Tropas pró-Rússia tomaram nesta segunda-feira o controle de um terminal de balsas que liga a Ucrânia com a Rússia em Kerch no leste da Crimeia intensificando os temores de que Moscou vai enviar ainda mais tropas para a região estratégica do mar Negro.
Os soldados, que falavam russo, passaram a operar o terminal que serve como ponto de partida para Rússia. Segundo a agência Associated Press, os EUA acreditam que a Rússia já tenha controle sobre a Crimeia, com mais de 6 mil soldados na região e que agora os temores são de que o governo do presidente Vladimir Putin resolva expandir seu controle para outras regiões da Ucrânia.
Segundo o Ministério da Defesa, a Força Aérea ucraniana teria identificado jatos de combate russo Sukhoi SU-27 que teriam invadido o espaço aéreo da Ucrânia na região do mar Negro durante a noite, informou nesta segunda-feira a agência de notícias Interfax.
Embora tenha maioria étnica russa, a Crimeia é uma região autônoma pertencente à vizinha Ucrânia que não reconhece o governo interino do Kiev.
Após a queda do ex-presidente Viktor Yanukovich, em 22 de fevereiro, a população das regiões leste e sul do país foi às ruas para protestar contra o que consideram um golpe de Estado. A Rússia, aliada de Yanukovich e com interesses na região, apoia esse movimento.
A ex-república soviética é rota de diversos gasodutos que transportam o gás russo para a Europa. Além disso, a Rússia mantém uma base militar estratégica na Crimeia.
O primeiro-ministro da Ucrânia, Arseni Yatseniuk, pediu ao Ocidente apoio político e econômico e disse que a Crimeia vai continuar a ser parte do país, mas admitiu que há a possibilidade de ações militares.
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RÚSSIA ACUSA UCRÂNIA
Em mais um dia de troca de acusações entre ocidente e Rússia, o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, acusou nesta segunda-feira no Conselho de Direitos Humanos da ONU o novo governo da Ucrânia de atacar as minorias que falam russo.
"Os extremistas seguem controlando as cidades. Ao invés de cumprirem o que prometeram, criou-se um governo dos vencedores, tomaram uma decisão no parlamento para reduzir os direitos das minorias linguísticas. Eles querem castigar a língua russa, os vencedores têm a intenção de utilizar os frutos de suas vitórias para atacar os direitos humanos", disse Lavrov ao defender a instauração de unidades de autodefesa para proteger as minorias russas.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, respondeu que irá pedir a Lavrov para evitar discursos que possam aumentar a escalada de violência na Ucrânia.
PRESSÃO DIPLOMÁTICA
Os países ocidentais aumentavam a pressão nesta segunda-feira para encontrar uma saída diplomática com a Rússia, acusada pela Ucrânia de ter optado pela guerra depois que comandos pró-russos se apoderaram da Península da Crimeia.
A crise, uma das mais graves entre Moscou e o Ocidente desde o fim da Guerra Fria, provocava quedas nas bolsas (a de Moscou operava em baixa de mais de 5%), assim como altas no preço do petróleo.
O secretário americano de Estado, John Kerry, anunciou que visitará Kiev na terça-feira, para "reiterar o forte apoio dos Estados Unidos à soberania, independência e integridade territorial da Ucrânia", indicou a porta-voz do departamento de Estado, Jen Psaki, em um comunicado.
O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, convocou a Rússia a reconsiderar, diante do que avaliou como "a maior crise na Europa no século 21".
Hague e seu colega grego, Evangelos Venizelos, cujo país ocupa a presidência rotativa da União Europeia (UE), se reunirão na terça-feira com as novas autoridades ucranianas, depois da destituição de Yanukovich pelo Parlamento ucraniano.
No domingo, os líderes do G-7 de países mais industrializados condenaram a clara violação da soberania da Ucrânia por parte de Moscou e anunciaram a suspensão de seus preparativos visando a cúpula do G-8 (G-7+Rússia) em Sochi (Rússia) em junho.
Já a Otan pediu que Kiev e Moscou cheguem a uma "solução pacífica" da crise através do diálogo e "a mobilização de observadores internacionais", segundo seu secretário-geral, Anders Fogh Rasmussen.
"A Rússia não quer a guerra com a Ucrânia", respondeu no domingo o vice-chanceler russo, Grigori Karasin.