Pouco mais de uma semana após a queda do presidente Viktor Yanucovich, dezenas de ucranianos permanecem na praça da Independência em Kiev, palco dos recentes protestos, mas agora com um outro inimigo número um: o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Os manifestantes acompanham à distância a crise na região da Crimeia, península autônoma ucraniana que começou a sofrer invasão de tropas russas desde semana passada.
Nesta segunda-feira, a Rússia teria lançado um ultimato para que as forças da Ucrânia se rendam na Crimeia, segundo fontes do governo russo disseram à agência Interfax.
Eles também teriam exigido que a tripulação de dois navios de guerra ucranianos se entregassem imediatamente ou os navios seriam tomados a força, de acordo com Maksim Prauta, o porta-voz do Ministério da Defesa ucraniano.
O comandante da frota russa no mar Negro, no entanto, negou que haja algum plano de assalto às unidades militares da Ucrânia na Crimeia e classificou de "bobagens" as informações a respeito, segundo a Interfax.
Ninguém admite publicamente, mas o discurso anti-Rússia em Kiev se mistura também a um temor diante de um inimigo bem mais poderoso do ponto de vista militar. Não à toa, os movimentos de invasão de tropas russas na região da Crimeia têm merecido muito mais respostas políticas do que de resistência.
Militantes anti-Yanukovich, e ao mesmo tempo anti-Rússia, mantêm o discurso contra o Putin na praça da Independência - uma faixa com a imagem dele, por exemplo, reproduz chifres, numa alusão ao capeta.
Nas ruas centrais de Kiev visitadas pela Folha nesta segunda, a situação aparenta uma certa tranquilidade, apesar de dezenas de barricadas instaladas e manifestantes ainda acampados.
No palco principal da praça, militantes usam o microfone para atacar Putin e os aliados do ex-presidente Yanukovich. Outros preservam uma espécie de tributo em homenagem às dezenas de mortos durante as recentes manifestações que derrubaram o governo.
Nesta segunda, tropas russas tomaram um terminal de balsas que liga a Rússia ao leste da Crimeia. Além disso, o governo de Kiev teria interceptado aviões russos no espaço aéreo ucraniano.
Informações do governo dos EUA dão conta de que as tropas de Moscou já teriam o domínio da região.
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O novo governo ucraniano aposta na visita do secretário de Estado americano, John Kerry, a Kiev nesta terça para uma saída no jogo militar contra os russos.
Kerry desembarca nesta noite na capital ucraniana depois de o presidente Barack Obama condenar os recentes movimentos de invasão de tropas russas na região da Crimeia, onde a maioria da população fala russo.
Líderes europeus já tentaram, sem sucesso, controlar esses movimentos de Putin em território ucraniano.
O dirigente russo, pivô da crise que levou a queda de seu aliado Yanukovich, tem alegado que é preciso defender os interesses dos russos que vivem na Crimeia, não se mostrando disposto a recuar.