Apesar da ampla derrota sofrida ontem pela esquerda no segundo turno das eleições francesas e da consolidação da extrema-direita do partido Frente Nacional (FN) como força política em ascensão, o Partido Socialista (PS) pode comemorar a vitória em Paris.
Filha de imigrantes espanhóis, feminista e discreta burocrata do PS, Anne Hidalgo será, aos 54 anos, a primeira mulher a comandar a capital francesa, substituindo o também socialista Bertrand Delanoë.
Hidalgo obteve 53,34% dos votos no segundo turno das eleições municipais, desbancando sua rival, a candidata pelo partido de direita União por um Movimento Popular (UMP) Nathalie Kosciusko-Morizet, que teve 44,06% dos votos.
Benoit Tessier/Reuters |
Anne Hidalgo, a recém eleita prefeita de Paris, salvou os socialistas de derrota esmagadora |
"Ela salvou a honra da esquerda", disse Delanoë, no cargo desde 2001.
Braço direito de Delanoë, Hidalgo terá o desafio de dirigir uma cidade de 2,2 milhões de habitantes, centro de todos os poderes da França e principal ponto turístico do mundo.
Hidalgo vai entrar para o grupo, ainda muito restrito, de mulheres à frente das grandes cidades mundiais. Ela vai se unir, por exemplo, à Ana Botella, prefeita de Madri, e Carolina Toha, prefeita de Santiago.
Uma "bolha" comparada ao restante da França, como disse diversas vezes Hidalgo, Paris e seus milhões de habitantes ficaram de fora da "onda azul" de rejeição à política do governo socialista, muito impopular em todo o país.
ESPANHOLA
Nascida em 19 de junho de 1959 em San Fernando, na região espanhola da Andaluzia, sob a ditadura de Francisco Franco e naturalizada francesa aos 14 anos, Hidalgo morou em Lyon antes de mudar-se, em 1984, para Paris.
Formada em direito social, ela entra para o PS em 1994, incentivada pelo rigor moral do então candidato socialista às eleições presidenciais, Lionel Jospin.
Durante a campanha eleitoral, Hidalgo teve que enfrentar brincadeiras sobre sua origem ao ser chamada de "zeladora" pelos simpatizantes da direita. A brincadeira preconceituosa faz referência aos espanhóis que ocupavam, em meados do século 20, os cargos de zelador dos prédios da capital francesa. A referência é uma clara comparação às origens de sua concorrente, Kosciusko-Morizet, neta de embaixador e bisneta de um dos fundadores do Partido Comunista francês.
Hidalgo batalhou para conseguir um lugar ao sol no PS. "Conquistar autoridade, legitimidade, lutar no seu próprio meio, isso é o mais difícil", disse a prefeita eleita de Paris em entrevista ao jornal francês de esquerda "Libération".
À frente da prefeitura de Paris, Anne Hidalgo promete levar adiante o trabalho iniciado por Delanoë. Ela promete criar 10 mil novas moradias, 5.000 vagas a mais nas creches e acesso mais fácil aos serviços de saúde. Outras promessas de campanha são não aumentar os impostos e melhorar a política de segurança.
Hidalgo, que esteve à frente da pasta de urbanização durante os anos Delanoë, chama para si o sucesso do "Vélib'", programa de livre acesso a bicicletas, copiado maciçamente por outras capitais do mundo. Ela diz querer fazer de Paris uma "cidade do mundo", "inovadora e criadora de empregos, uma cidade ecologicamente correta onde é possível se locomover à pé ou de bicicleta".