca de US$ 53 milhões para comida e remédios.
"A invasão foi um dos maiores erros estratégicos dos Estados Unidos no século XX, reforçando o controle de Castro sobre Cuba, garantindo a permanência de sua revolução e ajudando a dirigi-lo para o lado soviético", afirmou o historiador Richard Gott.
No ano seguinte, a Crise dos Mísseis demonstraria, claramente, a força da relação de Cuba com a extinta União Soviética.
PRESSÃO SOBRE CUBA
Em fevereiro, Washington apertou o embargo econômico contra Cuba, e a CIA continuou a elaborar planos anticastristas para desestabilizar Cuba dentro da Operação "Mongoose" (Mangusto, em português).
Diante disso, Fidel se volta para Moscou para garantir proteção, e um encantado Nikita Krushchev consegue convencê-lo de que mísseis fixados nos Estados Unidos seriam um melhor elemento de dissuasão do que um acordo militar. Em outubro de 1962, aviões espiões americanos localizam novos mísseis.
Não podendo tolerar a presença de um arsenal nuclear soviético a apenas 150 quilômetros do solo americano, Kennedy alertou Krushchev sobre a possibilidade de um ataque iminente, se os armamentos não fossem removidos.
A Crise dos Mísseis atingiu seu ápice de tensão entre 14 e 27 de outubro, com pico no dia 22, quando Washington determinou um bloqueio naval a Cuba e a mobilização de 140 mil homens. Já Castro mobilizou um efetivo de 400 mil, no caso de uma invasão americana.
Sem consultar o líder cubano, em 28 de outubro, Krushchev recuou e concordou com a remoção dos mísseis, sob a condição de os Estados Unidos não invadirem Cuba. Também secretamente, Moscou negociou a retirada de mísseis americanos da Turquia.
O acordo prejudicou os planos de Fidel, que incluíam negociar o fim do embargo americano à ilha, assim como das atividades anticastristas; a interrupção das violações do espaço aéreo; e o fechamento da base militar americana na baía de Guantánamo.
Os Estados Unidos não conseguiram evitar, porém, que Cuba e a então URSS mantivessem uma parceria por quase 30 anos, depois que Washington abandonou suas ambições militares em relação à ilha.